Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
Londrina, PR – Coleta seletiva não emplaca
Separação de orgânicos, recicláveis e rejeitos não é feita corretamente; central de tratamento funciona como lixão
Cerca de seis meses após a implantação da coleta de lixo diferenciada na Região Central de Londrina, a reportagem da Folha constatou que a separação e a coleta dos resíduos não estão acontecendo de acordo com a proposta inicial. Com isso, a Central de Tratamento de Resíduos (CTR) também não funciona como deveria e vem funcionando praticamente nos mesmos moldes do antigo lixão.
Motoristas dos caminhões coletores admitiram que pouca coisa mudou com a inauguração do aterro no Distrito de Maravilha (Zona Sul), que em cerca de dez alqueires conta com vala emergencial, duas lagoas de tratamento de chorume e quatro barracões de compostagem.
”Há um barracão específico para a Região Central, mas apenas o lixo que já vem separado de casa é depositado neste local. O restante é depositado tudo junto”, informa um motorista.
Com a nova coleta, os resíduos deveriam ser separados em três categorias: orgânico, reciclado e rejeito. A Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização fez em setembro do ano passado uma campanha de conscientização e distribuiu material informando que o caminhão coletor recolheria o lixo orgânico às segundas, quartas e sextas-feiras e o rejeito, às terças e quintas. A coleta do reciclável, feita pelas organizações não governamentais (ONGs), não sofreu mudanças.
Boa parte da população, no entanto, não está separando o lixo de forma adequada e, consequentemente, o caminhão coletor da Prefeitura não está recolhendo os resíduos em dias alternados. ”Temos que cobrar o município para que as coisas comecem a funcionar corretamente, o que infelizmente não vem acontecendo. Além disso, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) tem que ser mais firme em relação ao assunto”, afirma a promotora do Meio Ambiente, Solange Vicentin.
Segundo ela, é preciso investir em educação ambiental, pois a população ainda não está consciente sobre a importância da separação do lixo. ”Só é possível realizar a triagem dos resíduos no aterro se o lixo chegar de casa separado de maneira correta”, ressalta.
O responsável pelo setor de licenciamento do IAP, Eliton Bembem, disse que está aguardando a documentação referente ao pedido de licenciamento ambiental para a instalação do aterro, que vai chegar de Curitiba. ”Com isso, vamos averiguar se está faltando alguma documentação ou projeto para a instalação do local. Se houver alguma discordância, vamos solicitar as correções necessárias e fiscalizar para que o aterro funcione de forma adequada”, declara.
O presidente da CMTU André Nadai admite que a coleta diferenciada está acontecendo com dificuldade. ”No último mês, fizemos 1,5 mil notificações, pois muita gente não está seguindo as recomendações”, informa. De acordo com ele, parte da população separa os resíduos adequadamente, mas coloca os sacos juntos na rua, dificultando a coleta.
Ele ressalta que a CMTU tem a intenção de estender a coleta diferenciada para os bairros, com o objetivo de melhorar o funcionamento da CTR. ”A CTR ainda não está instalada plenamente. O IAP precisa liberar a licença de instalação. Nossa intenção é fazer uma triagem final dos resíduos por meio da instalação da usina de compostagem, que foi comprada há mais de dez anos pelo município. Queremos realizar uma compostagem melhor, enterrar os rejeitos adequadamente e fazer os reciclados voltarem para as ONGs e cooperativas para o reuso”, declara.
Segundo a CMTU, a quantidade de lixo produzido por habitante em Londrina é de 1,07 quilos por dia. Desse total, 25% são reciclados.
É necessário aumentar a conscientização
Para Cleuber Moraes, professor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e consultor ambiental, o fato dos resíduos não serem devidamente separados prejudica a vida útil do aterro.
”O que estava projetado para durar 25 anos, talvez dure oito ou nove. Quanto mais resíduos chegam sem separação na CTR, um volume maior de lixo vai para as valas e a vida útil do aterro vai diminuindo. Com isso, teremos que procurar outra área para uma nova CTR, o que custa muito caro e é pago pelo cidadão”, enfatiza. De acordo com ele, não há riscos de contaminação ambiental, uma vez que as valas são impermeabilizadas.
Segundo Moraes, a CTR funciona dentro dos padrões legais e operacionais. ”O que falta é um sistema eficiente de triagem por parte da população e uma coleta mais eficiente. O município não está conseguindo fazer esse trabalho prévio”, observa. Na opinião dele, é preciso colocar em prática ações capazes de melhorar a logística da coleta e reciclagem dos resíduos por parte da população. ”Além disso, é necessário aumentar as campanhas de conscientização e educação ambiental por parte das escolas, igrejas, associações de bairros e sociedade como um todo. O município deve avaliar o processo para que haja melhoria constante”, considera Moraes.(P.C.B.)
Cronograma de recolhimento não é respeitado
A população também está enfrentando problemas com o lixo reciclável. Uma reclamação frequente é que os coletores demoram para passar e, com isso, um volume expressivo de materiais fica acumulado.
Síndica de um condomínio situado na Área Central, Ana Maria Losi Marques de Jesus conta que até dezembro a coleta estava acontecendo de forma satisfatória. ”A cooperativa passava três vezes por semana, recolhia o lixo e deixava sacos verdes”, explica. No entanto, segundo ela, a partir de janeiro a situação mudou. ”A cooperativa parou de passar, pois a CMTU começaria a fazer o serviço. Nosso lixo já chegou a ficar 15 dias acumulado”, afirma.
Ana Maria entrou em contato com associações de recicladores pedindo para buscarem o lixo. ”Disseram que não podem recolher sem a autorização da CMTU.” Depois de muita insistência, a cooperativa que recolhe o lixo do prédio vizinho começou a pegar os materiais do condomínio de Ana Maria. ”Eles estão fazendo uma gentileza, mas passam apenas uma vez por semana e o lixo acumula demais. Além disso, não deixam sacos em quantidade suficiente”, observa.
A coleta de lixo diferenciada também não está funcionando. ”Estamos separando o orgânico do rejeito em sacos de cores diferentes, conforme fomos orientados. Mas o caminhão da Prefeitura não pega os resíduos em dias alternados. Depositam tudo junto”, acrescenta.
Sub-síndica de um condomínio situado na Vila Ipiranga (Área Central), Cristina Eliana Jans também está insatisfeita com a periodicidade com que os caminhões passam recolhendo o material reciclável. ”O lixo fica acumulado. Estou indignada com a forma como as coisas vêm acontecendo. O caminhão coletor, que deve recolher o rejeito e o orgânico, já chegou a levar até reciclado. Isso porque separamos o lixo em sacos de cores diferentes, como é o recomendado”. A CMTU não respondeu às várias solicitações de entrevista feitas pela reportagem.(P.C.B.)
Lixo produzido em Londrina
Cada londrinense produz, em média, 1,07 quilos de lixo por dia
Desse total, 25% são reciclados
Fonte – Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMYU) / Davi Baldussi, Folha de londrina de 21 de abril de 2011
Por isso a importância de lei para multar quem não fizer a separação do lixo que gera. Ninguém muda através de educação ambiental, mas através da multa, muda rapidinho.
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