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Excesso de estoques e preferência por celulose virgem geram crise na reciclagem de papéis
Por Elizabeth Oliveira – Eco – 14 de março de 2024 – Associação do setor relata queda histórica de preços, critica falso discurso de economia verde e cobra decreto governamental de incentivo à logística reversa – Estoques em alta no Comércio de Resíduos Bandeirantes de Belo Horizonte são sinais da crise que afeta o mercado de reciclagem de papéis Foto: Pedro Vilela/ Agencia i7.
Representante da terceira geração à frente da CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes), empresa criada há 50 anos pelo seu avô em Belo Horizonte (MG), João Paulo Sanfins vivencia no cotidiano de um negócio familiar os efeitos de um cenário de forte instabilidade que afeta o segmento de reciclagem de papéis no Brasil.
Mas é como vice-presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap), composta por 55 associadas, que ele tem uma visão macro da crise histórica enfrentada pelo setor, agravada no pós-pandemia da Covid-19.
Sanfins aponta o excesso de estoques nacional e global, além da preferência das indústrias de embalagens de papel pela celulose virgem, como as principais causas desse cenário.
Alerta, também, que somadas à questão econômica, as dimensões social e ambiental estão em jogo no país.
“Essa situação não é sustentável no longo prazo”, opina.
À frente de uma empresa geradora de cerca de 120 empregos diretos, com 2 mil fornecedores da Região Metropolitana de Belo Horizonte, ele afirma que não costumava conversar com os concorrentes.
“Mas a crise está tão grande que temos buscado dialogar e o que sabemos é que todo mundo está perdendo”, relata.
O setor que gera cerca de 40 mil empregos diretos coletou 4,9 milhões de toneladas em 2022, mas deverá fechar o balanço de 2023 com queda expressiva, segundo previsto pela Anap.
Embora os números totais do ano passado ainda não estejam consolidados, estimativas preliminares dão conta de que 67 empresas do país coletaram 1,6 milhão de toneladas, o que representa 33% do volume do ano anterior.
Para o vice-presidente da instituição, está difícil equilibrar os pilares ambiental, social e econômico nesse ramo de atividade.
Os preços desse mercado ilustram o cenário de crise.
De R$ 2,00, por quilo, alcançados na pandemia, o preço do papelão despencou para R$ 0,50, no ano passado, sacrificando catadores e recicladores, segundo Sanfins.
O mesmo ocorreu com o papel branco.
Para driblar os altos custos de energia, combustíveis, equipamentos, entre outros insumos, “todo mundo teve prejuízo e precisou liquidar patrimônio para sobreviver”, observa.
“O setor andou para trás”, acrescenta.
Ele ressalta que, como envolvem commodities, os preços desse mercado de reciclagem são ditados pela lei da oferta e demanda internacional, fortemente alterada pelos efeitos da crise sanitária, quando houve uma corrida global das empresas para a formação de estoques de materiais, principalmente para a fabricação de embalagens, muito demandadas pelo avanço das compras online.
Passado o período mais crítico, os altos estoques não utilizados pelas indústrias mundo afora jogaram os preços para baixo.
Outra característica nacional é analisada nesse contexto pelo vice-presidente da Anap.
Ele ressalta que o mercado de produção de caixas e embalagens, que até duas décadas envolvia muito mais empresas, tornou-se mais concentrado no Brasil.
Na atualidade, grandes indústrias estão na linha de frente desse tipo de produção “e suas decisões têm impacto no mercado”, opina.
Preços baixos e pouca demanda geram crise em empresas de reciclagem de aparas de papel, como o Comércio de Resíduos Bandeirantes de Belo Horizonte. Foto: Pedro Vilela
“A gente faz um apelo ao governo para que os recicladores tenham tratamento diferenciado e que a reciclagem seja mais valorizada”, alerta Sanfins.
E reitera que o material reciclável, já tributado originalmente, ao ser reciclado sofre uma nova tributação.
Esse é um debate que se arrasta sem solução há anos e que ainda tem muito a avançar no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que, com mais de uma década de existência ainda enfrenta percalços na sua implementação.
