Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Novo grupo de estudos irá pesquisar agricultura urbana em São Paulo
Além dos aspectos nutricionais e ambientais, jardins e hortas urbanas oferecem locais de encontro comunitário e áreas de relaxamento e lazer para a vida nas grandes cidades
Horta construída na parte superior de um shopping na capital paulista – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O Grupo de Estudos em Agricultura Urbana (Geau), novo integrante dos quadros de pesquisa do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, irá nuclear debates e estudos sobre o tema “Agricultura Urbana e Periurbana no Município de São Paulo: Possibilidades, Conexões e Contemporaneidade”. Vinculado ao IEA pelo período de dois anos, o grupo irá produzir estudos científicos sobre a Agricultura Urbana e Periurbana (AUP), com ênfase na cidade de São Paulo e sua Região Metropolitana (RMSP). A coordenação é da professora Thais Mauad, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), especialista em saúde urbana e fundadora da horta comunitária da FMUSP.
Alternativa para o consumo das cidades
Há estimativas de que o crescimento demográfico e o aumento da densidade populacional nas cidades elevarão para 9,6 bilhões o número de habitantes no planeta em 2050. Além disso, a pressão sobre a disponibilidade de terras aráveis e as elevadas vulnerabilidades advindas das mudanças climáticas globais são fatores de ameaça à sobrevivência humana num tempo não muito distante. Dado esse quadro, os jardins e as hortas urbanas têm sido apontados por estudiosos como a saída para a segurança alimentar e nutricional no futuro.
Em muitas cidades da Europa, Estados Unidos, Ásia e Oceania, o incentivo à produção de alimentos em áreas urbanas e periurbanas já se transformou em política pública. Os berlinenses conseguem abater taxas e impostos municipais quando implantam e mantêm tetos verdes nos prédios ou casas onde moram. Em Nova York, o Green Roof Tax Abatement Program e o Infrastructure Grant Program são dois programas que ajudaram a tornar uma das cidades com maior densidade populacional do mundo líder na prática da agricultura urbana.
Desativado em 2008, aeroporto de Berlin-Tempelhof, Alemanha, virou espaço de horticultura e lazer após reivindicação de movimentos civis – Foto: Reprodução/Berlin Summt
As iniciativas nas capitais brasileiras aumentam a cada dia, seja pela atuação de movimentos comunitários e culturais, como o MUDASP, Hortelões Urbanos, Virada Sustentável, entre outros, além da conscientização crescente no ambiente escolar e de ações impulsionadas inclusive pela academia e poder público.
Hortas comunitárias, agricultura vertical, agricultura urbana, zoneamento urbano de alimentos, horticultura empresarial, horticultura urbana, jardins de locação e skyfarming são alguns termos relacionados à prática de cultivar, processar e distribuir alimentos em área urbana ou em seu entorno.
Teto verde no Centro Cultural São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A importância dessas redes está associada não só à produção de alimentos saudáveis e à melhoria da nutrição e sustentabilidade das cidades, mas também à qualidade de vida dos moradores. Os jardins e hortas urbanas oferecem uma alternativa de relaxamento para a vida urbana e muitas vezes servem como locais de encontro comunitário e áreas de lazer. Entre os inúmeros benefícios da AUP estão a qualidade microclimática e o aumento da agrobiodiversidade.
A ideia de produzir alimentos suplementares não é nova e nasceu em situações de crise e tempos de guerra. No século 19, a horticultura urbana foi praticada na Alemanha, no Reino Unido, nos EUA e no Canadá como resposta à pobreza e à insegurança alimentar. Nas guerras mundiais, a horticultura urbana foi praticada para amenizar a escassez de alimentos causada pela suspensão da produção e da distribuição, já que os meios de transporte haviam sido destruídos.
Próximos passos
Entre as atividades já programadas está a realização de um seminário em agosto, com a participação de professores e pesquisadores da Universidade de Melbourne, Austrália. Com data a ser confirmada, o debate deverá trazer o tema de pesquisa da professora Thais, Achieving sustainable food production and irrigation in São Paulo and Melbourne, que busca compreender, melhorar e promover a resiliência dos sistemas de produção urbana de alimentos nessas duas metrópoles — São Paulo e Melbourne.
Horta da FMUSP: projeto conseguiu envolver estudantes, funcionários e professores da unidade – Foto: Divulgação/IEA
No cronograma previsto para 2017 está a apresentação de parte dos resultados dos estudos realizados, além da publicação de artigos e participação dos integrantes do grupo em congressos e seminários.
O Geau tem seis membros permanentes e dois pesquisadores colaboradores de áreas diversas. Dada a sua proposta interdisciplinar, o grupo congrega especialistas da FMUSP, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, além da Fundação Getúlio Vargas e Universidade de Rennes 2, França.
Em 2015, o grupo de pesquisadores foi o vencedor do 5º Prêmio Fecomércio de Sustentabilidade, categoria Academia, com o projeto “Agricultura Urbana: Produção, Varejo e Consumo de Alimento”. Para os integrantes do Geau, o prêmio representa “um grande avanço na divulgação da importância da Agricultura Urbana no Brasil e em São Paulo”.
Os estudos deverão contribuir para o debate sobre a natureza dos atores, das relações sociais, das dinâmicas socioespaciais e dos impactos gerados pela Agricultura Urbana e Periurbana. A compreensão das novas configurações socioespaciais geradas por esse ramo são importantes para fomentar o debate acadêmico sobre o mundo urbano contemporâneo, segundo os proponentes do projeto.
Além de parcerias e disseminação do conceito de agricultura urbana, os estudos pretendem contribuir com referenciais teórico-metodológicos para explicar fenômenos urbanos, em especial quanto à situação da cidade de São Paulo e América Latina.
Fontes – Sylvia Miguel, IEA / Jornal da USP de 24 de maio de 2016
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