Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Ftalatos: saiba o que são, onde estão, quais os riscos e como se prevenir
Esse conjunto de substâncias pode ser ingerido por meio da água encanada e pode estar presente em brinquedos infantis
Você já pensou em como os plásticos maleáveis que utilizamos todos os dias adquirem essa característica? Ou em como aquele esmalte pode durar mais de uma semana nas suas unhas, resistindo a água e a outros produtos químicos?
Descubra o que são ftalatos, substância química de tais produtos. Além do ftalato, é possível encontrar diversos químicos nocivos à saúde em cosméticos, medicamentos, produtos de limpeza e outros objetos.
O que são ftalatos e onde estão?
Os ftalatos são um conjunto de substâncias capazes de tornar plásticos rígidos em plásticos maleáveis. Nos cosméticos, eles são responsáveis pelo brilho e pela fixação da cor de esmaltes e permitem que perfumes durem mais tempo; e, em outros produtos, tanto para adultos como para crianças e bebês, como nos hidratantes, spray de cabelo, sabonetes líquidos, antitranspirantes, desodorantes, condicionadores e xampus, os ftalatos dão aquele aspecto líquido ou de cremosidade.
Nas embalagens dos produtos, raramente há a descrição literal “ftalato”. Os nomes mais comuns listados são phthalates, dibutylphthalate (DBP), dimethylphthalate (DMP), diethylphthalate (DEP). Podem até aparecer os nomes em português também: butila, benzila, dibutila, diciclohexila, dietila, diisodecila, di-2-etilexila e dioctila.
Além dos cosméticos, os ftalatos podem estar presentes em embalagens para alimentos, copos plásticos, tubos de PVC, aparatos médicos (bolsas de sangue e para aplicação de medicamentos como o soro) e brinquedos para crianças.
Como entramos em contato com os ftalatos?
Os ftalatos não conseguem se ligar quimicamente aos plásticos. Nos cosméticos, eles também são liberados conforme o uso. Isso significa que os ftalatos saem dos plásticos e de outros produtos, como os cosméticos, e entram em contato com o ser humano e com o ambiente.
O ser humano pode ser exposto aos ftalatos por via oral, via aérea (respirar ar com ftalato) e dérmica.
Podemos ingerir ftalatos por conta da presença dessas substâncias em embalagens para alimentos e copos plásticos. Como os ftalatos saem do plástico, eles entram em contato com o alimento que será ingerido por nós. Atenção especial deve ser dada para alimentos gordurosos que vêm acondicionados em embalagens plásticas. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os ftalatos são moléculas parecidas com as de gordura, e podem facilmente ligar-se a elas nos alimentos. Um estudo aponta para a liberação de ftalatos em alimentos que foram acondicionados em filmes de PVC, aquele filme transparente que você normalmente embala o seu lanche. A presença dos ftalatos foi identificada nos alimentos que possuem gordura.
Para as crianças, o risco de ingestão de ftalatos está associado a presença das substâncias em brinquedos infantis. Também podemos ingerir ftalatos por meio da água. Os tubos de PVC dos encanamentos são fontes de exposição aos ftalatos.
Como existem diversos tipos de plásticos, alguns podem apresentar alto grau de toxicidade para o ser humano e outros não. As embalagens plásticas sempre estão associadas a um número, os plásticos que podem conter e liberar ftalatos são os de número 1, 3 e 6. Os mais seguros para se utilizar porque apresentam características menos tóxicas, são os de número 2, 4 e 5. (Saiba mais aqui sobre os plásticos)
No ar, os ftalatos podem estar presentes devido à dispersão de produtos, como perfumes. Absorver ftalatos por meio da pele é possível devido ao uso de cosméticos, como hidratantes, desodorantes e outros citados anteriormente.
Efeitos negativos ao ambiente e à saúde humana
Os ftalatos estão associados à ocorrência de problemas reprodutivos em animais silvestres e testados em laboratórios. A presença de ftalatos no organismo desses animais provocou a redução da fertilidade, aborto, defeitos congênitos, câncer de fígado e rins. Em humanos os efeitos foram: surgimento de câncer de mama, desregulação hormonale diminuição da fertilidade masculina (redução do número de espermatozoides).
Posição nacional e internacional
Os ftalatos estão classificados pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) como possivelmente carcinogênicos para humanos (grupo 2B).
Na Europa, o uso dos ftalatos é proibido em cosméticos, além de serem considerados como tóxicos para o sistema reprodutivo.
No Brasil, desde 2009, são limitadas as concentrações de ftalatos e seus derivados (não mais que 1% em peso de ftalato), em copos e garrafas plásticas descartáveis, seguindo resolução da ANVISA.
Ainda estão em andamento dois projetos de lei que tratam da proibição do uso de ftalatos em aparatos médicos (Projeto de Lei 3221/12) e em produtos infantis (Projeto de Lei 3222/12).
O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) possui uma portaria que admite não mais que 0,1% em massa de ftalatos nos brinquedos para crianças.
Alternativas
Procure adquirir produtos sem ftalatos. Lembre-se que os nomes que aparecem nas embalagens são diferentes (confira no início da matéria). A descrição nos produtos sem ftalatos normalmente aparece da seguinte forma: sem PVC, sem DEHP ou free HDPE (sigla em inglês). Existem também os plásticos que anunciam ser livres de Bisfenol-A, que aparecem como BPA-free. (Saiba mais aqui)
Algumas substâncias podem ser utilizadas em substituição aos ftalatos, como os adipatos, sebacatos, citratos, tremeliatos, poliésteres e fosfatos. Porém ainda são precisos mais estudos sobre o comportamento toxicológico de cada um desses substitutos para assegurar a saúde humana e ambiental.
Fonte – eCycle
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