Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Não há explicação para o buraco na camada de ozônio causado por CFC estar de volta
De acordo com um novo estudo de colaboração internacional, pela primeira vez desde a década de 1980, clorofluorcarbonetos (CFCs) estão se acumulando na atmosfera, causando buracos na camada de ozônio.
O uso de CFCs foi proibido no Protocolo de Montreal de 1987 e, desde então, a produção global de tal material tem sido quase zero. Isso sugere que uma nova fonte está sendo fabricada.
Tendo em vista que já existem inúmeras alternativas baratas e igualmente eficientes para os CFCs, os cientistas estão absolutamente pasmos e não sabem como explicar a quantidade acentuada da substância vista recentemente.
Um artigo sobre as descobertas foi publicado na prestigiada revista científica Nature.
CFCs: para que servem
No geral, CFCs atmosféricos estão em declínio desde 1987, o que permitiu que a camada de ozônio começasse a se recuperar. Infelizmente, a nova fonte desacelerou esse processo significativamente.
Os CFCs são moléculas compostas de átomos de carbono ligados a átomos de cloro e flúor, elementos que tornam a molécula volátil, mas não reativa. Substâncias químicas voláteis, que evaporam facilmente, são importantes em dispositivos de formação de espuma, como extintores de incêndio, e em dispositivos que refrigeram o ar, como ar condicionado.
Conforme explica John L. Ferry, químico ambiental da Universidade da Carolina do Sul, nos EUA, as substâncias originalmente usadas em refrigeradores eram amônia ou butano. A amônia é muito tóxica e o butano muito inflamável, de forma que os CFCs se tornaram populares justamente por serem nenhuma dessas duas coisas.
O cloro que era liberado na atmosfera, entretanto, estava rasgando a camada de ozônio e desprotegendo a superfície da Terra da radiação ultravioleta. Substituir esse material foi um desafio. Não existe uma única classe de moléculas que funcione em todas as situações em que os CFCs eram utilizados.
Porém, Ferry esclarece que hoje já existem muitos substitutos eficazes, o que, juntamente com as penalidades que podem ser aplicadas pelo uso de CFCs, torna a descoberta de uma fonte misteriosa para um desses produtos químicos, o CFC-11, particularmente intrigante.
Por que estariam de volta?
Nenhuma das duas principais indústrias que poderiam utilizar CFC-11, combate a incêndios e refrigeradores, são prejudicadas por escolherem outra substância para fabricar seus produtos.
Os cientistas também não conseguem pensar em nenhum outro caso de uso especial para a substância química para a qual ainda não existe uma alternativa.
Então, por que alguém iria começar a usar CFCs novamente? “Essa é uma pergunta difícil”, argumenta Ferry. “A resposta banal é o ganho de curto prazo. Por exemplo, se você tivesse estoques de CFCs armazenados antes do Protocolo de Montreal”.
É possível que algum fabricante, depois de um tempo, tenha começado a usar CFCs guardados para reduzir seus preços. Mas a enorme quantidade observada – 13 milhões de quilos ao longo de um período de anos – representaria um estoque absolutamente massivo. “Parece irracional”, opina o químico.
Outras possibilidades
O candidato mais provável para explicar esse aumento recente, por enquanto, são as formações naturais de gelo.
O gelo do mundo está derretendo e isso pode liberar substâncias químicas presas dentro das estruturas no ar. Ainda assim, Ferry diz que é improvável que haja tanto gelo lá fora que tenha conseguido capturar somente o CFC-11, e não outros.
Isso nos deixa com a possibilidade bizarra de que alguém esteja ativamente fabricando e usando o CFC-11 novamente, mesmo existindo alternativas e com o risco de multas.
Se esse for o caso, tal fábrica seria difícil de ser rastreada. Dada uma amostra grande o suficiente, químicos poderiam analisar o CFC em busca de sinais que indiquem sua origem, mas, com a substância solta e misturada na atmosfera, apenas a tarefa de coleta já seria um desafio.
Dito isso, a química analítica é fantástica, e as pessoas que trabalham com isso há décadas também. “Eu tenho muita fé nesses caras. Se for possível encontrar [a fonte do] material, nós a encontraremos”, Ferry conclui.
Fontes – LiveScience Natasha Romanzoti, Hypescience de 22 de maio de 2018
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