Da mesma forma, o setor acompanha com expectativa a tramitação do Projeto de Lei 4.035, de 2021, de autoria do deputado federal Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), que propõe a isenção de PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) nas vendas de materiais recicláveis às grandes indústrias.
Organizações como o Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa) também defendem essa solução.
Enquanto essas e outras soluções não se confirmam, o vice-presidente da Anap apela aos consumidores, para que sejam mais exigentes com as empresas das quais compram seus produtos.
Para ele, é preciso cobrar que a produção industrial faça mais uso de materiais recicláveis.
“Todo mundo gosta de falar de sustentabilidade, mas como se faz para que isso não fique apenas no discurso?”, questiona.
Para onde caminha a sustentabilidade da reciclagem no Brasil?
Anice Torres, diretora do Centro de Reciclagem Rio (CRR), compartilha das preocupações do vice-presidente da Anap, da mesma forma que lança questionamentos semelhantes sobre como o setor empresarial brasileiro pode realmente praticar sustentabilidade para além de discursos e intencionalidades.
À frente de uma empresa com mais de duas décadas de atuação no Rio, ela tem testemunhado a crise enfrentada no mercado de reciclagem, principalmente, quanto ao segmento de papel e papelão.
Entre outras vantagens competitivas, ela ressalta que “a celulose virgem gera perdas pequenas no processo industrial e quando os preços estão mais atrativos [como atualmente] as empresas fabricantes dão preferência a essa alternativa em vez de optarem pelo material reciclável”.
A diretora desabafa também sobre a falta de incentivo a essa atividade: “O aparista precisa lidar com a forte oscilação de preços e trabalha no limite.”
Por outro lado, Anice destaca que com isenções fiscais e outros incentivos, empresas do setor de papéis preferem plantar eucalipto e outras culturas das quais extraem celulose para suprir as suas demandas industriais.
“Não existe uma saída se não for por imposição legal”, opina.
Por esse motivo, os aparistas aguardam com grande expectativa um decreto presidencial que obriga os produtores de embalagens a adquirir parte da matéria-prima reciclável, incentivo que já foi dado aos recicladores de plásticos e de vidros.
Diante desse cenário adverso, ela ressalta que para não amargar mais prejuízos, enquanto as empresas buscam outras soluções, muitos catadores deixam de coletar papel e papelão.
Assim, materiais que poderiam voltar às linhas de produção vão parar em aterros sanitários ou lixões.
Com ampla experiência no ramo, a diretora afirma que a captação desses insumos vem caindo e não se pode vislumbrar uma mudança de cenário sem melhoria dos preços pagos para os catadores, os primeiros elos dessa cadeia.
Para as empresas do setor, ela reitera “que está cada dia mais difícil se manterem abertas”.
Mesmo ocupando uma posição de liderança no mercado carioca, a CRR, que gera 500 empregos diretos e conta com uma infraestrutura de 1.200 caçambas e mais de 100 caminhões, diante da crise atual está operando com capacidade de 13 mil toneladas mensais, quando poderia atuar com 20 mil.
Para Eduardo Fernandes, gerente técnico da empresa, além de todas as dificuldades enfrentadas pelo setor, a dupla tributação para os recicláveis significa um grande obstáculo que impede maiores avanços no país.
Para tanto, defende “incentivo financeiro, determinação legal e fiscalização da PNRS”.
Do contrário, considera que sustentabilidade e economia verde terão mais conotação de greenwashing para a sociedade.
“ESG [Governança socioambiental, na sigla em inglês], sustentabilidade e pensar verde. A toda hora se cria uma nova expressão. Praticamos tudo isso há 20 anos e não temos nenhum incentivo”, critica Anice Torres.
Tanto ela como o gerente técnico e também os dirigentes da Anap defendem a criação de mecanismos de comprovação verificáveis por certificadoras quanto à utilização de materiais recicláveis pelas indústrias em geral no Brasil.
Diretores da Klabin afirmam que a empresa não é responsável pela crise
Em entrevista a ((o))eco, dois executivos da Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, afirmaram que a empresa não é responsável pela crise que afeta esse segmento de mercado de recicláveis no país.
