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“O cobre é o novo petróleo.” E o preço não para de subir

Por Giuliano Guandalini – 16 de maio de 2024 – Carros elétricos, baterias, linhas de transmissão e data centers – sem falar no uso mais tradicional, em ligas metálicas, e agora, a inteligência artificial.

Todas as principais transformações da economia global nos próximos anos dependem de um mesmo metal: o cobre.

Mesmo com a adoção global mais lenta do que o previsto dos carros elétricos, a demanda pelo cobre permanecerá em alta, dizem os analistas, e boa parte da explicação está nos investimentos em inteligência artificial.

A expansão da tecnologia requer toneladas de servidores e envolve um maior consumo de eletricidade.

São duas forças que empurram para cima a demanda de cobre, e, num momento de oferta apertada, os preços estão nas máximas históricas.

O consumo de eletricidade dos data centers, da inteligência artificial e criptomoedas deverá dobrar nos próximos dois anos, a Agência Internacional de Energia previu em um relatório recente.

Isso vai exigir que a oferta mundial de energia tenha um aumento equivalente ao total consumido hoje pelo Japão.

Esse é o pano de fundo que sustenta a esticada do cobre, que subiu 20% nos últimos três meses, mesmo com a atividade desacelerando na China, o maior consumidor mundial.

A tonelada do cobre ultrapassou os US$ 10.000 em Londres e ficou acima de US$ 11.000 em Nova York.

De acordo com traders, parte da alta recente nos contratos futuros se deve também a um short squeeze.

Os fornecedores estariam com dificuldade para cumprir as entregas físicas programadas para os EUA até julho.

Para os analistas do Bank of America, está se formando um desequilíbrio entre a produção e o consumo, o que poderá levar a um déficit na oferta até pelo menos 2026.

A Goldman Sachs vê um déficit de 454 mil toneladas este ano e de 467 mil toneladas em 2025.

Os analistas do banco elevaram o preço-alvo para a tonelada no fim do ano de US$ 10.000 para US$ 12.000, e projetam um preço médio de US$ 15.000 no próximo ano, uma alta de mais de 50% acima em relação à estimativa de US$ 9.800 para 2024.

Para o Boston Consulting Group, o desequilíbrio poderá perdurar até 2030 caso haja um ritmo de investimento mais agressivo em transição energética.

“O cobre, com alta condutividade e resistência à erosão, é um material crítico para produzir desde carros elétricos a painéis solares e cabos de eletricidade,” diz um estudo da BCG.

O BofA reduziu sua estimativa de vendas de carros elétricos – o que reduziria o consumo esperado de cobre em 200 mil toneladas neste ano e no próximo.

“A demanda por cobre no transporte continuará subindo, mas em ritmo menor,” diz o banco.

Mas o avanço da IA exige a expansão dos data centers – o que vai consumir mais cobre, tanto em razão dos equipamentos e instalações dos grandes servidores quanto pelo aumento na demanda de energia elétrica.

O BofA ressalta que, apesar dos ganhos de eficiência dos últimos anos, são necessários “investimentos urgentes” na transmissão de eletricidade para evitar apagões.

“O cobre é o novo petróleo,” disse o estrategista-chefe do Carlyle Group, Jeff Currie, em uma entrevista à Bloomberg.

A alta na procura pelo metal ocorre num momento em que muitos projetos de novas minas haviam sido colocados em banho maria.

A desaceleração da China e a alta dos juros nos EUA – com uma possível recessão na maior economia do planeta – desincentivaram o início de projetos.

A grande novidade recente foi o advento da inteligência artificial generativa.

“Uma pesquisa no ChatGPT consome 30x mais eletricidade do que uma pesquisa no Google. É essa ordem de grandeza,” disse Tiago Cunha, um gestor da Ace Capital que acompanha de perto as commodities metálicas. “O problema é que o mercado de cobre está muito apertado e não é de hoje. A oferta é pouco elástica mesmo nos atuais níveis de preço.”

O magnata da mineração Robert Friedland, da Ivanhoe, disse que os preços da tonelada precisam ir a US$ 15.000 para destravar os investimentos em novas áreas.

Retirar o cobre debaixo da terra é mais caro e complexo do que a exploração do minério de ferro.

O desenvolvimento das minas demora, quase sempre, mais de uma década.

Mas as indústrias de todo o planeta precisam do metal.

E para já.

A ‘corrida do cobre’ está por trás da oferta de US$ 43 bilhões da BHP para adquirir a Anglo American, controladora de vastas minas do metal no Peru e no Chile.

Este foi apenas o movimento mais ruidoso da provável consolidação entre mineradoras interessadas em ampliar suas posições em cobre e aproveitar a tendência de alta.

“O cobre é uma história bastante simples,” disse o gestor Stanley Druckenmiller em entrevista à CNBC na semana passada.

“Leva cerca de 12 anos para uma nova mina produzir, e você tem carros elétricos, linhas de transmissão, data centers e, acredite ou não, munições. Todos os mísseis carregam cobre. O mundo está ficando quente. A situação de oferta-demanda é incrível pelos próximos cinco ou seis anos.”

A alta nas cotações tem estimulado também a ação de gangues – e não apenas no Brasil.

Na África são comuns os roubos de cabos, enquanto nos EUA assaltantes estão atacando as estações de carregamento da Tesla.

 

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