Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Futuro dos plásticos — Reciclar, Reutilizar e Rejeitar
Situação cada vez mais dramática pela absoluta ausência de ação, compreensão e determinação tanto dos consumidores como das instituições internacionais e principalmente das indústrias petroquímicas.
https://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2018/09/18/plastic-future.aspx
Voluntários lutam para interromper o fluxo de lixo na praia da Baía de Manila/Filipinas
Resumo da história
Variando em tamanho de 5 milímetros a comprimentos microscópicos, os microplásticos estão sendo ingeridos por peixes, plâncton e outras formas de vida marinha, bem como por criaturas terrestres que os consomem (incluindo os humanos).
Estima-se que cerca de 300 milhões de toneladas de plástico sejam produzidas todos os anos e mais da metade para um único descarte.
Partículas de plástico minúsculas não passam simplesmente pelo trato das criaturas marinhas, mas sim acumulam-se em seus sistemas circulatórios e órgãos.
A exposição a microplásticos demonstrou ser catastrófica em várias gerações de zooplâncton, com o potencial de levá-los à extinção.
O plástico que vem se acumulado nas praias da baía de Manila, nas Filipinas, é perturbador e o primeiro pensamento que nos vem a mente quando se olha este fragmento do vídeo acima, vem fortemente a pergunta: “de onde será que vem todo este plástico?”
Ele é na verdade, gerado por todo o planeta, na forma de sacos plásticos, garrafas de todo o tipo, utensílios os mais variados, canudinhos, (bottles, utensils, straws), microfibras (nt.: grande e inimaginável tragédia que se origina de todas as roupas sintéticas que usamos!!!) e muito mais, que se transforma tanto em fragmentos maiores que se vê a olho nu como em estimadas 15 trilhões de partículas minúsculas de microplástico que estão flutuando nos oceanos e que são imperceptíveis aos nossos olhos.1
Provavelmente todos já viram as dramáticas fotos de tartarugas marinhas e outros animais marinhos entrelaçados com sacos plásticos ou anéis que lacram embalagens, mas alguns dos plásticos mais perniciosos podem ser aqueles que realmente estão invisíveis, já que nem sequer são vistos com a vista desarmada.
Variando de tamanho milimétrico a microscópico, estes microplásticos estão sendo ingeridos tanto pela vida marinha (marine life), como pelas criaturas terrestres, entre elas, os seres humanos. O que isso significa para o futuro continua sendo uma incógnita, mas pesquisas conduzidas até agora pintam um quadro sinistro.
Ingerir Microplásticos Pode Danificar Órgãos, ao Lixiviarem Químicos Venenosos
Está estimado que quase 300 milhões de toneladas de plástico são produzidos a cada ano, mais do que a metade deles para serem descartados depois de uma única utilização. Estas garrafas, sacos, canudos e outros materiais plásticos acabam, em grande parte, nos oceanos, numa carga de mais de 8 milhões de toneladas por ano.2 Levados junto com as correntes oceânicas, formam os redemoinhos de “poluição plástica”3 que agora cobrem 40% das superfícies dos oceanos do mundo.4
Em 2008, pesquisadores da University of New South Wales, em Sydney, mostraram que partículas diminutas plásticas não passam simplesmente pelos corpos das criaturas marinhas sem serem notadas, como se pensava. Utilizando mexilhões como um exemplo, a pesquisa revelou que os microplásticos ingeridos (ingested microplastics) primeiro se acumulavam nos intestinos, mas, dentro de três dias, percorriam para seu sistema circulatório onde eles permaneciam por mais do que 48 dias.5
Não só podiam os microplásticos mover-se através da corrente sanguínea e órgãos causando danos físicos como inflamação, mas podiam também liberar químicos venenosos (nt.: são os célebres plastificantes como os ftalatos e os BPA ou BPS que dão as características finais aos produtos comerciais), incluindo tanto aqueles que já eram parte da estrutura químico-física dos fragmentos plásticos como aqueles que aderem a eles e presentes no espaço aquático circundante.
As micro contas, por exemplo, aquelas continhas minúsculas plásticas usadas amplamente em produtos de cuidado pessoal (personal care products) como esfoliantes, podem concentrar tais tóxicos a níveis de 100.000 a 1 milhão vezes maiores do que os níveis detectados na água do mar.6
Estas contas, que lembram olhos de peixes, são então ingeridos por muitas formas de vida marinha, incluindo plâncton, peixe, aves marinhas e baleias. De acordo com um estudo de 2015 pode haver algo como 236.000 toneladas destas micro contas enchendo as colunas d’água de nossos oceanos.7
A exposição aos microplásticos pode também demonstrar ser catastrófica ao longo de múltiplas gerações, com potencial de levar à extinção. Quando pesquisadores expuseram o zooplâncton Daphnia magna aos microplásticos, experimentaram decréscimo no crescimento e nas taxas de reprodução.
