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NÃO MATARÁS!

O homem é o serial killer da natureza.

O sexto dos dez mandamentos que Deus inscreveu nas tábuas dadas a Moisés, têm utilidade somente quando se trata de sua própria espécie (e olhe lá!). O mundo está cheio de matanças, cuidadosamente planejadas que, pelo tempo que se leva em planilha-las, é certo que não se deixa de matar por falta de reflexão.

– Matar é da nossa natureza – diria, sem cerimônias, um humano honesto.

Nesta laboriosa progressão de extermínios, que as boas técnicas das armas e das balas garantem com precisão, as espécies acabam. E, quando acabam, findam-se para sempre.

Isso não ocorre por serem geneticamente fracas. Ocorre porque seus habitats são invadidos por soja, banana, doença, mosquito, formiga, erva-daninha, rato, porco, garimpo ou pasto. Ou, na caça ilegal, porque os chifres curam reumatismo, as penas são adornos; os testículos, afrodisíacos; a carne, iguaria; o tronco, madeira nobre.

Quanto mais se mata, mais raro fica, quanto mais raro, maior o preço. Um quilo de chifre de rinoceronte indiano, há dez anos, era vendido na praça por módicos 12 mil dólares; hoje, não custa menos que 50 mil.

A pressão econômica está por detrás da matança.

Junte-se a esta chacina voluntária as mudanças climáticas, cuja sentença na melhor hipótese é a de que 25% das espécies já têm seu fim decretado, estamos diante do mais bem sucedido matador que este planeta já viu.

O futuro das espécies está nas mãos da espécie humana.

Nas mãos, justamente, da espécie que tem se preocupado mais com sua própria sobrevivência do que com a sobrevida dos que a cercam.

O sexto mandamento exige que os homens não causem danos, ao corpo ou a alma, a si ou ao próximo.

A fim de cumprí-lo, tem que considerar como próximo as demais espécies. Próximo é um semelhante.

Então, não sendo semelhante, há chancela para matar. Sem peso n´alma.

– Os humanos não são mesmo semelhantes aos demais seres da natureza – classifica minha tia.

– Somos semelhantes ao Criador! – meu primo pleiteia, a plenos pulmões.

– Os Dez Mandamentos são para obedecer! – baba a sogra do seu cunhado.

– Então, é aí que a desobediência começa – diz quem ainda não bebeu.

– Quão fácil seria se vocês se considerassem semelhantes ao mundo natural – abana a cauda o meu cachorro.

Entendendo seu ponto de vista, quieto no meu canto, penso:

– Este é o ponto de partida.

– Quem sabe ainda haja tempo de agir – arremata ele, com toda lucidez.

Um abraço forte pra cachorro e até sexta que vem.

Luiz Eduardo Cheida

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