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O dilema da sacola plástica

loupiote (Old Skool)

Revista do IDEC de setembro de 2007

Você sabe onde vão parar aquelas sacolinhas de plástico que lhe dão a todo momento, em supermercados, farmácias e padarias, e que, depois, você transforma em saco de lixo? Reciclagem? Lixões? Aterros sanitários? Fundo de vales, rios e mares? No estômago de algum animal que as ingere e acaba morrendo sufocado? Todas as alternativas estão corretas. Desde que foram inseridas no mercado, na década de 1980, substituindo os sacos de papel, as sacolas plásticas vêm se acumulando no planeta. Como se trata de um material muito barato, seu valor no mercado de reciclagem é muito baixo. Por isso os catadores e recicladores acabam, muitas vezes, não as recolhendo. Os próprios representantes dos fabricantes de plásticos admitem que o material ganhou mercado porque não tem concorrência, diante de seu pequeno custo.

Mas o fato é que as sacolas plásticas acabam ocupando muito espaço, depois de descartadas. Atualmente, 18% do lixo dos paulistas corresponde aos sacos, e menos de 1% desse lixo é reciclado, segundo números da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo. Outro dado, segundo o deputado estadual Sebastião Almeida (PT-SP), é que o Brasil produz anualmente 210 mil toneladas de plástico filme, matéria-prima dos saquinhos plásticos. O número representa cerca de 10% do lixo do país, onde a capacidade dos aterros ou lixões está no limite. Já o ciclo de vida do plástico é estimado em 200 anos, em média. Mas há quem diga que pode chegar a 450 anos. Em suma, ele não se degrada tão cedo no ambiente.

Desde sua invenção, em 1907, o polímero (plástico) vem ocupando cada vez mais espaço no dia-a-dia das cidades. Ganhou novas formas, cores e utilidades. As primeiras sacolas eram de plástico mais grosso (de baixa densidade). As mais populares hoje são as mais finas (de alta densidade). Isso reduz o uso de matéria-prima: nafta (derivada do petróleo), material não renovável.

Já existem resinas plásticas feitas de fontes renováveis, como o etanol da cana-de-açúcar. O material, apesar de não ser biodegradável, vem sendo anunciado como a salvação da lavoura para a substituição do petróleo. Mas sua decomposição também levará séculos e gerará gás carbônico, tal como ocorre com as sacolas convencionais.

Oxi-biodegradável

Um aditivo que age como catalisador, misturado em pequena quantidade ao plástico, está dando o que falar. Com o auxílio de oxigênio, calor, vento e chuva, o chamado plástico oxi-biodegradável tem um ciclo de vida médio de 18 meses, segundo a RESBrasil. A empresa, representante brasileira do produto, afirma que ele é exatamente igual ao convencional. O que muda é o tempo que leva para se degradar.

Diversos estabelecimentos em todo o mundo já o utilizam. No Brasil, algumas cidades do Sul e do Sudeste, também. Maringá, no Paraná, é tido como município pioneiro a adotá-lo. “Somos o primeiro supermercado no Brasil a adotar as sacolas em toda a rede”, disse o gerente de marketing do Cidade Canção, Célio Kuratani Hata. Desde janeiro, as 10 lojas da empresa aderiram ao oxi-biodegradável e consomem 2 milhões de sacolas ao mês. O gerente afirmou que seu custo fica até 7% mais caro, mas acredita que ele se reduza, com o aumento da adesão ao produto.

Também em Maringá, a prefeitura aprovou uma lei, em fevereiro, que obriga os órgãos administrativos a utilizarem, como saco de lixo, o plástico oxi-biodegradável. E entidades civis da cidade, como a FUNVERDE – criada em 1999 para atuar na restituição da mata ciliar de córregos e nascentes -, também participam do movimento. “Todo sábado fazemos catação de lixo nas margens dos rios e vemos a grande quantidade de sacolinhas. Foi aí que tivemos a idéia de falar com os comerciantes e propor soluções”, contou Cláudio José Jorge, um dos fundadores da FunVerde. Foi assim que vários estabelecimentos da cidade aderiram ao oxi-biodegradável.

Segundo a FunVerde, o consumo de plásticos é de 1 milhão por minuto em todo o mundo. Isso corresponde a quase 1,5 bilhão por dia, e a mais de 500 bilhões por ano. Daí a importância do uso do oxi-biodegradável, para a entidade. O produto adicionado à composição do plástico é capaz de quebrar suas moléculas (que são muito grandes) em partes menores. “Facilita a ação dos microrganismos”, explicou Cláudio José.

Mas há quem discorde da eficácia do produto, dizendo que ele não se degrada totalmente. “Para onde vai essa massa em forma de pó?”, questionou Paulo Dacolina, diretor superintendente do Instituto Nacional do Plástico, formado por uma união das associações de classe da indústria. Já Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (organização também ligada à indústria), chamou a atenção para a baixa qualidade dos sacos plásticos disponíveis, que influi na quantidade usada. “Ao embalar suas mercadorias no supermercado, o consumidor sempre usa duas ou até três unidades, colocando uma dentro da outra. Se os fabricantes cumprissem a norma técnica, economizaríamos 50% do consumo.”

