Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
O crescente uso de recursos naturais e a necessidade de maior eficiência e desacoplamento
O relatório “Resource Efficiency: Potential and Economic Implications”, divulgado no dia 16 de março de 2017, durante a reunião do G20 em Berlim, pelo International Resource Panel, da United Nations Environment Programme (UNEP), mostra que, até 2050, mantidas as tendências recentes, a população mundial deverá crescer 28%, com a utilização de 71% mais recursos per capita. Sem medidas urgentes para aumentar a eficiência, o uso global de metais, biomassa e minerais aumentará de 85 para 186 bilhões de toneladas por ano até 2050.
O relatório argumenta que uso mais inteligente e eficiente dos recursos naturais do mundo hoje significaria que as próximas gerações poderão colher benefícios econômicos anuais de US$ 2 trilhões até 2050, ao mesmo tempo que poderia reduzir os custos para viabilizar uma ação ambiciosa contra as mudanças climáticas.
O gráfico abaixo mostra que o grupo de países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) tem um uso de recursos muito maior, em termos per capita, do que os países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Embora nos últimos anos tenha havido uma aproximação das duas curvas, pois houve redução per capita do uso de recursos no G7 e aumento significativo nos BRICS e na economia global. Porém, os estudos mostram que a queda ocorrida no G7 se deveu aos fluxos do comércio internacional, já que os países desenvolvidos transferiram suas indústrias mais intensivas em energia e matérias-primas para os países menos desenvolvidos (ou do Terceiro Mundo). Assim, para o âmbito da economia internacional não está havendo desacoplamento nem relativo e muito menos absoluto, como seria necessário e mostrado na figura acima.
O fato é que o desenvolvimento, como aconteceu desde o fim da Segunda Guerra Mundial, está cada vez mais baseado na extração de recursos da natureza para a produção de bens e serviços e o descarte de resíduos sólidos e poluição do ar, da terra e das águas. Mas o relatório da UNEP analisou quatro caminhos que os países poderiam seguir ao longo das próximas três décadas, que vão desde o “business as usual”, até um cenário em que os países adotam políticas climáticas ambiciosas e melhorem a eficiência dos recursos.
Ou seja, apesar do passado econômico degradador do meio ambiente, a UNEP consegue manter o otimismo e aposta em um cenário de eficiência e desacoplamento para garantir o crescimento econômico com menor impacto ambiental, no espírito da ideia de desenvolvimento sustentável e no espírito dos ODS da Agenda 2030 da ONU.
Contudo, a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. A Pegada Ecológica está 64% acima da biocapacidade da Terra. Quatro das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas. O aquecimento global se acelera, provocando o degelo do Ártico, da Groenlândia, da Antártica e dos glaciares. Isto vai provocar a elevação do nível dos oceanos colocando em riso o bem-estar de 2 bilhões de habitantes que vivem em áreas de até 2 metros do nível do mar.
Os desafios estão atingindo um ponto de não retorno. Defender a ideologia da economia verde para justificar o crescimento econômico, neste contexto de agravamento da exploração da natureza e de redução da biodiversidade, parece o mesmo que vender uma ilusão. Indubitavelmente, a eficiência e o desacoplamento são imprescindíveis, mas não no contexto do contínuo crescimento econômico e sim na esfera do decrescimento demoeconômico.
Referência
UNEP. Resource Efficiency: Potential and Economic Implications. A report of the International Resource Panel. Ekins, P., Hughes, N., et al. March 2017
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.
Fonte – EcoDebate de 22 de março de 2017
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