Por Elton Alisson - Agência FAPESP - 19 de abril de 2024 - Cerca de 90% da…
Há algo de errado com a sua refeição
(Foto: Thomás Arthuzi)
“O que posso fazer para transformar o mundo em um lugar melhor?” As primeiras cenas de Cowspiracy, documentário lançado em 2014 e que recebeu atenção mundial após a Netflix disponibilizar a produção no serviço de streaming em setembro deste ano, levantam uma questão que volta e meia faz barulho em muita consciência. Kip Andersen, diretor do filme, fez esse mesmo questionamento após assistir ao documentário Uma Verdade Inconveniente, produção assinada por Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos entre 1993 e 2001.
Os dados apresentados sobre a influência humana no aumento de gases de efeito estufa na atmosfera, que fez subir a temperatura terrestre em 0,85°C nas últimas décadas, motivou Andersen a assumir uma série de compromissos pessoais, como diminuir o tempo dos banhos, trocar o carro pela bicicleta no deslocamento urbano e reciclar aquilo que consumia.
A certeza de realizar uma grande contribuição para o futuro da humanidade caiu por terra após um amigo compartilhar no Facebook a notícia de um relatório divulgado em 2006 pelas Nações Unidas, afirmando que a pecuária gerava 18% da quantidade de gases de efeito estufa, superior em cinco pontos percentuais às emissões de gás carbônico de todo o setor de transporte do mundo. Diante dessa informação, Andersen procurou instituições governamentais, ONGs, empresas e pesquisadores para chegar à conclusão de que o modelo de consumo da humanidade – e, sobretudo, nossos hábitos alimentares – são insustentáveis e esgotarão os recursos da Terra caso mudanças definitivas não ocorram em um curto horizonte de tempo. Mas para entender a gravidade desse desequilíbrio, é necessário compreender como alcançamos o atual sistema de produção de comida.
Convenhamos que acordar segunda-feira de manhã não está entre os momentos mais agradáveis da semana, mas imagine ter de sair de casa todos os dias para buscar o próprio alimento – e isso não significa caminhar até a padaria para comprar pãezinhos quentes. Os primeiros Homo sapiens a ocuparem o planeta dedicavam-se à busca de vegetais comestíveis ou animais para caça e, quando eventualmente topavam com um bicho feroz, as chances do caçador se tornar a presa da vez aumentavam consideravelmente.
Tudo mudou graças à construção do arado, ferramenta criada há mais de sete mil anos para descompactar a terra e torná-la propícia ao cultivo de plantas em maior escala. O feito tecnológico levou à geração de excedentes alimentícios, que possibilitou a divisão do trabalho em diferentes atividades e deu o pontapé para um novo tipo de sociedade, cada vez mais especializada.
A comida, responsável por suprir as necessidades biológicas do ser humano, tornou-se uma mercadoria valiosa – de acordo com as últimas estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro gasta em média 16% de sua renda mensal em alimentação. Com fatias cada vez maiores de lucro, a humanidade dominou a natureza para fabricar mais recursos nutricionais: há 10 mil anos, 99% da quantidade de biomassa animal correspondia a bichos selvagens; hoje, animais criados para a alimentação humana e nós, Homo sapiens, fazemos parte de 98% da matéria viva do planeta.
Nas últimas décadas, a produtividade por hectare – unidade de medida para superfícies agrárias que corresponde a uma área semelhante a um campo de futebol – aumentou no Brasil, com seis vezes mais grãos colhidos na mesma área e dez vezes mais carne obtida por hectare. “No país, houve um salto tecnológico para o desenvolvimento de uma agricultura tropical, que aumentou a produtividade e diminuiu os preços”, afirma Rodrigo de Brito, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária, a CNA.
