Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Gelo Artico recua tanto no inverno que dá passagem para navios
O Inverno já acabou no Ártico e o balanço não é animador. Foi um dos Invernos mais quentes algumas vez registados, com consequências graves no recuo dos gelos no Oceano Ártico. O recuo foi tão acentuado que, pela primeira vez, um cargueiro conseguiu cruzar a rota norte do Ártico durante o Inverno. De acordo com os especialistas, as alterações climáticas justificam as altas temperaturas naquela região do globo e as tempestades que têm fustigado a Europa e o norte dos EUA.
O gelo no Oceano Ártico nunca foi tão escasso, mostram os dados do Centro Nacional Neve e Gelo norte-americano. A situação é particularmente preocupante junto do estreito de Bering, que liga os oceanos Pacífico e Ártico entre a Rússia e os Estados Unidos. Nessa zona, a extensão ocupada pelo gelo recuou para cerca de 14 milhões de quilômetros quadrados durante as três primeiras semanas do mês de Fevereiro. É uma área de um milhão de quilômetros quadrados a menos do que o normal para a época, equivalente à área de um país como o Egito.
“As pressões baixas registadas a leste da Península do Kamchatka [na Rússia] e as pressões altas registadas no Alasca e no Yukon [Canadá] em Fevereiro originaram ventos de Sul que trouxeram ar quente e águas oceânicas quentes à zona do Oceano Ártico que toca o Pacifico, impedindo a formação de gelo a sul”, explica o centro norte-americano.
No lado Atlântico aconteceu algo semelhante, com as pressões baixas registadas na costa da Groenlândia e as pressões altas registadas no norte da Eurásia a levarem o calor oceânico para Norte.
A temperatura está anormalmente elevada para a época do ano. Das quase 30 estações meteorológicas do Árctico, pelo menos 15 registaram temperaturas 5,6º centígrados acima do normal.
O diretor do Centro de Neve e Gelo norte-americano, Mark Serreze, estuda o Ártico desde 1982 e diz que o que está a acontecer não tem precedentes. “Estas vagas de calor – nunca vi nada assim”, comenta, em declarações ao Guardian.
Em Fevereiro, a estação meteorológica Cape Morris Jesup, na Gronelândia, a cerca de 650 km a sul do Pólo Norte, registou 61 horas seguidas de temperaturas acima dos zero graus Celsius. São temperaturas anormalmente elevadas para uma altura do ano em que o Sol não se levanta no Pólo Norte.
As temperaturas altas – que em termos de valores se assemelharam às de Maio – fizeram descer o ar frio para Sul, oferecendo uma explicação possível para as tempestades de gelo que têm assolado a Europa e o Noroeste dos EUA. A redução durante muito tempo do gelo no oceano Árctico – causada pelas alterações climáticas – deixa a água que está por baixo exposta, a libertar calor para a atmosfera. Isso pode perturbar as correntes de jacto, que são como rios de vento na atmosfera, a alta altitude, tiras finas e com correntes de alta velocidade que podem afetar os padrões climáticos.
“A corrente de jacto torna-se mais ondulada, o que significa que mais ar frio pode chegar a Sul, e mais ar quente pode penetrar a Norte”, disse Nalan Koc, director de investigação do Instituto Polar Norueguês, citado pela Reuters.
Fontes – Público / Julio Ottoboni, Envolverde de 07 de março de 2018
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