Por Sérgio Teixeira Jr. - ReSet - 12 de novembro de 2024 - Decisão adotada no…
Fracking – o maior crime ambiental de todos os tempos
O outro lado da Conservação da Natureza é a destruição das Unidades de Conservação e das demais áreas naturais protegidas e o desaparecimento de espécies, reduzindo a biodiversidade a zero.
Os leilões já realizados pela ANP não respeitaram nenhuma área natural protegida.
Até o Parque Nacional do Iguaçu teve um terço de sua área já leiloado.
O outro lado da proteção ambiental é a contaminação irreversível dos recursos naturais. O fracking contamina com produtos químicos altamente poluentes, metais pesados e radioativos à água, ao ar e ao solo.
O outro lado da qualidade de vida é a destruição da saúde das populações, com um sem número de doenças incuráveis, como o câncer, além dos efeitos teratogênicos e mutagênicos.
Já são mais de 41 milhões de doentes em estado de grave a gravíssimo só nos Estados Unidos, em decorrência do fracking.
Isso sem falar do incremento de atividades sísmicas, como nunca haviam acontecido antes.
Mas não vamos ser parciais.
Vamos analisar o lado da ANP, só pelo teor nada imparcial do convite para a “pelestra” (sic!) e debate sobre “fraturamento hidráulico na indústria do petróleo”.
Primeiro, não é nem na indústria do petróleo nem na de gases convencionais.
O fracking – fraturamento hidráulico – é uma técnica utilizada para soltar o gás metano preso em microbolhas num tipo de rocha denominado folhelho.
Portanto, trata-se do que é chamado de “gases não convencionais”.
Como o gás da morte está contido em microbolhas, há necessidade de “fraturar” a rocha. Aliás, fraturar só não é suficiente: a rocha precisa ser quase que “derretida”.
Porque hidráulico?
Porque o processo demanda milhões de metros cúbicos de água, de 15 a 30 milhões de metros cúbicos para cada poço.
Esta quantidade insana de água é injetada sob alta pressão, misturada com areia e um “pacote” de mais de 720 (setecentos e vinte) produtos químicos, cuja composição e fórmulas são “segredo industrial”.
Não se sabe nem quais são nem como a mistura entre eles reage.
Mas o que se sabe com certeza é que são altamente poluentes, contém metais pesados e pelo menos uma dúzia deles é radioativo!
Como se dá o processo de fraturamento hidráulico?
São abertos poços de 1,5 a 20 km de profundidade, na vertical, que depois se horizontalizam.
Nesses poços, cujo revestimento sempre se rompe, é injetada água com areia e produtos químicos, visando a liberação do gás metano que, como dito acima, está contido em microbolhas.
Por que e como isso degrada o meio ambiente?
De diversas formas.
A pluma radioativa caminha por 80 km ao redor de cada poço, na direção que o vento a levar.
A água contaminada que permanece no subsolo contamina os recursos hídricos – inclusive os grande Aquíferos, como o Guarani e o Serra Geral – por centenas de quilômetros.
A água que é trazida de volta para a superfície permanece em grandes piscinas a céu aberto, sem nenhuma possibilidade de descontaminação e de uso para nenhuma outra finalidade.
São muitos os “acidentes” de vazamento dessas piscinas, em caso de chuvas fortes, por exemplo.
Lembra do Rio Doce? É tipo brinquedinho de criança frente ao espectro de possíveis desastres decorrentes da absoluta ausência de destinação adequada dessas águas! Não há o que fazer com ela!
Sobre o solo, não nasce nada, sequer as gramíneas mais resistentes.
A vida útil de cada poço é de 1,5 a 3 anos.
O que sobra depois? Deserto radioativo!
Quer mais? Por volta de 60% do gás liberado das rochas “fraturadas” é aproveitado. Por volta de 40% dele permanece no ambiente. O gás metano é altamente combustível.
A água que sai das torneiras pega fogo. Os rios pegam fogo. Jatos de fogo projetam-se do solo desertificado.
Sabe Mad Max? Fichinha!
Não precisa acreditar em mim, nem nas informações – de sólida base técnica e científica – contidas nos sites da COESUS – Coalizão Antifracking Brasil, pelo Clima, pela Água e pela Vida ou da 350.org.
Pesquise por conta própria, em qualquer site isento.
A luta contra o fracking tem suas origens em pesquisas acadêmicas, a partir de Projetos de Clima e Sustentabilidade desenvolvidos por pesquisadores bolsistas.
Universidades como Harvard, Yale, MIT, Standford e Oxford, dentre outras, mantém programas de pesquisa. A quantidade de trabalhos técnicos e científicos publicados demonstrando os efeitos nefastos do fracking é gigantesca.
Nem precisa ir tão longe.
Converse com qualquer dos prefeitos, vereadores e deputados estaduais e federais paranaenses que fizeram Visita Técnica aos campos de fracking da Argentina. Logo ali, nossos vizinhos.
Todos eles voltaram para suas bases tomando providências urgentes para proibir o fracking.
Já são mais de cem Municípios que aprovaram leis específicas proibindo o fracking, em diversos Estados brasileiros.
