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Estudo encontra microplástico em mais de 60 amostras de placentas humanas

Por Redação Revista Galileu – 21 de fevereiro de 2024 – Pesquisa aponta que o polietileno, utilizado para fazer sacolas plásticas e garrafas, representa 54% do total de plásticos encontrados nas amostragens. Foto:  Estudo encontra microplástico em mais de 60 amostras de placentas humanas — Foto: Daniel Reche por Pixabay.

Uma pesquisa publicada no último dia 17 de fevereiro na revista Toxicological Sciences relatou ter encontrado microplásticos em 62 amostras de placentas.

As concentrações dessas partículas de até 1 milímetro de tamanho variam de 6,5 a 790 microgramas por grama de tecido.

O estudo evidenciou que existem microplásticos em tudo que as pessoas consomem — desde água engarrafada até carne e vegetais.

A equipe da pesquisa foi liderada por Matthew Campen, doutor e professor de Regentes no Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade do Novo México (UNM).

Campen está preocupado com os efeitos do microplástico na saúde humana, considerando o aumento cada vez maior dessas partículas no meio ambiente.

“Se a dose continuar subindo, começamos a nos preocupar. Se observarmos efeitos nas placentas, então toda a vida dos mamíferos neste planeta poderá ser afetada. Isso não é bom”, afirma o toxicologista, em comunicado.

O estudo foi realizado pela equipe de Campen, conjuntamente com cientistas da Faculdade de Medicina Baylor e da Universidade Estadual de Oklahoma, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores usaram uma nova ferramenta analítica para medir os microplásticos presentes nas amostras de placenta.

Os especialistas analisaram o tecido doado e trataram quimicamente as amostras em um processo chamado “saponificação”, no qual a gordura e as proteínas são “digeridas” em uma espécie de sabão.

Em seguida, cada amostra foi centrifugada, o que deixou uma pequena porção de pepita de plástico no fundo do tubo.

Após esse processo, eles utilizaram uma técnica chamada pirólise, que consiste em quebrar moléculas pela ação do calor.

Para esta técnica, eles colocaram a pepita de plástico em um copo de metal e o aqueceram a 600ºC.

Posteriormente, à medida que diferentes tipos de plásticos queimavam em temperaturas específicas, eles capturaram as emissões dos gases.

“A emissão de gás vai para um espectrômetro de massa e fornece uma impressão digital específica”, explica Campen.

Os resultados da pesquisa apontaram que no tecido placentário o polímero mais prevalente era o polietileno, usado para fazer sacolas plásticas e garrafas: este é responsável por 54% do total de plásticos encontrados.

Já o cloreto de polivinila, popularmente conhecido como PVC, e o náilon, representaram, cada um, cerca de 10% do total.

O restante da porcentagem foi composta por outros nove polímeros.

Normalmente, os pesquisadores simplesmente contariam o número de partículas visíveis no microscópio, mesmo que algumas partículas fossem muito pequenas para serem vistas.

Entretanto, com o novo método analítico é possível calcular a quantidade de microplástico presente no tecido humano.

Marcus Garcia, pós-doutorado no laboratório de Campen que realizou muitos dos experimentos, disse que a quantificação tem sido difícil.

Porém, com o novo método, ele relata que “podemos dar o próximo passo para sermos capazes de quantificá-lo adequadamente e dizer: Isso é quantos microgramas ou miligramas, dependendo dos plásticos que temos”.

Desde o início da década de 1950, o uso de plástico tem crescido exponencialmente, gerando uma tonelada de resíduos para cada pessoa no planeta.

Cerca de um terço do material produzido ainda está em uso, mas a maioria dos dois terços restantes foi descartada ou enviada para aterros sanitários – onde a matéria se decompõe devido à exposição da radiação UV presente na luz do Sol.

“Isso acaba nas águas subterrâneas e, às vezes, aerossoliza e acaba no nosso meio ambiente. Não o obtemos apenas por ingestão, mas também por inalação. Não afeta apenas a nós humanos, mas também a todos os nossos animais – galinhas, gado – e todas as nossas plantas. Estamos vendo isso em tudo”, disse Garcia.

Campen ressalta que muitos plásticos possuem uma longa meia-vida — quantidade de tempo necessário para que uma substância seja degradada pela metade.

“Portanto, a meia-vida de algumas coisas é de 300 anos e a meia-vida de outras é de 50 anos, mas entre agora e 300 anos parte desse plástico se degrada”, ele explica.

“Esses microplásticos que vemos no meio ambiente têm provavelmente 40 ou 50 anos”.

Efeitos na saude

Embora exista uma quantidade de microplásticos no corpo das pessoas, ainda não está claro se existem efeitos para a saúde.

Convencionalmente, presume-se que os plásticos sejam inertes biologicamente, mas alguns microplásticos muito pequenos, medidos em nanômetros (um bilionésimo de metro) podem ter a capacidade de atravessar membranas celulares, de acordo com Campen.

O toxicologista acrescenta que o teor de concentração de microplásticos nos tecidos humanos podem explicar o aumento de alguns problemas de saúde.

Entre eles, estão doenças inflamatórias, intestinais e cancro de cólon em pessoas com menos de 50 anos, além da diminuição da contagem de esperma.

Campen relata que a concentração de microplásticos nas placentas é muito preocupante, pois o tecido só cresce por oito meses e começa a se formar após cerca de um mês na gravidez.

“Outros órgãos do seu corpo estão se acumulando durante períodos de tempo muito mais longos”, ele observa.

Os pesquisadores estão realizando mais estudos sobre o tema, porém estão preocupados com a crescente produção de plástico em todo o mundo.

“Está apenas piorando e a trajetória é que dobrará a cada 10 a 15 anos”, diz o especialista.

“Portanto, mesmo que parássemos com isso hoje, em 2050 haverá três vezes mais plástico no fundo do que há agora. E não vamos parar com isso hoje”.

 

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