Douglas Dalmasi, diretor do Negócio de Embalagens; e José Soares, diretor comercial do Negócio de Papéis, enfatizaram que a situação é resultado de uma conjuntura global, marcada pelo excesso de oferta em estoques industriais que se formaram desde a pandemia, panorama que envolve também outros tipos de materiais recicláveis.
Mas ambos têm expectativa de que o cenário mude para melhores condições este ano, tendo em vista sinais de recuperação econômica já observados nos primeiros meses.
Segundo Dalmasi, durante a pandemia o mercado enfrentou “uma explosão de consumo” que causou problemas de logística globalmente. Nessa conjuntura de grandes transformações, o diretor explica que a empresa teve que exportar minimamente para atender à demanda interna.
Além disso, argumenta que “todo mundo comprou a mais” já que tinha atraso envolvendo as entregas, além de outros complicadores atípicos. Esses fatores fizeram com que se formassem altos estoques globais que, pela lei da oferta e da demanda, levaram à queda nos preços no pós-pandemia.
Sem ter como escoar papel em 2023, a empresa teve que deixar de comprar aparas, como argumenta o executivo.
Pela competitividade alcançada pela fibra virgem no mercado internacional e sendo a Klabin também uma exportadora, e, ainda, por características próprias do processo de fabricação de celulose, foi explicado na entrevista que não foi possível hibernar grandes máquinas dessa linha de fabricação.
Enquanto isso, houve parada de maquinário de papel reciclado em uma conjuntura que Dalmasi disse nunca ter vivenciado em quase duas décadas de atuação na empresa.
Altos estoques revelam a crise enfrentada por empresas do setor de reciclagem de papéis no Brasil. Foto: Pedro Vilela
Mas os diretores destacam que já foram percebidos sinais de recuperação na demanda interna no primeiro bimestre, em um cenário não usual para essa época do ano.
Diante disso, já foi possível ligar uma máquina que estava parada no setor de reciclagem e outras retomadas estão previstas, “o que leva a crer que o pior vai ficar para trás”, como observa Dalmasi. A julgar pelo aumento das vendas, principalmente de papelão ondulado, “este promete ser um ano bom”, concorda Soares.
A Klabin tem capacidade para produzir 4,6 milhões de toneladas anuaisde papel e celulose.
Em seu website, a empresa informa que sua estrutura geral é formada por 22 fábricas instaladas no Brasil e uma na Argentina.
Com 120 anos de atuação, a fabricante gera 25 mil empregos diretos e indiretos, além de contar com 719 mil hectares de florestas, incluindo 42% de áreas nativas conservadas, além de 356 mil hectares de áreas produtivas plantadas com pinus e eucalipto (espécies usadas para a fabricação de celulose que alcança 1,6 milhão de toneladas anuais), 100% certificadas com o selo FSC.
A taxa de reciclagem do setor de papéis no país gira em torno de 70%, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Em 2022, o Brasil se tornou o maior produtor e exportador mundial de celulose, como informado em 2023 pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
O setor que alcançou receita bruta de R$ 260 bilhões, produziu 25 milhões de toneladas, o que representou 10,9% de crescimento em relação ao ano anterior.
Já as vendas externas foram de 19,1 milhões de toneladas, aumento de 22%.
Suas empresas concentram cerca de 10 milhões de hectares de áreas cultivadas e 6 milhões de hectares de florestas nativas conservadas.
Ainda que o setor tenha grande importância socioeconômica no país, sendo responsável por 2,7 % do Produto Interno Bruto (PIB), pínus e eucalipto são espécies exóticas (não nativas da biodiversidade brasileira).
Por esse motivo, o avanço de plantio dessas monoculturas em grande escala, principalmente na América do Sul, gera inúmeras controvérsias relacionadas aos seus impactos ambientais, como já publicado em ((o))eco em 2023.
Segundo anunciado pelo Portal Celulose, no ano passado, “até 2028, o Brasil receberá investimentos de R$ 61,9 bilhões em expansão e novas fábricas, incluindo painéis de madeira.
A previsão é de que mais de R$ 3 bilhões possam ser aplicados, colocando o setor entre os maiores investidores privados do país.”
