Por José Tadeu Arantes - Agência FAPESP - 31 de outubro de 2024 - Estratégia…
Fritjof Capra – Energia e transgênicos como questões na humanização do desenvolvimento 6/6
Fritjof Capra (Viena, Áustria, 1 de fevereiro de 1939) é um físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica. Foto e informações da Wikipedia
A energia eólica tem estabilidade de preços em longo prazo e independência energética. Não há Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) para os ventos, porque eles se espalham.
A capacidade total de geração de energia eólica no mundo é agora de 23.000 megawatts, o suficiente para satisfazer as necessidades de eletricidade de 23 milhões de pessoas, quase dois terços da população do Canadá.
Nas próximas décadas a Europa sozinha planeja aumentar em três vezes este valor. Mesmo com este dramático crescimento, a aplicação da energia eólica está ainda no começo.
Outra fonte valiosa de energia e especialmente de combustível líquido, é a biomassa, em particular o álcool destilado de grãos ou frutas. O problema é que, mesmo sendo uma fonte renovável, o solo onde cresce não é.
Podemos certamente esperar produções significativas de álcool de certas safras, mas um programa em grande escala para isso, seguramente destruiria o solo com a mesma velocidade que estamos agora destruindo outros recursos naturais.
Entretanto, a boa notícia é que na agricultura e no reflorestamento sempre se produz sobra, a grande maioria pode ser coletada e convertida em energia.
Uma simples estação de colheitas no estado de Nebraska nos Estados Unidos produz uma quantidade de grão de baixa qualidade que não pode ser comercializado, tal “resíduo” poderia produzir etanol suficiente para movimentar 10% dos carros do estado por um ano e ainda mantendo a atual disponibilidade de eficiência energética.
Com carros igualmente eficientes, as sobras das plantações nos campos da França ou Dinamarca movimentariam a metade da frota daqueles países por um ano. Outras sobras da agricultura, como cascas, sementes de frutas, óleos vegetais não digeríveis e restos de algodão, poderiam ser usados igualmente.
Tudo isso junto, esta riqueza oriunda da agricultura e do tratamento das florestas, poderiam, provavelmente, fornecer combustível líquido de forma sustentável para o setor de transporte.
Estes exemplos, aos quais outros tantos poderiam se somar, ensinam duas lições. O primeiro é que um programa eficiente de energia renovável deve ser diversificado e adaptado às condições locais. Sempre terá que ser uma combinação de fontes locais de energia renovável, energia solar, eólica, biomassa, hidro-energia, e outros.
A segunda lição é que, mesmo a melhor combinação possível entre as fontes de energias renováveis não serão suficientes a não ser que as usemos de maneira eficiente.
Capra reforça novamente que os recentes desenvolvimentos no campo da conservação de energia têm sido extremamente encorajadores. Os projetistas ambientais acreditam que uma impressionante redução de 90% hoje na energia e nos materiais é possível apenas com a tecnologia existente sem causar nenhuma redução no padrão de vida.
A razão para esta possibilidade realista de tal aumento na produtividade das fontes assenta-se na ineficiência concentrada e no desperdício que são características da maioria dos projetos industriais atuais.
As práticas sustentáveis mencionadas por Capra na energia e agricultura são apenas alguns exemplos da revolução do “ecodesign” que está agora ocorrendo.
Suas novas tecnologias e práticas incorporam princípios básicos de ecologia e, portanto, têm características em comum. Elas tendem a ser pequenas, com muita diversidade, eficientes energeticamente, não poluentes, orientadas para a comunidade, intensivas com relação ao trabalho e geradoras de empregos.
As tecnologias agora disponíveis fornecem fortes evidências que a transição para um futuro sustentável não é mais um problema técnico ou conceitual. É um problema de valores e desejo político.
Fonte – Roberto Naime, Fritjof Capra e os transgênicos, EcoDebate de 31 de maio de 2016
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