Acontece que essa lógica de produção e criação animal trouxe consequências ambientais mais graves do que o próprio processo de industrialização, com um impacto sem precedentes na emissão de gases de efeito estufa, no consumo crescente de água potável e na exaustão das terras cultiváveis. Tudo isso para garantir aquela picanha do churrasco de domingo ou o rosbife assado do cardápio da ceia natalina. “O consumo de carne aumenta o impacto ambiental, com o desmatamento nas áreas de florestas, emissões de gases poluentes e mudanças nas incidências de chuvas”, afirma Paulo Barreto, mestre em Ciências Florestais pela Universidade Yale e pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Em estudo apresentado neste ano, Barreto reuniu dados sobre o impacto ambiental da atividade agropecuária, responsável por 62% do total de emissões brasileiras de gases poluentes em 2013. Desse índice, a criação de gado ocupa posição privilegiada: a fermentação no intestino dos animais foi responsável por 76% das emissões de gases poluentes do setor agrícola brasileiro em 2013, com a liberação do gás metano, que tem potencial poluente 25 vezes superior ao gás carbônico, e do óxido nitroso, liberado no esterco do animal, 296 vezes mais danoso que o CO2.
Em média, cada boi ou vaca produz de 250 a 500 litros de metano por dia – só no Brasil, o rebanho está estimado em 212 milhões de cabeças de gado, de acordo com números do IBGE. O bilionário volume tóxico é somado à derrubada de vegetação nativa para a abertura de pastos, que diminuem o número de árvores responsáveis por sequestrar o gás carbônico durante o processo da fotossíntese e consequentemente aumentar a quantidade de poluentes na atmosfera. De 2000 a 2013, o rebanho bovino aumentou em 70% na região amazônica, passando de 47 milhões de cabeças de gado para 80 milhões – não por acaso, 65% das áreas desmatadas da região deram lugar a pastos.
A expansão territorial para as atividades da pecuária, aliás, não se restringem à destinação de espaços para os animais viverem: relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU) indica que metade dos grãos produzidos no planeta é utilizada para os 70 bilhões de animais criados para a alimentação humana. “Um quilo de carne de frango custa dois quilos de ração e os porcos se alimentam com o dobro dessa quantidade”, diz o professor Carlos Armênio Khatounian, do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP). “O resultado disso é uma produção cada vez maior de cereais e o uso de terra para fornecer ração animal.”
Além da expansão de monoculturas de grãos, como soja e milho, a criação de animais também contribui indiretamente para o consumo de cada vez mais água doce – 70% do consumo desse recurso vêm da agricultura, de acordo com relatório do programa climático das Nações Unidas de 2011. Segundo informações coletadas pela organização Water Footprint Network, a média de água utilizada na produção de um quilo de corte bovino sem osso corresponde a assustadores 19,4 mil litros de água, o equivalente a 143 banhos de 15 minutos de duração ou 431 duchas de cinco minutos.
A substituição do consumo dessas carnes por uma alimentação de peixes e frutos do mar seria a solução, portanto? Não exatamente. “A pesca é, de longe, o principal impacto à saúde dos oceanos”, diz Monica Peres, diretora geral da Oceana Brasil, que trabalha com a conservação da biodiversidade dos oceanos. “Nas áreas costeiras, a poluição e a destruição de habitat são mais perceptíveis, mas na medida em que vamos em direção ao oceano, a pesca se torna o impacto mais importante.” Em 2014, a produção total da piscicultura brasileira foi de 474,33 mil toneladas, de acordo com dados do IBGE. O problema é que a lista oficial do Ministério do Meio Ambiente já considera 475 espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçadas de extinção, por conta de alterações no habitat e a captura insustentável. Além dos números oficiais, a FAO indica que de 11 a 26 milhões de toneladas de peixes por ano são capturados de maneira ilegal no mundo, que geram um valor aproximado de US$ 10 bilhões a US$ 23 bilhões. Se nem o bacalhauzinho da ceia está garantido, o que resta de esperança para a humanidade?
Em Cowspiracy, Kip Andersen levanta a bandeira de que é possível tornar o mundo mais sustentável a partir da suspensão do consumo de carne e outros produtos derivados dos animais, como leite, ovos e margarina – grupo de alimentos ricos em proteínas, os macronutrientes que participam de processos celulares fundamentais para o funcionamento de nosso organismo.