Preços baixos de recicláveis
Ainda que algumas estatísticas venham demonstrando que papel e papelão continuam sendo alguns dos materiais recicláveis mais coletados no Brasil, como ilustrado nesta reportagem, especialistas consideram que muito dessas matérias-primas pode estar indo parar em aterros sanitários e lixões do país pelo desestímulo dos catadores em relação ao preço baixo.
Esse componente crítico da gestão de resíduos sólidos tende a causar ainda mais impactos ambientais em nível nacional, tendo em vista todo o ciclo de vida que envolve desde a produção de celulose, extraída de árvores, aos altos custos do processo industrial para um descarte nada inteligente das embalagens pós-consumo.
Além disso, como apresentado nesse contexto, com depoimento de liderança do segmento de catadores, esses elos da cadeia da reciclagem estão trabalhando dobrado para receber a metade do que já chegaram a ter de remuneração para a coleta de papel e papelão.
Empresas de reciclagem de aparas de papéis enfrentam uma crise gerada por preços baixos e pouca demanda. Foto: Pedro Vilela
Com queda nos preços, catadores trabalham o dobro para ter ganhos pela metade
Luiz Carlos Santiago é reconhecido como uma liderança em cooperativismo dedicado à reciclagem de materiais na Zona Norte do Rio.
Em duas décadas de existência da Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo de Bonsucesso (Cootrabom), organização que preside, ele relata que o segmento de coleta, sobretudo de papelão, vem enfrentando uma de suas piores crises.
Para ilustrar a situação, ele informa à reportagem que a pior queda do preço do papelão coletado ocorreu entre 2022 e 2023, quando passou de R$ 1,00 para R$ 0,40, valor por quilo que permanece até o momento.
Com isso, o trabalho dos 25 cooperados tem que ser dobrado para garantir somente a metade do que ganhavam com a coleta desse material há menos de dois anos.
“Escravizaram os catadores para fazer estoques vendidos a preço de banana na pandemia e agora temos um panorama que nos enfraquece economicamente”, observa.
Ele ressalta que a situação, “construída em cima da miséria dos catadores”, é ainda mais complexa para as cooperativas menores, que precisam de escala para a venda de recicláveis às empresas e exemplifica ser necessário, nesse caso, ter de 15 a 20 toneladas de papelão, por quinzena.
Se não atingem esse volume, têm que negociar com atravessadores, o que contribui para baixar ainda mais os preços que recebem pelo trabalho de coleta.
O presidente da cooperativa carioca destaca que com os efeitos da pandemia na economia global, em uma conjuntura de preços de commodities que favorece o uso de matéria-prima virgem para as fabricantes de papel e plástico, principalmente, os preços dos materiais recicláveis não são reajustados há três anos.
Para driblar a crise, ele conta que a cooperativa tem buscado fortalecer a frente de prestação de serviços de coleta de recicláveis para empresas que precisam cumprir as metas de logística reversa da PNRS.
“Se a gente estivesse vivendo somente de coleta de recicláveis não estaria se sustentando”, afirma.
Como possibilidade de superação da crise, Santiago conta que vem ocorrendo um diálogo entre as cooperativas cariocas e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima (Smac), com a perspectiva de se estabelecer uma parceria a fim de que bairros do Rio ainda não cobertos por serviço de coleta seletiva sejam atendidos por cooperativas cadastradas na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb).
A medida traria renda extra para os catadores, além de melhorar a qualidade ambiental da cidade, perspectivas que integram a PNRS.
“Estamos pressionando porque se não houver luta política essa agenda não avança”, conclui.
Cenário do mercado de aparas de papel no Brasil
Em 2022, 4,9 milhões de toneladas de aparas de papel foram coletadas no país.
Empresas do setor geram cerca de 40 mil empregos diretos.
Decreto de logística reversa do setor de papel e papelão sai este ano, afirma MMA
A expectativa de incentivo governamental ao segmento de aparas de papel, por meio de decreto que beneficiará a reciclagem de embalagens desse tipo de material, assim como já ocorreu com o vidro e o plástico, pode estar prestes a ser atendida.
A área técnica do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) confirmou à reportagem que o documento será assinado este ano, embora não tenha sido especificado quando.
