Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Marcas declaram guerra ao plástico mas ainda há muito a fazer
Acabar com palhinhas e copos de plástico é a medida mais imediata adotada pelas mais variadas marcas. Mas a estratégia também passa pela redução de sacos de plástico
A pouco e pouco, as marcas vão estando mais sensíveis à questão de restringir e até mesmo eliminar o uso do plástico. Os casos vão-se multiplicando e o ambiente agradece. O i fez uma ronda por várias marcas e a opinião é unânime: é imperativo mudar as práticas. Uma das guerras assenta no fim das palhinhas pois, na sua maioria, são feitas de plásticos como o polipropileno e o poliestireno que, se não forem reciclados, precisam de centenas de anos para se decompor. Muitas acabam em aterros sanitários ou nos oceanos.
O mais recente caso é o da cadeia Starbucks, que já prometeu deixar de usar palhinhas de plástico até 2020. A cadeia multinacional, que tem 16 lojas em Portugal e mais de 28 mil por todo o mundo, pretende, até essa data, substituir as palhinhas de plástico por soluções menos prejudiciais para o ambiente, como uma tampa reciclável que dispensa palhinha, copos reutilizáveis ou palhinhas feitas de outros materiais que não o plástico.
Segundo a empresa, a medida eliminará a produção anual de mais de mil milhões de palhinhas de plástico para as suas lojas. Para já, esta alternativa está a ser utilizada em 8 mil lojas nos EUA e no Canadá, mas irá chegar a Portugal.
Ainda assim, as tradicionais tampas vão continuar a ser de plástico, mas a marca garante que se trata de um termoplástico resistente que pode ser reciclado muito mais facilmente do que as convencionais palhinhas, que passam a estar disponíveis apenas para situações excecionais, como o caso de clientes com deficiências motoras que precisem realmente do utensílio para ingerir líquidos.
Mas pela ronda feita pelo i, a par dos hipermercados, só as cervejeiras têm vindo a aplicar medidas mais restritivas no mercado nacional. Segundo o setor da distribuição, tanto os super como os hipermercados estão a utilizar menos plásticos e, além do corte nos sacos, estão também a substituir pratos e copos de plástico por material reciclável e a apostar na venda a granel.
A Auchan, que detém a marca de hipermercados Jumbo, pretende “acabar com os plásticos de utilização única” e, como tal, está à procura de alternativas. Uma das soluções passa pela introdução de um saco em papel kraft, utilização de embalagens reutilizáveis para encher na loja ou a aposta nas vendas a granel.
E dá como exemplo a linha de pratos, tigelas e copos descartáveis mas ecológicos – feitos de bagaço de cana-de-açúcar, um recurso renovável e natural e um material biodegradável – e talheres de madeira, que começaram a ser disponibilizados em março.
Já o Lidl comprometeu-se a reduzir em 20% a utilização de plástico até 2025. A primeira medida passou por descontinuar o sortido dos artigos de plástico descartável, como copos e pratos, nas mais de 250 lojas que o grupo tem no mercado nacional. A iniciativa, segundo as contas da empresa, vai evitar a entrada no circuito de 12,5 milhões de copos e de cinco milhões de pratos de plástico descartável por ano.
O Lidl afirma ainda que tem vindo a “adotar diversas iniciativas com vista à redução de plástico”, de que são exemplo as reduções nas embalagens das cápsulas de café – deixam de ter um invólucro de plástico por cápsula e passam a ter embalagens mais pequenas para o mesmo número de cápsulas. Estas alterações, segundo a empresa, “fazem prever uma poupança de cerca de 74 toneladas de plástico apenas neste produto em um ano”.
Mas dá mais exemplos. A quantidade de plástico usada por embalagem nos frutos secos foi reduzida, sem que tal tenha impacto no conteúdo em qualidade e quantidade. Na secção de frutas e legumes, padaria, frutos secos e no caso dos têxteis, as embalagens de plástico deram lugar às de cartão.