Se pesquisar mais a fundo, você vai descobrir que muitos estados, províncias e mesmo países ao redor do Planeta já proibiram o fracking.
Porque o fracking é letal para a vida!
Sabia que a maçã argentina não é mais aceita no mercado europeu por conta de sua contaminação, inclusive radioativa? As peras e o vinho devem seguir, proximamente, o mesmo destino!
É isso que queremos para os produtos agropecuários brasileiros?
A negativa do mercado internacional em consumi-los?
Mas voltemos ao “imparcial” convite da ANP.
Não é um método “relativamente novo”.
Está implantado em diversos países, principalmente nos Estados Unidos, há já bastante tempo, possibilitando que se possa ter uma visão muito clara dos nefastos impactos econômicos, sociais, sobre a saúde e o meio ambiente dessa atividade infernal.
Comprovadamente, é uma atividade altamente predatória e que destrói os recursos ambientais.
Pela Constituição Brasileira, só poderia ser autorizado – inclusive as aquisições ou pesquisas sísmicas que antecedem a explotação propriamente dita – depois da aprovação de rigorosos Estudos de Impacto Ambiental.
A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná acaba de aprovar uma Emenda Constitucional por – pasme! – unanimidade de votos, determinando que o fracking só possa ser analisado em território paranaense depois de aprovação legislativa.
Voltemos ao “imparcial” convite.
Reproduzo um inteiro parágrafo, para que não me acusem de pinçar informações isoladas. Leiam:
“Acompanhando o aumento no preço dos combustíveis fósseis nos últimos anos, este método se tornou economicamente viável e seu uso se ampliou, especialmente nos Estados Unidos. Os especialistas na área afirmam que é importante que se esclareça como a técnica do Fraturamento Hidráulico funciona e quais os potenciais impactos na sociedade. Os participantes do debate terão a oportunidade de entender sobre o potencial deste recurso energético brasileiro e paranaense na área de Fracking, além de suas possíveis vantagens (socioeconômicas) e os riscos ambientais.”
É óbvio que essa atividade é considerada “economicamente viável” quando não se computam as variáveis ambientais nem as de qualidade de vida e de saúde das populações atingidas!
Para aqueles que só consideram a apropriação privatística dos lucros com a socialização dos prejuízos, é um raciocínio perfeito! É exatamente aí que residem as tais “vantagens socioeconômicas”!
Não foram incluídos nos cálculos nem a perda da biodiversidade, nem a degradação dos ecossistemas, nem a destruição irreversível dos recursos naturais, nem os prejuízos econômicos decorrentes da inviabilização das atividades produtivas tradicionais, , tais como agricultura, pecuária, pesca e piscicultura, silvicultura…
Não foi contabilizada a perda de vidas humanas nem a degradação da saúde das populações envolvidas.
Claro, assim, fica muito fácil tornar-se “economicamente viável”!!!
Muito bem, vejamos agora o “potencial deste recurso energético brasileiro e paranaense”.
Duas pegadinhas calhordas!
Um pouquinho de História é sempre bom para entender como as coisas acontecem.
Por que os Estados Unidos optaram pelo fracking, algumas décadas atrás?
Foi uma opção geopolítica, de origem militar. Precisavam de autonomia energética frente às crises do Oriente Médio, fornecedor de petróleo. Foi uma opção pela qual os governantes de então aceitaram pagar o preço.
Duvido que tenham informado ou consultado as populações que seriam atingidas!
Mas aqui? No Brasil?
Porque não:
Primeiro: temos inúmeras fontes de energia: hidrelétrica, eólica, solar, de mares, de biomassa…
Eles (os governantes dos Estados Unidos de então) não tinham opções ou não tinham tempo de desenvolver melhores opções (que, com certeza, existiam e continuam a existir!).
Segundo: por que cargas d´água precisamos retirar metano do subsolo quando temos tantas outras opções de obter esse mesmo gás de outras formas?
Com muito mais vantagens e sem os prejuízos decorrentes da exploração do gás da morte?
Resposta óbvia: porque alguém está lucrando muito com isso!
Quem? Aqueles que deixaram de ter no mercado americano um espaço de “viabilidade econômica”.
Óbvio! Os poços se exauriram! Precisa mandar essa “coisa” toda para algum lugar. Porque não o “quinto dos infernos”?
O gás metano pode ser obtido do petróleo,do lixo, do bagaço da cana, até do pum das vacas!
Retirar gás contido em microbolhas no subsolo, com técnicas absurdamente degradadoras e poluentes para que???
Quem é que ganha com isso???
De novo voltando ao texto do “imparcial” convite:
“RISCOS” ambientais?
“RISCOS”?
Não existem “riscos”, existe efetiva e extensa degradação ambiental!
Vamos ver qual a definição legal que a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81, com alterações posteriores) tem para isso?
Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
Fonte: disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938compilada.htm
Consulta em 04out2016, 21h10.
Mas existem coisas ainda coisa piores!