((o))eco. Qual o posicionamento do MMA sobre a crise que afeta o mercado de reciclagem de papel, considerando que temos no Brasil uma Política Nacional de Resíduos Sólidos que envolve, entre outros aspectos, a logística reversa?
MMA – A oscilação de preços dos materiais recicláveis, pós-pandemia da Covid-19, afetou o mercado global de recicláveis, reduzindo preços de diversos tipos de materiais.
A baixa dos preços também foi indutora do não aproveitamento dos materiais nos mercados externos, com consequências para o mercado interno.
Devido a isso, o governo federal aumentou os impostos sobre a importação de resíduos, inclusive sobre resíduos de papel.
Assim como já ocorreu com outros segmentos, há uma expectativa de assinatura de um decreto destinado a impulsionar a reciclagem de papéis no Brasil. Qual a situação atual desse processo?
O MMA pôs em consulta pública, o decreto que institui o sistema de logística reversa de embalagens de papel e papelão, que pode ser acessado aqui. As contribuições e avaliações estão em andamento e a previsão de lançamento do decreto é ainda neste ano.
Estoques em alta e preços em baixa sinalizam com a crise enfrentada pelo setor de aparas de papel no Brasil. Foto: Pedro Vilela
Quais são os incentivos existentes para outros segmentos de materiais recicláveis?
Os incentivos relacionados às embalagens em geral estão previstos principalmente nos programas de logística reversa, monitorados pelo MMA.
Informações sobre cada sistema de logística reversa estão disponíveis em https://sinir.gov.br/paineis/logistica-reversa/
Quais são as ações que o MMA desenvolve para fiscalizar o cumprimento da PNRS?
A fiscalização é feita pelos órgãos ambientais estaduais e municipais, Ministério Público e sociedade civil.
A regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, monitoramento dos resultados e apoio a projetos para implementação das ações de gestão de resíduos é responsabilidade do MMA.
E quais são as soluções possíveis para a superação da crise que, segundo informado pela ANAP, afeta grande número de empresas no Brasil e também o segmento de catadores?
Os trabalhadores do setor de resíduos, especialmente os catadores de materiais recicláveis, estão amparados pelos programas gerenciados no âmbito do Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis (CIISC) [iniciativa que tinha sido extinta no governo anterior foi recriada no ano passado].
Programas em curso incluem créditos da logística reversa, pagamento por serviços ambientais e os programas de qualificação para a formação de gestores nas cooperativas.
Estímulo à reciclagem depende de tratamento fiscal diferenciado, afirma especialista
Especialista em gestão de resíduos e economia circular, o advogado e professor, Fabrício Soler, defende que para estimular o reaproveitamento das aparas de papel pelas indústrias é preciso que haja um tratamento fiscal diferenciado para esse segmento no Brasil.
Como membro do comitê consultivo do Movimento Conexão Circular, articulação criada pela rede brasileira do Pacto Global para o alcance do ODS 12, voltado à agenda de produção e consumo responsáveis (parte dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas), ele afirma já ter conhecimento da crise que vem afetando esse segmento do mercado de reciclagem no país.
“O estímulo ao uso de matéria-prima secundária depende, entre outros fatores, de tributação diferenciada, seja por meio de isenção ou redução da carga tributária”, observa.
Segundo o especialista, esse aspecto precisa ser mais amplamente discutido nacionalmente, tendo em vista que a reciclagem é um dos pontos contemplados como soluções voltadas à economia circular, no âmbito da Nova Indústria Brasil, política industrial lançada em janeiro pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico até 2033 com enfoque em sustentabilidade.
Soler destaca, ainda, que o incentivo econômico teria um papel fundamental para a melhoria da competitividade em momento de vulnerabilidade do setor, podendo reduzir assimetrias do mercado juntamente com outras iniciativas, dentre as quais, aquelas que serão decorrentes da Política Nacional de Economia Circular, cuja proposta está em tramitação no Senado, por meio do Projeto de Lei (PL) 1.874, de 2022.
O especialista considera que a falta de estímulo econômico vem contribuindo para o desequilíbrio entre o uso de matéria-prima virgem e de material reciclável pelas indústrias de papel e celulose, no Brasil, quando ambos poderiam ser utilizados complementarmente.
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