Nutricionistas e médicos concordam que uma dieta exclusivamente vegetariana é possível de ser adotada por adultos, que consumiriam a proteína vegetal de produtos como feijão, lentilha, grão de bico, soja e ervilha. Nesse caso, a única deficiência seria a da vitamina B12, presente em maior quantidade nos produtos de origem animal e importante para a constituição do sangue – nesse caso, a vitamina seria consumida pelos vegetarianos estritos em forma de suplemento nutricional sintético. “Gerações de famílias vegetarianas não são anêmicas, mas têm uma estrutura e peso menor que os humanos onívoros em longo prazo”, afirma o médico Roberto Navarro, especialista em nutrologia. “Além do aumento dos índices de colesterol, o excesso de proteína afeta o funcionamento dos rins e pode prejudicar a composição de cálcio dos ossos.” A recomendação para o consumo diário de proteínas é de 0,8 a 1,2 gramas por quilo ou 300 gramas de carne por semana.
Se não há maiores justificativas nutricionais para o consumo excessivo de carne, por que fazemos questão de rechear o nosso prato com um belo pedaço de bife a cada refeição? “Passamos por estágios de fome na história e o consumo de carne era uma marca de distinção social”, diz a nutricionista Julicristie Oliveira, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Campinas (Unicamp). “Quando era presidente, Lula dizia que o brasileiro já podia comer carne, em um exemplo da melhora do poder de compra.” De fato, entre 2002 e 2014, a população subalimentada no Brasil caiu 82,1%, por um esforço de políticas públicas associado ao crescimento econômico da exportação de produtos da agropecuária: a soja é o principal produto da balança comercial brasileira, o país é líder na produção de frango e tem a meta de suprir 44,5% do mercado mundial de carne bovina até 2020. “Há 40 anos, o consumo anual de produtos de origem animal na China era de quatro quilos por habitante, e isso incluía leite, ovos e peixe”, diz o professor Carlos Armênio Khatounian. “Hoje, esse índice é de 80 quilos anuais e o que possibilitou isso foi a expansão da soja no Brasil para a produção de ração.”
Mesmo com a instabilidade econômica, a expectativa do setor agropecuário é ser responsável por R$ 1,2 trilhão do Produto Interno Brasileiro (PIB) deste ano, praticamente um terço do total das riquezas nacionais, com participação de R$ 816,1 bilhões da agricultura e R$ 391,6 bilhões da pecuária, consideradas as diferentes etapas de produção.
A contradição presente em nosso atual modelo de desenvolvimento, que contrapõe a economia nacional com a sustentabilidade ambiental, não se restringe às grandes propriedades monocultoras e à criação de animais. Assim como a carne, o hábito de comer certos vegetais sem levar em conta suas características geográficas e sazonais também produz desequilíbrios pelo uso excessivo de agrotóxicos ou fertilizantes artificiais que esgotam os recursos naturais da terra e poluem o lençol freático – dados da FAO afirmam que o mau uso de fertilizantes aumentou o teor de fósforo nos sistemas de água doce em 75%, proliferando algas que afetam o equilíbrio da biodiversidade. “Sabe por que o tomate, a batata e o morango utilizam tanto veneno? Porque eles são plantas de adaptação forçada em nosso ambiente”, afirma o professor Khatounian, da ESALQ. “As populações humanas adaptaram sua dieta e padrão de sabor naquilo mais abundante em cada quadrante do planeta, o gosto é uma criação sociocultural.”
Em artigo sobre a história da alimentação, o pesquisador afirma que esses vegetais desembarcaram em território brasileiro por conta da imigração, utilizando doses de agrotóxicos para controlar as pragas locais – de acordo com a FAO, a agricultura causa mais de 40 mil mortes por envenenamento por pesticidas a cada ano no mundo. Mas como se não bastasse ainda há as toneladas de comida que diariamente têm o lixo como destino.
