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Mar subirá 20 cm a cada 5 anos de enrolação no clima

Turista fotografa ressaca no litoral do Rio de Janeiro. Inundações vão aumentar na região, revela estudo. Foto: Daniel ScelzaTurista fotografa ressaca no litoral do Rio de Janeiro. Inundações vão aumentar na região, revela estudo. Foto: Daniel Scelza

Mesmo cumprido à risca o Acordo de Paris, elevação média dos oceanos poderá ultrapassar 1,2 metro no ano 2300, sugerem pesquisadores europeus

Não é toda geração que pode se gabar de deixar um legado duradouro e universal para os tataranetos. A nossa deixará pelo menos um: o aumento dramático no nível global dos oceanos, que pode ultrapassar 1,2 metro no ano 2300. E isso ocorrerá mesmo que nós tenhamos sucesso em algo que parece bastante improvável neste momento: cumprir com régua e compasso o acordo do clima de Paris.

Um estudo europeu publicado nesta terça-feira (20) usou uma série de simulações de computador para estimar quanto o mar subirá até o final do século 22, depois que a humanidade parar de emitir carbono.

A elevação do nível do mar é um fenômeno lento, de causas complexas e difícil de estimar. Os cientistas sabem, porém, que o mesmo fator que a torna vagarosa – a imensa inércia do sistema oceânico – garante também que seus efeitos durem séculos, mesmo depois que o fator que a originou (no caso, a poluição decorrente da queima de combustíveis fósseis) tiver desaparecido.

Trata-se da chamada elevação “comprometida” do nível da água. Ela é um dado fundamental para saber o que fazer com a infraestrutura urbana e com as populações que moram perto do mar – como nos deltas asiáticos, nas nações-ilhas do Pacífico e na foz do Amazonas – nas próximas várias décadas.

O esforço tem tudo para ser a maior operação de mudança já realizada pela humanidade num intervalo tão curto: só no Brasil 25% da população vive no litoral e, embora 180 anos pareça muito tempo, pense em como será (e quanto custará) realocar a Baixada Fluminense, o aeroporto Santos-Dumont, o Guarujá, toda a zona insular de Santos, parte da ilha de Santa Catarina e a orla de Boa Viagem, por exemplo. E isso para ficar só por aqui, e só em um aspecto. Um estudo recente mostrou, por exemplo, que migrações internas decorrentes da elevação dos oceanos afetariam todos os Estados dos EUA. Interessa, portanto, mitigar o impacto futuro o máximo possível.

“Eu me pergunto como as próximas gerações vão olhar para nós. Provavelmente pensarão que éramos totalmente doidos”, disse ao OC Matthias Mengel, do PIK (Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos), em Potsdam, Alemanha. No novo estudo, publicado no periódico Nature Communications, ele e seus colegas buscam entender que impacto é esse e de que maneira é possível reduzi-lo enquanto ainda estamos vivos e emitindo CO2.

Os cientistas usaram, para isso, um modelo climático simplificado que simula a resposta ao aquecimento global dos quatro principais fatores responsáveis pela elevação do nível do mar: a expansão térmica dos oceanos, o derretimento das geleiras de montanha, o derretimento da Groenlândia e o da Antártida. O grupo incorporou novas evidências, publicadas nos últimos três anos, de que a impávida Antártida é mais vulnerável ao colapso do que se imaginava.

Dois grandes cenários de cumprimento do Acordo de Paris foram simulados: um no qual se obtém a estabilização das temperaturas da Terra abaixo de 2oC, cortando apenas as emissões de gás carbônico (CO2), e outro no qual se atinge a chamada neutralidade de carbono, com emissões de todos os gases igualando o sequestro em 2050.

Nos dois cenários o grupo buscou também estimar o custo da nossa procrastinação, ou seja, o que acontece com o nível do mar lá na frente quando se adia o ano do pico global das emissões. Simulações foram rodadas com picos em 2020, 2025, 2030 e 2035 e com várias taxas anuais de redução de carbono: 300 milhões, 500 milhões e 700 milhões de toneladas por ano.

Sem surpresa, a conclusão foi que o melhor momento para cortar emissões é agora. Com um pico global de emissões em 2020 e um abatimento anual de todos os gases de 700 milhões de toneladas, o nível do mar em 2300 subiria apenas 72 centímetros, na mediana das projeções (supostamente porque se evitaria um colapso de grande escala do manto de gelo antártico). Deixando o pico de gases-estufa para 2035, o aumento de nível do mar comprometido seria de 1,2 metro.

Não está descartado, embora Mengel e colegas não apostem nisso, que um pico em 2035 produza, no melhor cenário, uma elevação de 1,6 metro e, no pior, de 4,8 metros – uma catástrofe de enormes proporções com potencial para afetar, em maior ou menor grau, todos os habitantes da Terra. Tampouco está descartado que o mar não suba no melhor cenário ou, ao contrário, que um abatimento de emissões acelerado faça a Antártida ganhar gelo e, portanto, rebaixar o nível do mar em 9 cm.

“Estamos escrevendo a história do nível do mar neste momento”, disse Mengel. “Para cada cinco anos de pico de emissões adiado, temos 20 cm de aumento do nível do mar em 2300. Nós tivemos 20 cm desde o início da era industrial então o nível do mar é muito sensível às nossas emissões atuais.”

Questionado sobre se achava factível um pico em 2020, uma vez que a implementação do Acordo de Paris só começará naquele ano, o pesquisador alemão disse que sim, com base na literatura sobre a evolução das emissões nos últimos cinco anos. “No entanto, essa mesma literatura diz que, para isso, os países precisam de metas de redução de emissões mais ambiciosas que as atuais. Se isso é politicamente possível neste momento não é uma questão para a ciência.”

Fonte – Claudio Angelo, Observatório do Clima de 20 de fevereiro de 2018

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