Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
O aquecimento global pode escancarar as portas para novas pandemias
Por Esper Kallás – Folha de São Paulo – 19 de julho de 2022 – Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.
Muitos germes serão deslocados, franqueando a entrada de uma nova era de doenças transmissíveis
Há, porém, outras ameaças contidas nesse fenômeno. Alterações de temperatura levam à profunda desestabilização dos ecossistemas.
As mudanças no comportamento de animais e germes podem acarretar aumento no risco de novos “saltos” de uma espécie para outra.
Embora sejam eventos recorrentes, algumas vezes um germe pode encontrar condições ideais para seu alastramento levando a epidemia ou pandemia.
Exemplo desta ocorrência remonta ao ano de 536 d.C., após a erupção do vulcão Krakatoa.
A temperatura da Terra caiu abruptamente devido à presença da fumaça densa que se espalhou pela atmosfera, diminuindo a penetração da luz solar.
Isto causou a mudança no comportamento de roedores que, à procura de alimentos, ampliaram seu raio de deslocamento, entrando em contato próximo com a população humana.
Junto com os roedores vieram carrapatos contaminados pela Yersinia pestis, agente causador da peste negra.
Em 541 d.C., a doença já havia matado ao menos um quarto da população do Império Bizantino.
Embora o que ocorreu no século 6 tenha sido um evento radical, com esfriamento da Terra pelo bloqueio da luz solar por 18 meses, as alterações resultantes do atual aquecimento global nos impõe uma séria reflexão sobre o tema.
Análise realizada por cientistas de vários países, publicada nos últimos dias, ajuda a compreender o problema.
Embora já se saiba que há milhares de germes capazes de infectar humanos, a grande maioria habita silenciosamente animais selvagens, que têm pouco contato atual com as pessoas.
Carlson e seus colegas, em artigo publicado na revista científica Nature Climate Change, constroem um mapa que leva em conta a rede de interação entre mamíferos e vírus, nas diversas regiões do planeta.
As análises projetam que os locais com mais probabilidade para que ocorram estes saltos de vírus entre diferentes espécies estão concentrados em regiões de clima tropical, onde há maior diversidade de espécies e grande proximidade com populações densas.
O Brasil, particularmente por suas extensas áreas de clima quente e com grande biodiversidade, é parte integrante do que muitos pesquisadores apelidaram de hot spots, ou seja, locais que apresentam condições mais propícias para que os saltos aconteçam.
Tais observações reafirmam o quanto é fundamental que o país dedique atenção prioritária ao tema.
Especialmente pelo enorme contingente de mudanças que vêm ocorrendo nas regiões de florestas brasileiras nos últimos anos, bem como no Pantanal, no cerrado e na caatinga.
Dados recentes brasileiros, que registram a perda de área de florestas equivalente à extensão do estado do Rio de Janeiro, apontam para aumento na probabilidade de encontro entre vírus que andam silentes em espécies selvagens com os humanos.
É possível que a humanidade já tenha entrado na era das pandemias. Novas doenças estão se tornando mais comuns e colocarão à prova nossa capacidade de preparação e reação.
O sinal amarelo foi aceso há duas décadas. A humanidade está cada vez mais vulnerável.
Torna-se imprescindível a discussão sobre emissão de gases de efeito estufa, aumento de temperatura e outras mudanças radicais que temos causado ao planeta, com o efeito que pode ter para as doenças infecciosas.
É hora de lidar com o sinal vermelho.
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