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Lixo eletrônico pode ser altamente perigoso com manuseio inadequado

Estudo identificou taxas anormais de metais como chumbo e cádmio em catadores. JN apresenta série sobre o problema do lixo eletrônico no mundo.

A vida conectada exige aparelhos, que vão ficando obsoletos. A cada passo da tecnologia, eles viram lixo. E um lixo muito perigoso de ser manuseado.

Região da Santa Efigênia. Importante comércio de eletrônicos, em São Paulo. A poucos quarteirões de onde são vendidas as últimas novidades, a equipe da TV Globo encontrou um estabelecimento. O dono, conhecido como ‘alemão da sucata’, conta que já foi chefe de um centro de processamento de dados.

“O lixo que eu dava. O cara ganhava mais do que eu. O cara chegou pra mim e falou “Por que você joga fora? Por que você não vende isso?”, contou Antonio Geraldo Rinaldi, comerciante.

Tudo tem seu valor. Um ou outro aparelho ainda pode funcionar. O restante… “A gente quebra, a gente corta, tira o fio, tira o alumínio, tira as placas de circuito integrado”, afirmou Antonio.

Ali mesmo, na calçada. “Tem material que custa R$200, R$300 quilo”, contou Antonio.

A sucata eletrônica pode ser meio de vida, mas tem seus perigos. Um estudo da Faculdade de Medicina da USP já identificou taxas anormais de metais como chumbo e cádmio no sangue de catadores.

“É um sinal de alerta pra gente pensar ‘bom, alguma coisa está acontecendo’. Por que essas pessoas têm mais cádmio do que uma pessoa que não trabalha com aqueles resíduos, naquelas condições de trabalho?”, disse Nelson Gouveia, médico e professor do Departamento de Medicina Preventiva/USP.

E queimar peças para separar os metais, gerando fumaças tóxicas, só aumenta o perigo. “Essa reciclagem tem que ser feita com condições mínimas de segurança”, afirmou Nelson Gouveia.

O trabalho dos catadores é fundamental para a reciclagem de lixo. Mas no caso do eletrônico, exige capacitação.

“Não é muito complicado, não. É muito bom. Eu aprendi: dentro do computador, aquelas peças que é a placa mãe, tem a ventoinha, tem o processador, tem o processador, tem o DVD”, disse Maria Carmelita Santos de Jesus, catadora.

Cursos como o do projeto Eco Eletrônico, parceria da USP com o Instituto GEA, uma organização não-governamental, já passaram por várias capitais brasileiras. Os resultados, para os catadores, são quase imediatos.

A informação e a qualificação abrem horizontes. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Cotia, na grande São Paulo. Uma cooperativa de catadores e recicladores já tem 15 anos, mas há apenas quatro os chamados resíduos eletrônicos deixaram de ser tratados como lixo comum. Mudaram de endereço, bem pertinho.

Lá dentro, em plena atividade, a Renilda aplica e repassa o treinamento que recebeu.

“A gente jogava tudo isso, tudo ia pra sucata a preço de nada. Então, as pessoas que vinham e pegavam acho que eles enricaram nas nossas custas. Quando você não aprende, você não sabe nada, fica difícil”, afirmou Renilda Maria de Sousa, catadora.

Cena gravada em Manaus, grande polo da indústria eletroeletrônica, onde visitamos uma cooperativa de catadores. O treinamento para lidar com eletroeletrônicos certamente não chegou até lá. O pessoal diz que recebe um volume bem pequeno desse tipo de material. E de uma televisão, só aproveita o plástico e alguns metais.

Jornal Nacional: Mas e o vidro, o tubo mesmo?
Catadora: Nós não temos mercado pra ele.
Jornal Nacional: Vai pra onde?
Catador: Para o lixão.

Manaus tem um único grande aterro sanitário legalizado e vários lixões clandestinos, na periferia, como o mostrado no vídeo, ao lado de uma área ocupada por centenas de famílias de sem-teto. Do outro lado, Floresta Amazônica.

O visual por trás do lixão mostra a quantidade de material que existe acumulado ao longo de anos. E que de lá de cima, a gente não percebe, porque ela vai sendo aterrada. Só que um dos lados fica descoberto e encostadinho na mata.

Uma investigação da Câmara Municipal e da Prefeitura de Manaus, nesta e em outras áreas, encontrou materiais vindos de 17 empresas do polo industrial da cidade. O Ministério Público do Amazonas abriu inquéritos para apurar a responsabilidade das indústrias.

“Elas alegam que contrataram terceirizadas e que, em função disso, elas se eximem de qualquer responsabilidade, mas a lei federal que trata da questão de resíduos sólidos deixa bem claro que ela tem responsabilidade até a destinação final dos resíduos”, afirmou Everaldo Farias Lima, Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Manaus.

A procuradora do Instituto de Proteção Ambiental do estado diz que é preciso fiscalizar para evitar abusos, mas que a solução definitiva depende de investimento em reciclagem.

“É preciso que o setor produtivo veja o lixo como um produto, passível de gerar emprego e renda, e uma renda substancial. Na hora que se entender que o lixo aqui produzido, como em qualquer outro lugar, é uma oportunidade de desenvolvimento econômico, é uma oportunidade de negócios, ele deixa de ser lixo”, disse Ana Eunice Aleixo, diretora-presidente do IPAAM.

Clique aqui para assistir.

Fonte – G1

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