Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Gelo do Ártico contém até três vezes mais microplásticos do que se pensava
Cientista prepara núcleo de gelo marinho do Ártico para análise de microplásticos. (Alfred-Wegener-Institut / Tristan Vankann/Divulgação)
Amostras de gelo de cinco regiões do oceano Ártico contêm até 12.000 partículas microplásticas por litro, revela pesquisa publicada na Nature Communications
A poluição dos oceanos por microplásticos já atinge escalas preocupantes, chegando nas áreas mais pristinas da Terra. Em um novo estudo publicado na revista Nature Communications, cientistas relatam que a concentração de micropartículas de resíduos plásticos encontradas no gelo marinho do Ártico é bem maior do que se imaginava: de duas a três vezes superior.
As amostras de gelo de cinco regiões do Oceano Ártico contêm até 12.000 partículas microplásticas por litro de gelo marinho, segundo os especialistas do instituto alemão Alfred Wegener, do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha (AWI). Além disso, os diferentes tipos de plásticos pareciam ter uma origem comum, permitindo aos pesquisadores rastreá-los até as possíveis fontes.
Sem surpresas, eles associaram parte da poluição plástica à Grande Porção de Lixo do Pacífico, uma imensa “mancha de lixo flutuante” situada entre a Califórnia e o Havaí. Outra parte, composta por uma alta porcentagem de tinta e partículas de náilon apontavam para a intensificação das atividades de transporte e pesca em algumas partes do Ártico.
Por serem extremamente pequenas, praticamente microscópicas (menos que um vigésimo de milímetro de largura), tais partículas poderiam ser facilmente ingeridas por microrganismos árticos, acumulando-se na cadeia alimentar, alertaram os pesquisadores.
A preocupação se justifica, já que não se sabe ao certo o quão prejudiciais as partículas de plástico são para a vida marinha no longo prazo nem, por tabela, para os próprios seres humanos, que estão no topo da cadeia alimentar. A equipe de pesquisadores coletou as amostras de gelo durante três expedições ao Oceano Ártico na primavera de 2014 e no verão de 2015.
(Alfred-Wegener-Institut / Tristan Vankann/Divulgação)
Para determinar a quantidade e distribuição de microplástico no gelo marinho, os pesquisadores analisaram os núcleos de gelo usando espectrômetro infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), uma técnica que bombardeia micropartículas com luz infravermelha e usa um método matemático especial para analisar a radiação que eles refletem de volta. Dependendo de sua composição, as partículas absorvem e refletem diferentes comprimentos de onda, permitindo que toda substância seja identificada por sua impressão digital óptica.
“Usando essa abordagem, descobrimos partículas de plástico com apenas 11 micrômetros de diâmetro. Isso representa aproximadamente um sexto do diâmetro de um fio de cabelo humano e também explica porque encontramos concentrações de mais de 12.000 partículas por litro de gelo marinho, o que é de dois a três vezes mais do que o que havíamos encontrado em medições anteriores”, diz o cientista Gunnar Gerdts, em comunicado.
A densidade e composição das partículas variaram significativamente de amostra para amostra. Foram identificados 17 tipos diferentes de plástico no gelo do mar, incluindo materiais de embalagem como polietileno e polipropileno, mas também tintas, nylon, poliéster e acetato de celulose (usado principalmente na fabricação de filtros de cigarro). Em conjunto, estes seis materiais representaram aproximadamente metade de todas as partículas de microplástico detectadas.
Os pesquisadores ainda não sabem se as partículas de plástico permanecem no Ártico ou se são transportadas mais para o sul. Elas também podem se depositar em águas profundas, já que são frequentemente colonizadas por bactérias e algas, o que as torna mais pesadas e propensas a descer para o fundo. Em estudos anteriores, os pesquisadores registraram concentrações de microplásticos de até 6500 partículas de plástico por quilograma de fundo do mar, valores extremamente altos.
Fonte – Vanessa Barbosa, Exame de 05 de maio de 2018
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