Tanto a Jerónimo Martins – dona dos supermercados Pingo Doce – como o grupo Dia admitem que estão atentos a este tema, mas ainda estão a ser analisadas alternativas, nomeadamente materiais biodegradáveis e papel.
Já a Sonae MC, dos hipermercados Continente, aponta a existência de um grupo de trabalho multidisciplinar e transversal a todas as áreas de atuação da empresa para o desenvolvimento e implementação de medidas visando um uso mais responsável do plástico, desde a marca própria, logística e fornecedores até ao nível interno e também da sensibilização do consumidor, a que acresce o trabalho já feito para a redução da espessura de plástico dos diferentes produtos.
Mais avançadas estão as restrições nas cafetarias e restaurantes do Pingo Doce e do Continente. A Jerónimo Martins garante que já aposta em loiças e talheres reutilizáveis nestes espaços, enquanto a Sonae promete, até ao final do ano, acabar com a loiça de plástico, que será substituída por loiça de cerâmica, talheres de inox e copos de vidro.
Além disso, também têm sido adotadas medidas para desincentivar o uso de plástico, a começar desde logo pela introdução de uma contribuição para os sacos de plástico nos supermercados. Esta taxa, que tem sido até agora aplicada aos sacos de plástico leve, poderá ser alargada aos mais espessos com o objetivo de incentivar uma maior reutilização, uma vez que “houve uma transferência e as pessoas passaram dos sacos leves para os de maior gramagem”.
Ao i, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) garante que desde 2015 se assistiu a uma redução na ordem de 88% do consumo de sacos de plástico leves face a 2014, o que resultou da entrada em vigor da lei da fiscalidade verde. “A APED promove, junto dos seus associados, a adoção de medidas que contribuam para o cumprimento das metas definidas na Estratégia Europeia dos Plásticos para 2030 e para padrões de consumo e produção mais sustentáveis. As empresas associadas têm vindo a colaborar de forma significativa para este desígnio, através de um leque alargado de soluções, diversificadas e complementares entre si”, salienta.
Cervejeiras apertam o cerco
O grande desafio para as cervejeiras nesta matéria tem sido as festas populares e os festivais. O pontapé de saída foi dado nas Festas de Lisboa, onde durante todo o evento foram usados copos reutilizáveis. “Não teremos mais esses copos de plástico nos grandes eventos, uma medida importante para a vida da nossa cidade”, chegou a anunciar o presidente da Câmara Municipal de Lisboa durante a apresentação das festividades. Aliás, segundo Fernando Medina, este foi “um dos requisitos que se colocaram e que resulta da edição deste ano”: que “nos eventos de grande dimensão, os copos sejam copos reutilizáveis e não copos de plástico”.
A medida foi posta em prática pela Sociedade Central de Cervejas, dona da Sagres. O mesmo exemplo foi seguido na última edição do Nos Alive, com recurso à utilização de copos de origem 100% vegetal. Tal como já tinha acontecido em 2008, a marca recorreu a copos biodegradáveis com o objetivo de tornar o evento cada vez mais sustentável e com uma pegada ambiental mais reduzida.
Os copos biodegradáveis são fabricados com base em ácido poliláctico (PLA). Requerem baixo consumo energético na sua produção e, após utilização, podem ser reciclados ou decompostos (45 a 60 dias), enquanto os copos de plástico genérico podem demorar mais de 300 anos a decompor-se.
Já a Super Bock tem apostado no uso de copos reutilizáveis nos festivais de música. Com esta medida, a cervejeira conseguiu eliminar três milhões de copos descartáveis nos eventos em que esteve presente, como é o caso do Super Bock Super Rock, Rock in Rio Lisboa e Meo Sudoeste. Ao i, a Unicer garante que “os copos ecológicos reutilizáveis são certamente uma das nossas maiores apostas nesta área e com maior visibilidade junto do consumidor, contribuindo para diminuir as quantidades de plástico que são enviadas para a reciclagem”.
