Skip to content

Maior seca dos últimos 100 anos provoca crise hídrica no Ceará e gera restrições de consumo

Açude Castanhão, um dos três maiores do estado do Ceará. Foto: Everardo Onofre/Ministério da Integração Nacional

Desde 1910, o Ceará não passava por uma seca tão severa como a dos últimos cinco anos, revela levantamento feito pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), com base nos volumes de chuva dos últimos 100 anos. Antes desse período de estiagem, somente a seca de 1979 a 1983 havia sido tão grave e longa: a média anual de chuvas registrada na época foi de 566 milímetros (mm). De 2012 a 2016, a média caiu para 516 mm.

A pouca água acumulada nos reservatórios, chuvas abaixo da média histórica, o crescimento da população nas zonas urbanas e o incremento de atividades econômicas no estado são fatores que, aliados, culminam na crise hídrica atual.

Segundo o presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), João Lúcio Farias de Oliveira, os 153 açudes monitorados pelo órgão tiveram recarga média de 890 milhões de metros cúbicos (m³) em cada um dos últimos cinco anos de seca. A média anual histórica do estado é de 4 bilhões de m³. “As reservas foram caindo a cada ano, e temos perdas por evaporação muito altas: chegam a 2 mil milímetros, quando a média pluviométrica do Ceará é de 800 milímetros”, compara.

Oliveira informou que, com o fim da quadra chuvosa deste ano no Ceará (período que vai de fevereiro a maio), a Cogerh elaborou cenários com medidas e decisões necessárias para manter o abastecimento humano e as atividades econômicas no estado, notadamente na região metropolitana de Fortaleza, altamente dependente da Bacia do Rio Jaguaribe (onde fica o Açude Castanhão), que hoje tem 20% menos de água nas torneiras.

Dos açudes monitorados pela Cogerh, sete são responsáveis pelo abastecimento da região metropolitana, entre os quais os três maiores reservatórios do estado: Castanhão (capacidade para 6,7 bilhões de m³ água); Orós (1,9 bilhão de m³); e Banabuiú, (1,6 bilhão de m³). De acordo com Orós é considerado reserva estratégica e estava sendo preservado, mas começou a ofertar água para o sistema da região agora em setembro. Atualmente, o Orós conta com 21% do volume útil. O Banabuiú, com 0,58% do total da capacidade, atende hoje somente a demanda local do município, a 220 quilômetros da capital.

Além da limitação da oferta de água para a região metropolitana, Oliveira ressalta as medidas destinadas a gerar novas reservas, como o reúso da água da lavagem dos filtros da Estação de Tratamento de Água Gavião (ETA Gavião), a perfuração de poços na região do Porto do Pecém (vazão estimada de 500 litros por segundo) e a construção de um açude no Rio Maranguapinho, que deverá contribuir com 200 litros de água por segundo.

“Temos condições de chegar à próxima quadra chuvosa com essas ações. Já estamos traçando cenários para o primeiro semestre de 2017 considerando o menor aporte hídrico. Vamos ver o comportamento das chuvas, mas já levamos em conta esses cenários para ver como será a operação dos reservatórios”, diz Oliveira. Ele destaca que as decisões são tomadas a partir de debate com os 12 comitês das bacias hidrográficas do estado, dos quais seis envolvem mananciais que abastecem a região metropolitana.

Crise hídrica no Ceará gera restrições de consumo

Na casa do mestre de obras Francisco Gomes Moreira, de 63 anos, a frequência com que a roupa é lavada diminuiu. E a água usada na máquina de lavar é reaproveitada desde que ele levou para casa um grande recipiente de uma das obras em que trabalhou. “Nosso consumo per capita é muito pouco, e fazemos o máximo possível de economia”, diz Gomes, que mora com a mulher em Fortaleza.

A família é uma das que conseguiram se encaixar na meta de 10% de redução de consumo de água, definida pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) no fim do ano passado para enfrentar os efeitos da seca que atinge o estado há cinco anos. A partir deste domingo (18), porém, a meta vai dobrar: 20%.

Por causa da situação crítica dos reservatórios que abastecem Fortaleza e 17 municípios da região metropolitana, a Cagece foi autorizada a aplicar tarifa de contingência de 20% sobre a média do consumo de água da população – ou seja, os consumidores podem gastar até 80% dessa média, calculada com base no período de outubro de 2014 a setembro de 2015. Quem passar disso fica sujeito a pagar multa de 120% sobre as tarifas.

“Na nossa casa, está tudo dentro do padrão, da meta de 10%. Agora, com 20%, vai complicar um pouco. Vamos esperar chegar a próxima conta d’água para ver como podemos diminuir ainda mais o consumo”, planeja Gomes. A região metropolitana de Fortaleza concentra 3,7 milhões dos 8,9 milhões de habitantes do Ceará.

A nova meta de redução de consumo faz parte do Plano de Segurança Hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza, lançado em agosto, e reflete a diminuição do volume de água que chega para a população e para o comércio e a indústria.

Reservatórios: situação preocupante

A situação do Açude Castanhão, um dos principais reservatórios de abastecimento da região, é preocupante. Considerado o maior açude de usos múltiplos do Brasil, o Castanhão está com apenas 6,6% da capacidade útil, que é de 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³). Com o uso, a falta de chuvas e a evaporação, a cada dia, o volume cai.

Há outas ações em curso para enfrentar os efeitos da seca na região metropolitana, como o reaproveitamento da água da lavagem dos filtros da Estação de Tratamento de Água Gavião ETA Gavião) e a perfuração de poços na região do Porto do Pecém, a cerca de 60 quilômetros de Fortaleza, além de fiscalizações para evitar a perda de água por vazamentos e ligações clandestinas.

O objetivo dos órgãos responsáveis pelos recursos hídricos no estado é evitar o racionamento. “O racionamento seria uma medida extrema, em que não conseguiríamos ofertar água e a população carente seria a mais afetada. Estamos nos esforçando para evitar isso”, afirma o superintendente comercial da Cagece, Agostinho Moreira.

Desde a implantação da tarifa de contingência de 10%, apenas metade da meta foi alcançada. Em julho e agosto (ainda com dados preliminares), a redução de consumo de água ficou em 6%. Agora, mesmo com a meta dobrada, Moreira diz que o dado, antes de ser preocupante, reflete a adesão da população à medida. “O aumento da tarifa de contingência é uma das ações do Plano de Segurança Hídrica. As ações se somam e uma ajuda a outra para a redução do consumo.”

O reúso da água da lavagem dos filtros da ETA Gavião começou no dia 6 deste mês. Segundo Moreira, o sistema que trata essa água e a faz retornar para a população fornece cerca de 300 litros por segundo, o suficiente para abastecer uma cidade com população de 150 mil pessoas.

Fontes – Edwirges Nogueira, da Agência Brasil / EcoDebate de 19 de setembro de 2016

Este Post tem 0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Back To Top