Por Ana Flávia Pilar - O Globo - 11 de novembro de 2024 - Com modelo…
Impactos dos agrotóxicos
Em reportagem de Pedro Carrano, pesquisas médicas apontam que os agrotóxicos prejudicam a saúde das pessoas que trabalham com essas substâncias químicas. Os agrotóxicos estão entre os principais agentes tóxicos no país, com índices abaixo apenas de medicamentos, animais peçonhentos e produtos sanitários.
Este impacto pode ser definido de forma mais evidente a partir dos chamados efeitos agudos nos trabalhadores, mas há também os efeitos crônicos.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), 28% dos mais de 8 mil casos de contaminação estão relacionados a circunstâncias profissionais.
São Paulo e Rio Grande do Sul estão nas primeiras posições. Os índices são elevados também na Bahia e em Santa Catarina. A SINITOX também apontou que foram registrados, no país, mais de 19 mil casos de intoxicação por agrotóxico.
O médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati, enumera as doenças causadas pelos agrotóxicos nos trabalhadores.
“São agravos, na saúde, agudos e crônicos. Intoxicações agudas e crônicas, má formação fetal de mulheres gestantes, neoplasias, distúrbios endócrinos, distúrbios neurológicos e distúrbios respiratórios.
Produtos são desviados para os centros urbanos para ser usado como raticida. O produto glifosato, aplicado no cultivo de soja transgênica, é responsável por 51% do uso de agrotóxicos no país. Perceberam que a monsanto sempre está envolvida? Olá, monsanto.
Há, no Brasil, cerca de 451 produtos ativos e 1,4 mil produtos no mercado, cada um com nocividade específica. Os especialistas admitem que é difícil desvendar o nexo entre a doença e o produto que a causou.
Um dos problemas é a chamada subnotificação das ocorrências, que acontece porque não se reconhece o vínculo entre a doença do trabalhador e a sua causa. Por isso, os dados de intoxicação são ainda maiores.
No Mato Grosso, o médico Pignati realiza estudos comparando dados epidemiológicos das regiões do estado com diferentes níveis de utilização de agrotóxicos. Nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma incidência três vezes maior de intoxicação aguda.
“Analisando por regiões o sistema de notificação de intoxicação aguda da secretaria municipal, estadual e do Ministério da Saúde, percebemos que onde a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarreia, vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares, além de doenças subcrônicas que aparecem um mês ou dois meses depois da exposição, e de tipo neurológico e psiquiátrico, como a depressão.
De acordo com Gilberto Salviano da Silva, assessor da Secretaria de Saúde do Trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT), há uma política de saúde do trabalhador mais consistente entre os trabalhadores urbanos. Mas os casos de acidentes e doenças na zona rural ainda têm menor notificação.
“O que notamos é que todas as normas em saúde do trabalhador têm sido focadas no trabalhador da cidade, então existem normas mais presentes e avançadas no setor da metalurgia, no setor financeiro, químico, da construção civil, e nem por isso, com estas normas, se conseguiu diminuir o número de acidentes de trabalho no Brasil; temos que entender que sempre foram subnotificados. Temos o problema dos empresários que negam as doenças e não comunicam.”
Salviano entende que o índice de notificações é insuficiente. Desde abril de 2007, começou a aumentar devido ao novo modelo de concessão de benefícios do INSS, denominado como Nexo Técnico Epidemiológico da Previdência Social (NETEP).
Dessa forma, tem aumentado o número de registros de acidentes e doenças no Brasil. De acordo com o assessor da Central única dos Trabalhadores (CUT), em 2006 foram registrados 510 mil acidentes. Em 2008, as estatísticas apontavam para quase 750 mil acidentes de trabalho.
“Essa subnotificação de doenças dificulta a visibilidade sobre o que acontece no local de trabalho. E o setor rural existe ausência de informações, doenças e mortes por consequência dos agrotóxicos, o que dificulta as ações de políticas públicas. Esta subnotificação no campo, é parecida com a da cidade”.
Se nega que os trabalhadores fiquem doentes no campo. O serviço médico não está preparado para o diagnóstico; às vezes, os trabalhadores se contaminam ou morrem, e aparecem outras doenças. Logo, as dificuldades no campo, têm sido maiores.
Para a prevenção dos acidentes, Salviano compara as ações realizadas contra o uso do material amianto na construção civil. Hoje o amianto está proibido em uma série de estados do Brasil, por meio da articulação internacional com entidades contrárias ao uso deste material.
“Começar a chamar a atenção civil e criminal daqueles que fabricam produtos que provocam impacto no meio ambiente, morte e doença dos trabalhadores, caminho possível para fazer valer a justiça social”, diz ele.
O uso de agrotóxicos provoca efeitos graves na saúde humana, como o desequilíbrio do sistema endócrino, infertilidade masculina, más formações e abortos, efeitos nas crianças e doenças no sistema nervoso.
Os impactos para a saúde dos trabalhadores do campo, pelo uso dos agrotóxicos, evidenciam a necessidade de um debate sobre o tema no amplo conjunto da sociedade.
Cada bioma tem uma realidade específica, e gera um trabalho específico, mas o da produção saudável, de ter saúde, é questão hegemônica
Referência
Impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do campo
Fonte – Roberto Naime – Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale, EcoDebate de 19 de janeiro de 2016
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