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Estudo mostra efeito alergênico de arroz transgênico da Ventria
JMA de 2 de dezembro de 2008
Michael Hansen, cientista sênior da ONG americana Consumers Union e um dos maiores especialistas no mundo em riscos dos transgênicos à saúde, esteve em São Paulo esta semana participando de evento realizado pelo IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Hansen apresentou uma série de dados recentes de novas pesquisas científicas, que pouco a pouco começam a comprovar que os alertas sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para a saúde dos consumidores, que começaram a ser divulgados há mais de dez anos, não eram sem razão.
Ilustraremos aqui apenas um exemplo de como efeitos colaterais são facilmente detectáveis quando as pesquisas são feitas de maneira séria e criteriosa e como os mesmos são irresponsavelmente omitidos pelos órgãos reguladores, que sistematicamente isentam os produtos de pesquisas aprofundadas ou simplesmente ignoram as evidências já identificadas.
A empresa de biotecnologia Ventria desenvolveu um arroz transgênico destinado à produção de duas proteínas, a lactoferrina e a lisozima, encontradas no leite materno e em outras secreções humanas, como saliva e lágrimas. No leite materno elas apresentam propriedades anti-microbianas.
Fora dos EUA a Ventria diz que seu arroz farmacológico irá ajudar a prevenir a diarréia. Nos EUA, diz que será usado em iogurtes e barras de cereais como suplementos nutricionais.
Estudos analisados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) relatam que “não foi encontrada nenhuma seqüência de aminoácidos da lactoferrina transgênica similar a tóxicos ou alergênicos conhecidos. (…) As bases de dados SWISS-PROT e TrEMBL foram utilizadas e nenhuma seqüência de aminoácidos foi encontrada entre a lactoferrina e alergênicos conhecidos”.
Entretanto, na submissão do produto ao FDA (órgão do governo americano que regulamenta Alimentos e Medicamentos) constava que “Uma busca por alergênicos conhecidos, identificada nos bancos de dados SWISS-PROT e TrEMBL, encontrou 52% de seqüências de aminoácidos similares entre lactoferrina humana e ovotransferrina de galinhas (conalbumina), que é um conhecido alergênico [presente na clara do ovo]”.
Lactoferrina bovina e humana compartilham 68% de aminoácidos idênticos. 41 dos 92 pacientes alérgicos a leite considerados numa pesquisa tinham alergia a lactoferrina bovina, o que levou os autores do estudo a concluírem que a substância pode ser considerada um alergênico importante.
Outros estudos demonstraram claramente que a lactoferrina e a lisozima derivadas do arroz transgênico são altamente resistentes à hidrólise por ácidos e proteases e à digestão no trato gastrointestinal, embora o estudo considerado pelo USDA dissesse que “a lactoferrina derivada do arroz da Ventria é equivalente à lactoferrina natural humana, que é rapidamente degradada (<30 segundos) no fluido gástrico.”
Outros estudos sobre alergenicidade relatam que, embora “desmentido” pelas conclusões do USDA, foram detectadas diferenças entre a lactoferrina natural e a transgênica nos padrões de glicosilação. Descobriu-se também efeitos no sistema de defesa relacionado à retenção de ferro. Alguns micróbios, assim como bactérias da família Neissariaceae (que contém diversas bactérias de doenças venéreas) podem obter ferro da lactoferrina humana transgênica e poderiam se tornar piores com níveis maiores de lactoferrina no organismo. Também foram encontrados anticorpos à lactoferrina humana transgênica em pacientes com doenças autoimunes — lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e colangite esclerosante.
Num teste clínico realizado com humanos no Peru, duas crianças já desenvolveram alergias ao soro com lactoferrina transgênica para tratar diarréia (Transgénicos: Niños ya sufren sus efectos – La Republica, 14/07/2006).
Ao longo dos próximos números deste Boletim apresentaremos os dados de outros estudos apresentados por Michael Hansen.
O que se comprova de toda esta história é que as indústrias de biotecnologia conseguiram a todo custo evitar que estudos criteriosos e aprofundados sobre os riscos dos organismos transgênicos fossem feitos e, sobretudo, exigidos.
Teria a CTNBio agido diferente do USDA diante do pedido da Ventria?
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Estudos citados: Bethel, 2003; Groenink et al., 1999; Wal, 1998; Humphrey et al., 2002: 1214 e Lonnerdal, 2002: 220S; Weinberg, 1999; Dhaenens et al., 1997; Vogel et al., 1997; Skogh and Peen, 1993; Afeltra et al., 1996; e Weinberg, 2001.
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