Destino da gula
Chega a ser inacreditável o fato de que, até dezembro de 2015, ainda existissem mais de 800 milhões de pessoas em condições de pobreza extrema e fome, segundo os últimos dados da ONU. Enquanto isso, o desperdício global de comida é estimado em 1,3 bilhão de toneladas, o equivalente a um terço da produção total mundial, a um custo perdido de US$ 750 bilhões de dólares e uma área de 1,4 bilhão de hectares, equivalente a 28% da área total ocupada pela agricultura no mundo. Cerca de 45% de todas as frutas e legumes, 35% dos peixes e frutos do mar e 20% da carne vão para o lixo e são responsáveis pela emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta. “O transporte é, possivelmente, a principal causa dos danos mecânicos, cuja intensidade varia com a distância a ser percorrida e o tipo de produto transportado”, diz Antônio Gomes Soares, pesquisador da Embrapa. “Em um país com dimensões continentais como o Brasil, transportar frutas e hortaliças, que são altamente perecíveis, em estradas ruins e caminhões sem refrigeração, permite o aumento substancial das perdas.” De acordo com a instituição, metade das 26,3 milhões de toneladas anuais perdidas no Brasil ocorre durante o manuseio e transporte dos alimentos, enquanto 30% do desperdício acontece nas centrais de abastecimento e comercialização.
Para ajudar a solucionar esse problema, a carioca Luciana Quintão fundou em 1998 a ONG Banco de Alimentos, que entra em contato com distribuidores e supermercados para recolher alimentos que seriam desperdiçados e os distribui para instituições que atendem atualmente a quase 22 mil pessoas. “No lixo da cidade, mais da metade do material orgânico é resto de alimento”, diz Luciana. “Há um grave problema que é cultural: grande parte da população joga fora talos e sementes, enquanto poderia aproveitá-los na hora de preparar o alimento.”
A FAO afirma que, em 2013, 500 mil toneladas de alimentos foram poupadas do desperdício por meio dos bancos de alimentos: só na América Latina, 190 mil toneladas foram distribuídas a 12,7 mil organizações de 15 países. Desenvolvido em parceria com 50 restaurantes do Rio Grande do Sul e de São Paulo, o projeto Satisfeito foi idealizado em 2012 por conta de um desconforto comum na hora em que o prato pedido chega à mesa. “A gente se dá conta que a refeição é maior do que a nossa fome”, diz Luiza Esteves, coordenadora da iniciativa realizada pelo Instituto Alana, organização que realiza trabalhos na área de sustentabilidade.
Ao participar do Satisfeito, o restaurante pode indicar ao cliente uma troca: há a possibilidade de pedir um prato com a porção menor de comida pelo mesmo preço da quantidade original. O valor economizado pela empresa é doado ao projeto, que já disponibilizou cerca de 130 mil refeições repassadas a organizações. “Essa é uma mudança de cultura, porque vemos aquela ideia do prato bem servido, mas as pessoas estão cada vez mais conscientes em relação à sustentabilidade”, afirma Luiza. Em São Paulo, um restaurante de porte médio desperdiça quase 10% do produto total em serviços de bufê; já o modelo à la carte pode registrar 40% de perdas.
Que fazer?
Caso tenha chegado até o final desta reportagem, por favor, não desista da sua ceia natalina após encontrar essa aparente espiral de caos que fundamenta o atual modelo de desenvolvimento alimentar, abastecimento e consumo. As mudanças de nossos hábitos alimentares serão irreversíveis nos próximos anos, mais provavelmente por mudanças decorrentes de movimentos econômicos do que por catástrofes naturais. “A indústria de tabaco alegava que a propaganda contra o cigarro desempregaria muita gente, mas esse argumento ignora a flexibilidade da economia e a criação de novas oportunidades”, diz Carlos Armênio Khatounian. “Uma dieta com menos carne poderia gerar novos postos de trabalho na área de produção agrícola e nutricional, além de uma nova diversidade de produtos, mas o fato é que isso não acontecerá de uma hora para a outra.” Nunca subestimem a capacidade de transformação do capitalismo, afinal.