Aquelas gerações que nasceram de plâncton expostos a plásticos ainda mostravam crescimento, taxas de reprodução de população reduzidos, mesmo que tenham crescido em água limpa.
“Em geral, estes resultados indicam que a D. magna recuperar-se da exposição crônica aos microplásticos pode exigir várias gerações e que a exposição contínua por gerações aos microplásticos podem levar à sua extinção populacional,” explanaram os pesquisadores.8
Microplásticos Podem Ser Detectados no Alimento, na Água Potável e no Ar
A maioria das pesquisas sobre plásticos no ambiente fixam-se somente num tipo de plástico usando períodos de exposição relativamente curtos. Mas a realidade é muito mais confusa, com organismos sendo expostos a múltiplos tipos de plásticos em níveis variados, durante o curso de todas suas vidas.
Um grupo de pesquisadores está focado de como as microfibras de poliéster podem estar afetando os microrganismos no solo, especialmente porque o lodo do tratamento de esgoto (sewage sludge), que é aplicado como fertilizante na agricultura industrial (industrial agriculture), é carregado de microfibras.9 Detectaram que os microplásticos podem, de fato, levar a mudanças no solo, incluindo a alteração de sua densidade, sua capacidade de retenção de água e a atividade microbiana.
Microplásticos são bem conhecidos por se acumularem nos frutos do mar direcionados também para o consumo humano. Num estudo no mercado de peixes na Califórnia e na Indonésia, em um quarto dos peixes foram detectados ter plásticos em seus intestinos.10 Plásticos e outros fragmentos sintéticos foram também encontrados em 33% dos mariscos amostrados.11
Em um trabalho em ambiente de água doce, 83% dos peixes também tinham pedaços de plástico em seus intestinos, destacando-se os microplásticos, particularmente na forma de microfibras.12 Também estas foram detectadas ser o tipo predominante de microplásticos constatado em amostras de cerveja, água encanada e sal marinho (sea salt).
“Com base nas diretrizes para o consumidor, nossos resultados indicam que a média das pessoa ingere mais de 5.800 partículas de fragmentos de detritos sintéticos de três fontes, anualmente, com a maior contribuição proveniente advinda da água encanada da torneira (88%)”, de acordo com pesquisadores publicado no periódico PLOS One.13 Mesmo o ar que estamos respirando pode ser uma fonte de exposição aos microplásticos que estão, literalmente, caindo do céu. Reporta o periódico Scientific American:14
“Stephanie Wright, uma pesquisadora ligada ao King’s College London, está buscando entender melhor a quanto de microfibra os humanos estão realmente expostos e se os microplásticos, transportados pelo ar, podem penetrar nos pulmões. Ela também está se unindo à unidade de toxicologia da universidade para examinar sua coleção de tecidos pulmonares em busca de sinais de microfibras e danos relacionados.”
Estamos Reciclando Menos, não Mais — O Plástico Deve Ser Poupado?
Mesmo que as formas de poluição por plásticos tenham se agigantado como jamais aconteceu antes, as taxas de reciclagem permanecem sombrias em grande parte do mundo. Nos EUA, perto de 260 milhões de toneladas de lixo sólido municipal (municipal solid waste/MSW) são gerados anualmente e somente 90 milhões de toneladas deste MSW são recicladas ou compostadas, tornando assim a taxa de reciclagem ficar perto dos 35%.15 Representa uma queda dos 37% alcançados em 1995.16
Embora a maioria das garrafas plásticas de água e refrigerante sejam feitas de polietileno tereftalato altamente reciclável (PET), a maioria destas garrafas acaba despejadas em oceanos e aterros sanitários. O periódico inglês The Guardian informou que menos da metade das garrafas plásticas compradas em 2016 foram recicladas e apenas 7% foram transformadas em novas garrafas.
Em contraste, a Noruega recicla até 97% de suas garrafas plásticas, os produtores no país precisam pagar um imposto ambiental sobre plástico pelos estragos – se eles não atingirem uma meta de reciclagem de 95% ou mais. Os produtores que atingirem a meta desta taxa de reciclagem não precisam pagar o imposto, já a maioria do público consumidor deve pagar para ter uma garrafa, ou seja, um depósito prévio de cerca de 15 a 30 centavos por cada uma.
Máquinas de venda reversa são encontradas por toda a Noruega, em escolas, em mercados e outros locais, fazendo então isso fácil para os consumidores de retornarem suas garrafas plásticas para reciclagem e assim recebem de volta seu depósito prévio. Associando a esta simplicidade do sistema, as companhias norueguesas podem produzir garrafas plásticas com dois tipos particulares de resina PET.
