Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Leis e ações ambientais atuam na redução de microplásticos no meio ambiente
95% do lixo das instituições de Denise é reciclado.
Rio de Janeiro regulamenta o uso de plástico e escola de Volta Redonda aposta na educação ambiental.
A cidade do Rio de Janeiro se tornou a primeira cidade brasileira a proibir canudos de plásticos em bares, restaurantes, lanchonetes e afins. Na quinta-feira (19) foi iniciada a fiscalização da vigilância, que atende ao decreto Rio 44.731, publicado quarta-feira (18) no Diário Oficial do Município, que em norma determina aos estabelecimentos, fornecerem canudos de papel biodegradável e/ou reciclável individual e hermeticamente embalados com material semelhante, na substituição do plástico.
De acordo com a medida, a destinação do material descartável deve ser de responsabilidade das entidades ou empresas cadastradas no órgão municipal competente, para fins de reciclagem ou reaproveitamento. A informação sobre os resíduos sólidos e o tempo de degradação na natureza também deverá ser disponibilizada em um local visível, para a conscientização das pessoas.
O lixo encontrado na superfície do litoral brasileiro, em sua maioria, consiste em plástico, e os prejuízos disso afetam diretamente tanto o meio ambiente quanto os seres humanos, por isso medidas como a adotada no Rio são necessárias para evitar o aumento da quantidade já abundante de microplástico no ecossistema. Valdilene Soares, de 47 anos, trabalha há 6 anos como caixa de um supermercado em Volta Redonda, que há uns meses adotou medidas que despertam no cliente uma maior consciência ecológica e ajuda no uso desnecessário de sacolas plásticas.
– Não deixamos mais as sacolas à vontade, entregamos diretamente a quantidade necessária para o cliente e ajudamos a embalar, para que não aja desperdício. A gente adotou essas medidas faz um tempo, através do treinamento da Central. Consegui ver uma redução significativa após isso. – contou Valdilene
De acordo com ela, algumas pessoas já tem a consciência ambiental e fazem o uso de caixas, ou compram as bolsas ecológicas que são vendidas no estabelecimento, enquanto outras trazem de casa, como é o caso de Mauricio de Mello, de 80 anos, que estava fazendo compras no local com sua sacola ecológica.
– Tenho o costume de trazer as minhas sacolas ecológicas porque é importante fazer a substituição das sacolas plásticas. Embora eu não esteja aqui pra ver os resultados, a gente já tem exemplos das consequências que a falta de preservação com o meio ambiente traz para todos nós.
Além das leis existem diversas maneiras de se combater a poluição e incentivar a consciência de preservação do meio ambiente. A educação ambiental nas escolas é a medida adotada pela Diretora Denise de Campos Telles Menchise, coordenadora e idealizadora do Programa “Brasil Reciclado”, que surgiu com o intuito de trazer reflexões sobre a necessidade do desenvolvimento de atitudes e soluções sobre a sujeira existente e o acúmulo de lixo encontrados nos pátios das instituições de ensino da região.
– A ideia de transformar o lixo em matéria prima para a execução de jogos pedagógicos e obras de arte, como o “projeto reciclar para vestir”, “reciclar para brincar”, “reciclar para plantar”, entre outros. E, com isso, trocar consumo por atitudes simples, valorizar afeto e cada momento vivido. Além disso, também desenvolver o compromisso da coleta seletiva em casa e direcionar o que sobrasse para a venda, cujos resultados eram empregados na realização de políticas sociais – contou a professora.
O projeto foi instalado nas três instituições de ensino Academia da Criança, ICT e FASF desde 1983, sendo uma destinada à educação infantil e fundamental, na qual é diretora, uma destina a ensino técnico até a faculdade, conseguindo reciclar 95% de todo lixo. Desde a idealização do projeto já reciclamos o total de 135 toneladas de material, dentre os materiais reciclamos papelão, papel arquivo, latas, sucata ferrosa, plástico, garrafa pet e jornais. Aos poucos as escolas passaram a ser centros de arrecadação constante, recebendo materiais recicláveis, sejam através das campanhas pré?estabelecidas ou simplesmente apresentando?se como receptora deste material. Outro projeto interessante realizado pelo programa Brasil Reciclado é a reutilização de Banners de lonas, onde são destinados para fabricação de eco bolsas, estojos e envelopes. As crianças e adolescentes acompanham cada etapa e assimilam na prática uma relação empreendedora com o mundo, percebendo inclusive o quanto todos lucram com esta atitude.