Parodiando Dante, desçamos os círculos do Inferno um a um (embora Dante jamais pudesse ter imaginado que algo tão mais cruel que o próprio Armagedon, que é o fracking, pudesse um dia vir a acontecer! É onde a realidade supera a ficção, da maneira a mais dolorosa possível!).
O que os grandes interessados no fracking estão fazendo?
1) Fornecendo bolsas de estudo e polpudos subsídios para qualquer acadêmico que queira “pesquisar” de forma “independente” os efeitos do fracking.
Sabem aquele gostinho do “já te vi”, com relação aos agrotóxicos, que não faziam nenhum mal à saúde?
Minha Avó polvilhava DDT nas camas das netinhas para que nenhum inseto perturbasse o sono das crianças!
Alguém lembra da Primavera Silenciosa, de Rachel Carson? Se você é ambientalista e não leu esse livro, vá atrás! É leitura obrigatória! Foi onde a “Revolução Verde” começou a ser desmascarada, onde os efeitos catastróficos dos venenos chamados eufemisticamente de “defensivos agrícolas” começaram a ser denunciados.
Quer viajar mais longe no tempo? Sabe o seriado Mad Men, onde os cigarros são apresentados como uma inofensiva forma de sociabilização e as indústrias ficaram DÉCADAS escondendo dados científicos sobre a relação do tabagismo com o câncer de pulmão?
De novo, brinquedinhos de criança!
2) Organizando, Brasil afora, eventos “informativos” e “esclarecedores” como este.
Para que? Chama-se cooptação.
Quer entrar nessa? Entre consciente do que está fazendo. O problema é seu com a sua consciência. Mas tenha a decência de não ter filhos que venham a lhe dar netos, os quais que terão que conviver com essa imundície para a qual você está colaborando!
Nesta questão, não há como ficar em cima do muro!
3) Lembram que acima está dito “duas pegadinhas calhordas”?
Pois é! Por que será que a primeira “pelestra (sic!) e debate” acontece aqui, no Paraná?
Porque é onde o dano é maior!
Cento e vinte e dois Municípios são diretamente atingidos pelo fracking, de acordo com os mapas do 12º e 13º leilões efetuados pela ANP.
No 14º leilão, podem chegar a 154 Municípios.
Nos demais Estados do Brasil, ocorrem danos gigantescos.
Mas nada parecido com o que pode vir a acontecer no Paraná!
Porque é onde a reação da população está acontecendo da maneira mais significativa, pela aprovação de leis municipais proibindo o fracking!
É no Paraná que uma reação que está acontecendo!
Repercussões mundiais está acontecendo a partir do Paraná!
É no Paraná que mais de cem municípios já proibiram o fracking!
Pedindo desculpas pela extensão do texto informativo, me permito uma conclusão imperativa:
Nenhuma pessoa que se pretenda defensora da conservação da natureza pode ficar fora da luta contra o fracking!
É uma questão de coerência!
Nenhuma pessoa que se diga ambientalista pode ficar fora da luta contra o fracking!
É uma questão de sobrevivência!
Nenhuma pessoa que se diga defensora dos direitos humanos pode ficar fora da luta contra o fracking!
Ou você defende os Diretos Humanos Fundamentais ou você defende os Direitos Humanos Fundamentais!
Não existe alternativa!
Para finalizar: sabe aquela coisa do “dissemedisse”?
Se você não gosta de alguma pessoa que luta contra o fracking, problema seu!
Suas opções são:
1) Lutar contra o fracking e ajudar a escrever a História da Humanidade.
2) Deixar que questões menores atrapalhem o seu juízo e a sua decisão e contribuir para que nem você, nem os seus filhos, nem os seus netos, nem ninguém mais tenham perspectivas de futuro com qualidade de vida.
Quem é você ???
Eu sei quem eu sou!
Saí da minha confortável aposentadoria para enfrentar uma luta gigantesca contra inimigos muito fortes.
Não precisaria ter feito isso.
Plantei árvores, escrevi livros, fiz um filho maravilhoso e espalhei filhos postiços que fazem a diferença no mundo.
Mas este ainda é o meu Planeta, este é o meu País – Brasil, com nome de metal e de árvore – e este é o Estado do Paraná, onde nasci, ouvindo os muitos sons de muitas águas, superficiais e subterrâneas e o vento fazendo música nas árvores.
Vivi, aprendi, amei, cresci na barranca do Paranazão!
Não vou deixar que ninguém conspurque o Parque que ajudei a criar ou o Aquífero que o subjaz!
Não vou deixar que as Unidades de Conservação tão duramente conquistadas sejam simplesmente destruídas!
Não vou carregar a pecha de não ter lutado por quem ainda nem nasceu e merece, no mínimo, os mesmos direitos ao ambiente (poluído) no qual eu vivo agora!
É isso, Pessoas.
Não só compareçam ao debate de amanhã lutando contra o fracking, mas incorporem essa luta em suas vidas.
As próximas gerações – e a atual, da qual fazemos parte – agradecem muito!
Maude Nancy Joslyn-Motta, advogada Ambientalista.
Fonte – Águas de Pontal de 18 de outubro de 2016
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