No primeiro semestre deste ano, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) avaliou 18 sacolas de supermercados. O estudo constatou que nenhuma delas está de acordo com a norma técnica (NBR 14.937), e que 67% não atingiram critérios mínimos de resistência.

Reciclagem polêmica

“A solução mais viável para que esse volume de plástico se degrade com rapidez é o oxi-biodegradável. É melhor do que as que temos, difíceis de reciclar”, afirmou o engenheiro agrônomo e civil Cícero Bley Júnior. Autor de planos diretores de limpeza urbana de diversas cidades, Bley Júnior trabalhou com reciclagem de lixo na Usina de Araucária (PR), entre 1987 e 1997.

Especialista em gestão de resíduos, ele revelou que as sacolas plásticas até podem ser recicladas. Mas, na prática, isso não ocorre. “Tudo precisa estar limpo para reciclar. As sacolas fininhas absorvem mais sujeiras e são muito difíceis de lavar”, explicou. Como as sacolinhas passaram a ser utilizadas para armazenar o lixo doméstico, as chances de chegarem limpas às usinas são remotas.

Dados da Associação Brasileira de Embalagens (Abre) demonstram que o material é o menos procurado para reciclagem. Apenas 16,5% dos plásticos rígidos e filme são reciclados, em média, no Brasil. A Abre estima que o plástico filme corresponda a 29% do total de plásticos separados para reciclagem, nas cidades que promovem a coleta seletiva.

A Central de Triagem da Sé, que separa e organiza o lixo para enviá-lo para as usinas de reciclagem, informou que vende todo o volume de plástico que recebe, inclusive os de alta densidade. A Revista do Idec tentou entrar em contato com a compradora do material, para saber como ela procede. Porém, a empresa não autorizou que seu nome e contato fossem revelados pela Coopere (cooperativa de catadores responsável pela Central de Triagem da Sé).

Cícero Bley, contudo, questiona. “Se houver alguma usina que consiga reaproveitar as sacolinhas de forma que não seja poluente, faço questão de ir pessoalmente conhecer”, disse. Segundo o engenheiro, existem processos de queima do plástico, para reciclagem, que podem gerar gases cancerígenos.

Mudança de comportamento

Além da livre iniciativa, alguns estabelecimentos estão sendo obrigados a substituir suas sacolas. Com base na Política Estadual de Resíduos Sólidos, aprovada em 1999, todas as empresas do Paraná devem dar uma destinação correta a seus resíduos. “Convocamos os 14 maiores supermercados de Curitiba a adotarem medidas para reduzir o passivo ambiental”, explicou Saint-Clair Honorato Santos, procurador do Ministério Público Estadual. “A curto prazo, as sacolas oxi-biodegradáveis vieram para ficar no lugar das convencionais. Enquanto isso, a longo prazo, é preciso conscientizar e mudar padrões comportamentais. O ideal é a adoção de sacolas retornáveis”, afirmou.

Algumas padarias do país também já estão tomando iniciativas parecidas. Em Joinville (SC), estão dando descontos de até 10% na compra do pão e do leite aos clientes que levam suas próprias sacolas. “Somente depois de três anos de projeto é que estamos colhendo frutos. Conscientizar vale a pena, mas não é tarefa fácil”, disse Roseli Steines, presidente do Sindicato da Panificação de Joinville, idealizadora do projeto.

Recentemente, o município e o estado de São Paulo vetaram projetos de lei (PL) que obrigariam os estabelecimentos comerciais a substituir as sacolas convencionais pelas oxi-biodegradáveis. Ambos justificaram o veto com a falta de comprovação científica de que a alternativa é de fato positiva. A prefeitura paulistana aposta agora numa campanha que incentiva o uso da boa e velha sacola de pano.

A medida também é incentivada pelo estado paulista e pelas prefeituras do Rio de Janeiro e de Curitiba, que também vetou um PL semelhante. Também o Paraná e o Rio de Janeiro estão na expectativa da aprovação de um projeto de lei parecido com o que São Paulo vetou. “Estamos otimistas”, declarou o secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, que defende um tratamento fiscal diferenciado às empresas que utilizarem o plástico reciclável. “As indústrias no Brasil produzem livremente, sem controle. Em outros países, isso não acontece. É preciso taxar os produtos visando sua reciclagem”, explicou o especialista Cícero Bley, que lembrou que o país sequer possui uma Política Nacional de Resíduos.

Todas as fontes consultadas para esta reportagem concordam num ponto: é preciso haver uma mudança comportamental. Por isso, deveria haver mais campanhas educativas e o resgate de hábitos como o uso de sacolas retornáveis. “As plásticas são supérfluas. Precisamos retomar o uso dos latões de lixo, quando isso for possível do ponto de vista sanitário, e as embalagens retornáveis, como as de vidro. É necessária uma colaboração mútua entre empresas, governos e consumidores”, concluiu o ambientalista Jeffer Castelo Branco, da Associação de Combate aos Poluentes (ACPO).