Em apenas dois anos, desde que introduziu este sistema em grande escala nos festivais de música (como o Super Bock Super Rock), em festividades (como as Festas de Lisboa) e nas Queimas das Fitas, a dona da Super Bock já conseguiu eliminar três milhões de copos de plástico descartáveis.
Outros casos
Esta “guerra” também está a ser seguida pela McDonald’s que irá, a partir de setembro, substituir o material de que são feitas as palhinhas dos copos em que serve refrigerantes e outras bebidas. Para já, a medida só está a ser aplicada nas lojas no Reino Unido, país que usa 1,8 milhões de palhinhas de plástico por dia. Contactada pelo i, a cadeia de fast food garante que está a trabalhar para encontrar uma solução mais sustentável em alternativa às palhinhas de plástico. “Estamos presentemente a avaliar e testar diferentes opções em diversos mercados, tendo sempre como prioridade garantir aos nossos clientes uma experiência positiva e corresponder às suas expetativas. Esta é uma das iniciativas em que estamos empenhados, de modo a conseguir garantir que 100% das nossas embalagens serão provenientes de fontes renováveis, recicladas ou certificadas até 2025, conforme o compromisso mundial assumido pela nossa marca”, salienta.
Ainda assim, garante que já tem procurado otimizar a quantidade de embalagens que utiliza nos restaurantes com a finalidade de melhorar as práticas de reciclagem. “Atualmente temos já incorporação de fibras recicladas nos nossos sacos, nas embalagens das nossas sanduíches e batatas fritas, bem como nos guardanapos, toalhetes dos tabuleiros e copos de papel”, esclarece.
Já a Renova lançou no mercado inglês, e vai estender até ao final de setembro aos diversos mercados onde opera, uma nova gama de produtos com embalagem em papel substituindo o plástico – resposta a uma expetativa crescente dos cidadãos em todo o mundo.
Também a Disney anunciou recentemente que a partir de meados de 2019 vai deixar de usar palhinhas de plástico nos seus espaços a nível mundial, prevendo uma redução anual de mais de 175 milhões de palhinhas. A marca norte-americana também vai passar a usar mais produtos reutilizáveis nos quartos dos hotéis e cruzeiros, reduzindo o consumo de plástico em 80%. Também irá usar menos sacos de plástico nas lojas e oferecerá sacos reutilizáveis ao preço de um saco convencional. A Disney adianta ainda que vai deixar de usar copos de plástico.
Já no Ikea, produtos como palhinhas, pratos, copos, sacos de congelação ou sacos do lixo vão deixar de ser vendidos até 2020. Durante os próximos dois anos, a cadeia sueca quer eliminar todos os itens de plástico descartável nas suas lojas. A medida faz parte da estratégia da marca para o de-senvolvimento de um modelo de negócio mais sustentável.
Estes produtos estão já a ser retirados dos restaurantes e cafés das 363 lojas, de 29 mercados, que fazem parte dos espaços Ikea em todo o mundo, incluindo em Portugal. “Queremos continuar a trabalhar com os nossos fornecedores e a desafiá-los, a longo prazo, a adotarem práticas mais sustentáveis para continuarmos a desenvolver a nossa gama com a garantia de que todos os materiais são reutilizáveis ou recicláveis”, diz a empresa.
Também a Adidas se prepara para usar plásticos reciclados a partir de 2024 em todos os seus sapatos e roupas. Nos próximos seis anos, a marca alemã quer ser sustentável em toda a sua cadeia de valor. No entanto, esta transição será ainda um pouco demorada, pois quase metade do material usado pela marca alemã para produzir 920 milhões de produtos é composto por poliéster.
Fonte – Sônia Peres Pinto, Jornal i de 12 de agosto de 2018
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