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Glifosato é prejudicial

Glifosato é prejudicial, falam os autores da pesquisa: “Os resultados são ainda preliminares, mas o risco é real”

Os pesquisadores do Instituto Ramazzini: “Pensava-se que doses pequenas fossem isentas de riscos e que o organismo tivesse condições de eliminá-las. A nossa análise da urina dos ratos mostra o contrário”

No dia em que a Suíça coleta 100 mil assinaturas para um referendo que proíbe todos os pesticidas, sem exceção, em Bruxelas o Instituto Ramazzini reabre o caso do glifosato, o herbicida mais difundido no mundo, suspeito de ter efeitos nocivos para a saúde bem além do que reconhecem as autoridades oficiais. Pesquisadores do Instituto de Bolonha – estruturado como uma cooperativa social e financiado por contribuições voluntárias dos cidadãos – apresentaram os dados preliminares de um estudo sobre os efeitos do glifosato em ratos. “Alguns desses dados já foram aprovados para publicação na revista Environmental Health. Outros ainda estão em processo de aprovação. Mas, diante de um risco para a saúde pública, não podíamos mais esperar. Tivemos que falar”, explica Fiorella Belpoggi, diretora da área de pesquisa do Ramazzini.

Os dados que emergiram dos estudos já aprovados, que serão publicados em 29 de maio, referem-se ao acúmulo do pesticida no corpo. “Pensava-se que doses pequenas fossem isentas de risco e que o organismo tivesse condições de eliminá-las”, explica Belpoggi. “Nossa análise em urina de ratos mostra o contrário. O glifosato se acumula no organismo. Quanto maior a exposição, mais os níveis aumentam.” No Ramazzininão administraram doses elevadas de pesticida. Significativamente, expuseram suas cobaias ao que os Estados Unidos indicam como a “ingestão diária aceitável”: 1,75 microgramas por quilo de peso corporal por dia, adicionado à água oferecida ao animal. Os limites europeus são bem mais baixos: 0,5 microgramas. “Mas a ordem de grandeza do problema continua a mesmo”, observa Belpoggi. Trata-se de doses que cada um de nós poderia legalmente ingerir todos os dias.

Um segundo problema – cada vez mais documentado pelos estudos aprovados pela Environmental Health – diz respeito ao microbioma: o conjunto de microorganismos que vivem em nosso organismo (especialmente no trato digestório) e sobre os quais a medicina atual nunca para de descobrir novas funções importantes para a saúde . Em filhotes de ratos que beberam glifosato na água, em uma idade correspondente nos seres humanos à pré-puberdade, o microbioma resultava mais pobre de bactérias Firmicutes e mais rico de Bacteroidetes. Os efeitos dessa alteração na saúde não são especificados. A composição exata de nosso microbioma ainda apresenta aspectos a serem esclarecidas e os pesquisadores de Bolonha, em seu estudo piloto, limitam-se a ressaltar o problema. A próxima etapa do Ramazzini será justamente de ampliar o número de cobaias e de submeter os ratos a pelo menos três diferentes doses diferentes de glifosato, para ter uma informação mais precisa sobre os seus efeitos.

Mais preocupantes – mas ainda não aprovados para publicação na revista científica – são os estudos sobre os efeitos tóxicos do glifosto no DNA e sobre a saúde reprodutiva dos animais. O Ramazzini, sobre esses pontos, não forneceu nenhuma pesquisa escrita, mas listou os resultados verbalmente na conferência de imprensa organizada em Bruxelas em colaboração com o Grupo dos Verdes do Parlamento Europeu. “Nas células da medula óssea dos ratos, especialmente os mais jovens, notamos a quebra frequente do DNA. Os mecanismos de reparação celular são capazes de remediar esse dano, mas não sabemos com que grau de eficiência.” A observação não oferece um contributo sólido para a dúvida mais grave que paira em torno do glifosato: sobre a sua carcinogenicidade. “Nós ainda não estamos em condições de responder à pergunta se o pesticida aumenta o risco de câncer. Precisamos de mais pesquisa e mais dados”, confirma Belpoggi. “Considerando que nossos estudos ainda estão em curso, ainda não podemos oferecer indicações aos legisladores. Mas o que vimos, ainda que parcial e limitado, que não agradou. Não seria eticamente correto para um pesquisador manter esses dados na gaveta”.

Apenas uma semana atrás, o Ispra (Instituto Superior para a Proteção e a Pesquisa Ambiental) apresentou seu relatório sobre as águas subterrâneas. Dois terços das águas superficiais (rios, lagos, canais) e um terço das águas subterrâneas estão contaminados com pesticidas. 24% das águas superficiais e 8,3% das águas subterrâneas excedem os limites da legislação. O contaminante mais difundido é justamente o glifosato. Nada com que se surpreender: desde a sua introdução, em 1974, foram pulverizados no mundo 8,6 bilhões de quilos, especialmente em plantações de culturas OGM (Organismos Geneticamente Modificados / Transgênicos).

O último ponto discutido pelos especialistas do Ramazzini refere-se à saúde reprodutiva dos ratos expostos às doses diárias de glifosato. “Percebemos um pequeno efeito androgênico”, explica Belpoggi, antecipando os dados ainda em curso de avaliação por parte dos revisores da revista. É como se os animais, a partir do momento em que são formados como embriões fossem expostas a níveis anormais de hormônios masculinos. “O efeito é observado especialmente nas fêmeas, que atrasam significativamente a idade do primeiro estro. Transpondo a idade dos roedores para a idade humana, é como se o desenvolvimento das meninas acontecesse aos 17-18 anos em vez de ser aos 12-13”. Outro parâmetro utilizado para detectar os desequilíbrios hormonais nos organismos, é a distância entre o ânus e os órgãos genitais. “Aqui também detectamos um aumento, pequeno, mas significativo”. Que efeito isso poderia ter sobre a saúde reprodutiva não está claro. Junto com a aula no Parlamento de Bruxelas, o que o Instituto Ramazzini fez foi disparar um sonoro aviso de alarme.

Fonte – Elena Dusi / La Repubblica / tradução Luisa Rabolini, IHU de 17 de maio de 2018

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