Quem compartilha uma opinião semelhante ao do professor da ESALQ é o norte-americano Dan Barber, chef do restaurante nova-iorquino Blue Hill e autor do livro O Terceiro Prato (editora Casa Amarela, 480 páginas). Na obra, Barber propõe soluções para superar o atual sistema alimentar a partir de uma gastronomia que respeite as particularidades culturais e os ciclos biológicos de cada território, além de aproximar o pequeno agricultor do consumidor, a partir da valorização da produção familiar e orgânica. “Com o fim do modelo de agricultura ‘industrial’, teremos de mudar as estruturas de como consumimos a comida”, diz o chef em entrevista à GALILEU. “Isso significa mais diversidade e menos componentes químicos nas fazendas, com dietas mais ligadas à realidade ecológica”. O “terceiro prato” proposto por Barber para o futuro é composto de grãos, legumes e vegetais, sendo que a carne será utilizada como um condimento. E o mais importante de tudo, sem perder o sabor e o prazer de se alimentar bem. “A comida cultivada do jeito correto e com o tipo adequado de ecologia é invariavelmente mais gostosa.”
Mas se o futuro não é tão ruim assim, o que é possível fazer agora para mudar a nossa relação com a comida? A consciência de consumo é um primeiro passo importante para tornar os hábitos mais sustentáveis, como verificar a procedência das mercadorias compradas nos mercados – cerca de 60% da carne consumida no Brasil provém dos três maiores frigoríficos que publicam relatórios socioambientais sobre a compra de carne de origem lícita. O problema é que 40% da carne vendida ainda vêm de origem incerta e duvidosa. Mas como colocar pressão para que os supermercados parem de comprar carne de fazendas que desmatam a floresta? Para tentar responder a essa pergunta, o Greenpeace publicou o estudo Carne ao molho madeira – vamos colocar a floresta na frente dos bois, que realizou um questionário com os principais supermercados do país para entender a política de aquisição de carne. O resultado foi decepcionante: entre as grandes empresas, nenhuma se saiu bem. “Hoje pode se dizer que, de forma geral, a carne vendida nos supermercados brasileiros é de origem duvidosa”, afirma Adriana Charoux, coordenadora da campanha de pecuária da ONG. “Não quer dizer que toda a carne seja suja, só não dá para garantir que a carne está livre de desmatamento.”
Apesar de sofrer pressões do agronegócio e com o desafio de produzir alimentos para cada vez mais pessoas, os produtores familiares que não utilizam agrotóxicos no cultivo de vegetais também ganham destaque como alternativa sustentável para o futuro. “Experiências agroecológicas mais avançadas mostram que é possível produzir mais e respeitar a biodiversidade, acumulando água para recuperar o solo”, afirma Denis Monteiro, da Secretaria da Articulação Nacional de Agroecologia. “Uma das propostas do movimento agroecológico é promover os mercados locais: ao invés de levar um produto transportado em uma distância de mil quilômetros você estimula aquilo que é produzido localmente.” Apesar de não eliminar completamente a necessidade de trazer alimentos de outros lugares, quanto menor o espaço de deslocamento, mais fresco chegará o produto, poupando o meio ambiente da emissão de poluentes dos caminhões de transporte.
O brasileiro consome, em média, 40 quilos de carne vermelha por ano: em uma conta feita com o Greenpeace, se 10% da população tirasse a carne do cardápio em um dia do mês, o impacto ambiental seria melhor do que se 1% dos habitantes do país parasse de comer carne da noite para o dia. De qualquer maneira, antes de iniciar a sua ceia natalina, lembre-se que o peru desossado e sem penas era um ser vivo – e, apesar de ser a primeira vez que a ética e o cuidado com os animais é citada nesta reportagem, essa é uma questão essencial para uma mudança definitiva em relação à maneira como nos relacionamos com nossa comida.
Fonte – Thiago Tanji, reportagem Gustavo Poloni, Marcia Schuler e Samuel Lima, Galileu de 17 de março de 2017
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