Niall Dunne, CEO da empresa Polymateria, disse ao Huffington Post: “assim eles alinharam toda a cadeia de valores, em todos os municípios, os processos e as máquinas de reciclar, alcançando ótimos resultados.” 17 A Polymateria está produzindo a próxima geração de plásticos biodegradáveis e recicláveis, outra estratégia para reduzir alguns dos plásticos que entram na corrente do lixo.
Quanto aos EUA, a ideia de ter um depósito prévio na compra de um produto em garrafas plásticas tem sido sugerida, mas a pressão exercida pelos fabricantes que se preocupam com o aumento de preço do produto e com isso afetar suas vendas, não permite que ela vingue. Mesmo em áreas onde os centros de devolução de garrafas foram construídos, como na Califórnia, não têm sido muito frequentados e, de fato, diminuíram 40% nos últimos dois anos.18
Rejeição ao Plástico Decola
Um crescente movimento de “rejeição ao plástico” também está decolando no Reino Unido, em Hong Kong, na Coréia do Sul e no Canadá, onde quem compra seus mantimentos embalados, remove todas as que forem de plástico e devolvem à loja. Os contêineres de resíduos plásticos, em grande parte não recicláveis, agora tornam-se reveladores e pelo volume de material rejeitado, ajuda a aumentar a percepção que leva à conscientização de quanto plástico descartável é adicionado aos alimentos embalados.
O British Retail Consortium (nt.: Consórcio Varejista Britânico) disse que estão fazendo o impossível no sentido de reduzir o lixo plástico, inclusive oferecendo utensílios e canudos que não sejam de plástico, embalado os tomates em bandejinha de papelão e permitindo que os consumidores levem seus próprios recipientes para compras de peixe e de carne.
Ainda assim, a produção global de plástico continua a subir, crescendo de pouco mais de 300 milhões de toneladas em 2014 para cerca de 625 milhões de toneladas até 2038.
Enquanto os fabricantes de plásticos valorizam os méritos dos plásticos que ajudam os alimentos a permanecerem frescos por mais tempo, percorrerem longas distâncias e evitarem a contaminação, os envolvidos no movimento da rejeição aos plásticos dizem que as pessoas deveriam comprar alimentos locais de quem os adquire parcimoniosamente não gerando assim desperdícios, empregando recipientes reutilizáveis e guardando em refrigeradores domésticos para se evitar os plásticos descartáveis.19
Mais Banimento das Sacolas Plásticas para Compras
Em outro movimento positivo na luta contra o lixo plástico, os supermercados de Ohio, da cadeia Kroger, uma das maiores dos Estados Unidos, anunciaram que vão retirar gradualmente as sacolas plásticas de suas lojas, com total eliminação até 2025. Estão encorajando os clientes a mudarem para o uso de sacolas de compras reutilizáveis em vez disso. Outras empresas e governos também incrementam, onde se incluem: 20
- Starbucks e Marriott International, que têm planos de eliminar os canudos plásticos de suas lojas;
- Califórnia, que baniu o uso de sacolas descartáveis em supermercados e grandes lojas varejistas;
- Quênia, que introduziu o banimento das sacolas plásticas em 2017.
Se ainda se estiver usando sacolas de plástico, lembrar-se de que elas geralmente não podem ser adicionadas à sua lixeira de reciclagem. As instalações de reciclagem municipais, muitas vezes, não reciclam os sacos de plástico porque podem ficar presos em suas máquinas causando danos.
Muitos mercados, no entanto, têm caixas de coleta onde você pode colocar sacos plásticos para serem reciclados. Uma aposta melhor, no entanto, é usar sacolas reutilizáveis e descartar as inteiramente feitas de plásticos efetivamente recicláveis.
Itens Comuns que Não se Pode Reciclar
Muitas pessoas jogam itens questionáveis em suas latas de reciclagem, na esperança de lhes dar uma chance de serem reciclados, mas a realidade é que certos itens não recicláveis irão ser jogados na lata de lixo no centro de reciclagem.
Pior, alguns dos itens podem acabar contaminando cargas inteiras de materiais recicláveis que, de outra forma, teriam passado para outros usos. Além de sacolas plásticas, os itens a seguir também não podem ser reciclados (para verificar as diretrizes de reciclagem em sua área, entre em contato com a unidade local):
Qualquer coisa menor do que as notas de recados (Post-it), por serem tão diminutas são difíceis de serem separados apropriadamente. Aqui também estão as tampinhas de garrafas plásticas, a não ser que sejam atarraxada nas próprias garrafas.Esvaziar todo o líquido serão a garrafa será descartada. | Plástico que não apresenta certo formato. |
Envelopes forrados de bolhas | Papel encerado e caixa tipo pizza com lâmina interna de papel encerado |
Fraldas descartáveis | Aparelhos eletrônicos |
Copos de papel com revestimentos brilhantes, como xícaras para de café quente | Tigelas de papel para comida com lâmina interna de plástico |
Lâmina metalizada de saco de batata | Caixas de pizza gordurosas (se a tampa de papelão não estiver suja, pode ser reciclada) |
Tampa metalizada de embalagens de iogurte (no entanto, embalagens de alumínio e latas com biscoitos ou bolos podem ser aceitas se forem removidos os resíduos alimentares o mais possível) |
O Que se Pode Fazer para Cortar o Lixo Plástico?
