Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Lixo eletrônico será de responsabilidade do fabricante
A indústria brasileira de eletrônicos começa a se preparar para uma nova era, com a mudança de conceitos sobre o destino dos produtos fabricados. Se até então, a responsabilidade das empresas terminava na porta das lojas ou nas mãos do consumidor, agora surge um novo caminho: o Projeto de Lei 1991/07 que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com previsão para ser votado em abril, responsabiliza o fabricante pelo descarte do seu produto após o término da vida útil. Computadores, impressoras, celulares, entre outros produtos usados, terão que voltar para a indústria.
De acordo com o artigo 61 do projeto de lei, “os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos deverão ser obrigatoriamente segregados na fonte geradora, coletados e destinados em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelos órgãos competentes”. A futura legislação determina o prazo de dois anos, a partir da publicação, para adequação dos fabricantes quanto aos procedimentos específicos para os resíduos de eletroeletrônicos.
Já o artigo 62, enfatiza essa obrigatoriedade ao estabelecer que fabricantes, distribuidores, importadores, comerciantes e revendedores são responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos eletroeletrônicos em todas suas fases, desde a geração até a disposição final. A futura legislação coloca em evidência uma modalidade do novo milênio – a logística reversa, levando o produto de volta ao fabricante, com o fluxo de resíduos gerados direcionado para a cadeia produtiva.
O Projeto de Lei é resultado das propostas debatidas ao longo dos últimos sete anos em seminários regionais e nacionais com diversos segmentos da sociedade civil. O texto foi concebido por um grupo interministerial, formado pelos Ministérios do Meio Ambiente, Cidades, da Saúde, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Fazenda e Casa Civil.
Manufatura reversa
A política nacional de resíduos sólidos vai além da obrigatoriedade sobre a destinação final. O projeto de lei, em seu artigo 17, aponta que somente cessará a responsabilidade do gerador de resíduos sólidos, quando estes forem reaproveitados em produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos. Se aprovado, o projeto dará novo estímulo para empresas que atuam na cadeia da reciclagem e reaproveitamento de commodities.
A Oxil Manufatura Reversa e Gerenciamento de Resíduos, empresa sediada em Paulínia (SP), com dez anos de atuação e pioneira nesse processo, especializou-se no gerenciamento de resíduos de grandes fabricantes de equipamentos de informática, telefonia, eletroeletrônicos e eletrodomésticos e hoje transforma 99,7% do que recebe em matéria-prima para a fabricação de novos produtos. A empresa atende grandes fabricantes de eletroeletrônicos que têm a preocupação com a destinação de seus produtos, desde equipamentos obsoletos, fora de linha, ou aqueles que o fabricante já recolhe juntos aos consumidores.
Segundo a analista ambiental da Oxil, Talita Ancona, a aprovação da legislação já é o começo de um caminho que o país precisa trilhar. No entanto, a responsabilidade ambiental precisa ser massificada também junto ao consumidor. “A população ainda não está conscientizada sobre a importância da reciclagem”, afirma Talita.
A analista ambiental reforça o fato de que o avanço tecnológico gera cada vez mais o lixo eletrônico. Mundialmente são produzidas cerca de 50 milhões de toneladas do chamado e-lixo, o correspondente a 5% de todo o lixo gerado pela humanidade. A troca cada vez mais rápida dos produtos contribui para o aumento desse volume. No ano passado foram vendidos mais de 7 milhões de computadores e a cada quatro ou cinco anos esses equipamentos são trocados pelos consumidores. Em 2008, a previsão é que sejam vendidos 8,5 milhões de computadores.
O processo de manufatura reversa reaproveita o lixo eletrônico, transformando cada peça desmontada em matéria-prima para novos produtos, vindo ao encontro do que prevê o artigo 17 da futura legislação. Em um computador, todos os componentes desmontados, são separados pelo tipo de material. Nesse procedimento a Oxil obtém 41% de metal ferroso, 40% de polímeros, 7% de placas, 4% de fios, cabos e conectores, 3% de papel e papelão, 3% de vidro e 2% de metal não ferroso. Já uma impressora gera vários materiais, como o plástico da estrutura e dos cartuchos, borracha e metal dos cilindros de impressão e papelão e isopor da embalagem. Os plásticos e as placas são triturados formando granulados. Ao final do processo, todo o material está pronto para ser reutilizado como matéria-prima.
Assim, dentro da cadeia produtiva, um CD se transforma em cabide, o pó do toner da impressora vira pigmento para cabo de panela, o PVC dos fios do computador é utilizado para fabricar sola de calçado, o vidro do monitor do computador será usado para a fabricação de vitrificação de piso cerâmico e o isopor da embalagem pode integrar a decoração da casa, seja como parte da moldura de um quadro ou no rodapé da sala.
Além de preservar o meio ambiente e contribuir com a cadeia produtiva na geração de matéria-prima, a Oxil também garante a proteção da marca dos fabricantes. Para atender aos seus clientes, a empresa possui os mais rigorosos procedimentos internos de segurança que vão desde a parte logística, no transporte e armazenamento dos produtos, passando pela manipulação de todo o material que inclui a completa destruição dos manuais, adesivos e etiquetas das marcas, até a destinação de todos os reciclados. Além disso, os fabricantes recebem um laudo final da descaracterização dos lotes recebidos e, quando necessário, acompanha material fotográfico.
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