– Na prática, as crianças participam direcionando materiais recicláveis para a escola, que por sua vez negocia com empresas que compram este material, recolhendo assim recursos que financiam o projeto. A verba arrecadada gera a fabricação de brindes que retornam aos alunos fechando assim o ciclo e promovendo a valorização do processo e do envolvimento de todos. Não podemos mais viver neste mundo sem consciência ecológica, responsabilidade social, fé na vida, no futuro na natureza e principalmente no ser humano – explicou Denise.
Denise capacitando os funcionários das escolas.
O estudante de oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Douglas Parreira, de 23 anos, explica que de toda água presente na Terra, cerca de 97% é de água salgada, sendo responsável por 70% da produção do oxigênio terrestre e absorvendo 30% das emissões humanas de gás carbônico. Como um “pulmão” da Terra, diz ele.
– Devido à circulação das correntes marinhas superficiais da Terra, o lixo plástico no oceano se concentra nos grandes giros, formando verdadeiras “Ilhas de Plástico” no meio do mar. Muitos dos animais marinhos confundem esses plásticos com comida, estima-se que por ano morrem 1 milhão de aves marinhas devido à ingestão do plástico. As tartarugas marinhas também são muito afetadas por não conseguirem distinguir uma água viva de uma sacola plástica, por exemplo. – conta ele.
O plástico nos oceanos configura um novo ambiente para o desenvolvimento de bactérias, e muitos desses microrganismos são tóxicos para o homem. Parte dos plásticos dos oceanos são chamados “microplásticos”, com origem em diversos produtos de cosméticos e de higiene, como na pasta de dente por exemplo, que acabam sendo introduzidos pelo escoamento dessas partículas, informa o estudante de oceanografia.
Ele ressalta que os chamados “Poluentes Orgânicos Persistentes” (POPs) presente no plástico são altamente tóxicos para diversos animais, inclusive os homens, podendo causar danos aos sistemas reprodutivo, nervoso, imunológico e endócrino, além de serem cancerígenos e causarem deformações em fetos e abortos espontâneos. Na biologia, os POPs tem a capacidade de se “bioacumular” e “biomagnificar”, isto significa que na direção do topo da cadeia alimentar, onde estão as pessoas, a concentração desses poluentes aumenta. Está diretamente relacionado à alimentação dos zooplancton na base da cadeia, que é comido pelos peixes, que é comido pelos homens.
O plástico no ambiente marinho tem origem nas regiões costeiras ao redor do mundo que são imensamente habitadas, comunica Douglas. Por ser um material muito leve, ele aprendeu que o plástico é levado facilmente para os oceanos através da água de rios, chuva e até mesmo pela ação do vento, e está diretamente relacionado ao descarte inadequado do material. Estima-se que 8 milhões de toneladas de plástico são descartados nos oceanos por ano.
De acordo com os estudos de Douglas os principais motivos para o desequilíbrio são: o consumo desnecessário ou excessivo, seguido por um descarte incorreto do material; ausência ou alcance reduzido de uma coleta seletiva e reciclagem; falta de uma legislação, programas, planos, investimentos que busquem reduzir atividades com potencial impacto nos mares; empresas que produzem plástico em excesso; setor pesqueiro devido aos seus equipamentos perdidos e deixados no mar principalmente em atividades ilegais como a sobreexploração e pesca fantasma.
– Importante citar o porquê da abundancia do plástico. É um material de fácil disseminação, baixo custo, difícil degradação, alta durabilidade, fácil dispersão e flutuabilidade. “O bom do plástico é por que ele dura. O ruim é que ele dura”. O tempo de degradação do plástico no ambiente é de centenas de anos, chegando até 450 anos. Pela lógica é certo dizer que todo plástico produzido no planeta, ainda está no planeta. – revela o estudante.
Segundo dados da CleanSea e da ONU, estima-se que em 2050 teremos mais plásticos nos oceanos do que peixes, quando a produção de plástico no planeta chegará a marca de 33 Bilhões de Toneladas!
Embora todos os problemas com o excesso de plástico seja reais, existem projetos como desenvolvimento de plástico orgânico comestível e biodegradável, desenvolvimento de bactérias que se alimentam do plástico além de projetos de reciclagem são vistos mundo a fora.
O aluno aconselha a trocar o material plástico por materiais mais sustentáveis sempre que possível, proibir os microplásticos na indústria, caso a não seja biodegradável e projetos de reaproveitamento do lixo plástico.
– Muito mais do que esperar uma medida do governo, a conscientização da população sobre o assunto é muito importante, uma simples mudança de hábito pode ajudar a salvar o planeta com a redução dos usos de materiais descartáveis de único uso, como sacolas, canudos, copos, garrafas, tampinhas, dentre outros. Ou ainda, a busca de uma coleta seletiva na sua cidade para o melhor descarte deste material e deixar de jogar lixo na rua ou nas praias. – conclui ele.
Fonte – Diário do Vale de 13 de agosto de 2018
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