Com a quantidade de plástico usada em todo o mundo, pode parecer uma façanha intransponível cortá-lo. Mas isso pode ser feito passo a passo, um bocado de plástico a cada vez. Não subestimemos o impacto que uma pessoa pode gerar ao fazer simples ajustes em sua vida diária.
Sentiremos falta realmente daquele canudo de plástico para a bebida? Precisamos realmente de uma sacola descartável para levarmos para casa um ou dois itens da loja? Nos EUA, é crucial repensar nossa sociedade descartável e nos tornarmos mais criativos de forma sustentável. O ideal é procurarmos comprar produtos que não sejam feitos ou embalados em plástico.
Outro ponto importante é escolher reutilizável sobre os descartáveis de uso único, o que é possível na maioria dos casos. Optar pelo seguinte irá nos ajudar a aproximar-nos de um estilo de vida de desperdício mínimo, mantendo a quota de poluição de plásticos fora dos oceanos:
Usar sacolas reutilizáveis nas compras de supermercados | Leve seu próprio recipiente de sobras para restaurantes |
Trazer a própria caneca para café e levar água potável de casa em garrafas de água de vidro em vez de comprar água engarrafada | Não solicitar saco plástico para o jornal e quando na limpeza a seco |
Armazenar alimentos em recipientes de vidro ou de cerâmica, em vez de recipientes de plástico e sacos plástico para congelamento | Evitar utensílios descartáveis e canudos e comprar alimentos a granel quando puder |
Optar por aparelhos de barbear não descartáveis, produtos de higiene femininos laváveis para mulheres (feminine hygiene products), fraldas de pano, lenços em vez de lenços de papel, panos em vez de toalhas de papel e brinquedos infantis feitos de madeira em vez de plástico | Evitar alimentos processados (que são armazenados em sacos plásticos com produtos químicos). Comprar produtos frescos em vez disso e renunciar aos sacos de plástico |
Limpar os Oceanos Traz Esperança
É fácil entender a quantidade de plástico que circula nos oceanos do mundo, incluindo o Great Pacific Garbage Patch, que cobre 1,6 milhão de quilômetros quadrados da superfície do Oceano Pacífico, tornando-se a maior massa de plástico oceânico em todo o mundo.
A Ocean Cleanup, uma organização sem fins lucrativos desenvolve tecnologias avançadas para livrar os oceanos do plástico, estimou que levaria milhares de anos para limpar esse lixo usando redes e embarcações convencionais, mas felizmente eles têm outro plano – uma coleta passiva de lixo, um sistema que eles estimam que pode remover metade do plástico coletado em adesivos em apenas cinco anos, como é mostrado acima.
Usando as forças oceânicas naturais, incluindo vento, ondas e correntes, o sistema canaliza o plástico para um litoral artificial. O plástico é então recolhido por uma embarcação de apoio ou “caminhão de lixo do oceano” e transportado para a terra. Esperamos que o sistema seja um sucesso e que todos possamos nos unir para reduzirmos a quantidade de plásticos gerados, usados e descartados.
Fontes e Referências
- 1, 14 Scientific American September 4, 2018
- 2 Plastic Oceans, The Facts
- 3 Huffington Post May 24, 2017
- 4, 10 The Center for Biological Diversity, Plastics Pollution
- 5 Environ. Sci. Technol. 42, 13, 5026-5031
- 6 Microbeads – New York Attorney General – New York State
- 7 Research Letters December 2015; 10(12)
- 8 Science of the Total Environment August 1, 2018
- 9 Environ. Sci. Technol., 2018, 52 (17), pp 9656–9665
- 11 Scientific Reports September 24, 2015
- 12 Environ Pollut. 2017 Feb;221:218-226.
- 13 PLOS One April 11, 2018
- 15 U.S. Environmental Protection Agency, Advancing Sustainable Materials Management: Facts and Figures
- 16, 17, 18 Huffington Post August 22, 2018
- 19 CNN August 2, 2018
- 20 NPR August 23, 2018
Fonte – Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, Nosso Futuro Roubado de outubro de 2018
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