Cícero Bley também aconselha: “O ideal é adotar a sacola retornável para as compras”. “Para o lixo, devem ser usados sacos de lixo apropriados, de baixa densidade, grandes, para durarem a semana inteira. Daqueles pretos ou azuis, que são facilmente recicláveis.”

Alternativa realmente verde

Existem atualmente pesquisas com plásticos biodegradáveis, feitos de matéria-prima vegetal. Já há até alguns polímeros utilizados em materiais hospitalares, como implantes ortopédicos absorvíveis. Porém, eles ainda são muito caros.

Para se decompor, o plástico biodegradável precisa de um ambiente biologicamente ativo, como o corpo humano ou, no caso das sacolas, o solo, por exemplo. Além da cana, são pesquisadas fontes como o óleo de buriti e a mandioca.

“Atuo numa pesquisa sobre filme plástico para embalagens internas de alimentos, feitos a partir da mandioca. Mas há indícios de que futuramente ele possa ser usado também com finalidade externa. Para uma sacola, por exemplo”, afirmou a pesquisadora Carmen Cecília Tadini, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

O plástico no Idec:

O saco plástico que envolve a Revista do Idec, usado na sua distribuição, é oxi-biodegradável. Com base em laudos apresentados pelo fabricante, RES Brasil, e em declarações de especialistas, o Instituto entende que se trata de uma matéria-prima menos prejudicial ao meio ambiente, em comparação com o plástico comum. Porém, está atento para as discussões a esse respeito. Além disso, o Idec oferece uma sacola de pano como brinde para quem contribuir com a entidade. Mas também a vende por R$ 20 para não-associados, e por R$ 16 para associados. Estimula, assim, o uso de sacolas não descartáveis.

Dicas para o consumidor:

Sempre que possível, leve sua própria sacola (de tecido ou de fibras vegetais, por exemplo) quando for ao supermercado, à feira ou à padaria.

Para o destino do lixo doméstico, utilize sacos próprios para o lixo. Eles são recicláveis, ao contrário das sacolinhas de supermercado.

Não substitua o saco de lixo de sua casa todos os dias, a fim de economizar no uso do plástico. Mesmo a reciclagem requer o uso de energia e água, recursos que devem ser usados com racionalidade.

Pressione o supermercado e a padaria de sua vizinhança para que promovam as sacolas não descartáveis.

Saiba mais:

Fabricante do plástico oxi-biodegradável: www.resbrasil.com.br

Campanha das padarias: www.sacolapermanente.org.br

FUNVERDE: www.funverde.org.br

Sacolas de pano do Idec: www.lojadoidec.org.br

Este Post tem 19 Comentários

  1. Estava lendo para ter uma base para escrever um artigo para um jornal local de minha cidade, onde adorei como vocês trataram o assunto, levaram o tema sobre as sacolas plásticas muito a sério como deve ser levado ao povo em geral, são atitudes assim que fazem a diferença de nosso País. Abraços de sua mais nova leitora.

  2. vejo que o mundo esta sofrendo pelo consumismo exagerado de produtos que levam grande quantidade de
    embalagens descartàveis, que vai desde o seu processo de produção até o seu consumo, e para onde vai essa embalegem? lixão!
    não depende apenas proibir o uso de sacolas plasticas, as pessoas tem que se educar e deve haver mudança na coleta do lixo.

  3. Na realidade não é um comentário e sim uma pergunta, gostaria de saber se realmente não pode utilizar as sacolas verdes,amarelas…enfim de cor para guardar alimentos na geladeira por serem recicladas?

  4. acho ótimo tudo que diz respeito ao meio ambiente, morei no Japão, e ñ tive problema algum em relação ao lixo, pois é obrigatório separar o lixo, e tem os dias que pode ser jogado plásticos, latas e vidros, e outro lixo orgânico, e ninguém desrespeitava, e havia uma multa da prefeitura quem não cumprisse, acho que deveria ser implantado em nosso país essas medidas, e o coletor de lixo não tinha contato algum com o lixo pois cada morador se deslocava há uma caçamba grande e ali era colocado o lixo da rua toda, onde o caminhão vinha engatava a caçamba e era posto todo lixo, , o meio ambiente agradecia, pois economizava tempo, combustível do veículo…….

  5. Nem todos podem comprar sacos apropriados para descartarem seu lixo. Acho que as sacolinhas de supermercado já foram definitivamente adotadas para este fim. No caso, o que resta, é produzí-las de materias que se degradem mais rapidamente. É minha opinião.

  6. sou professora e escotista, estou urilizando as informações desta página na conscientização dos jovens quanto às sacolas plásticas… fizemos um trabalho de campo e uma loja de brinquedos aboliu o uso de sacola plásticas, costuramos sessenta sacolas retornáveis que as crinças decoraram e deram de presente para as mães…
    é um trabalho de “formiguinha”, mas vale o resultado.
    Obrigado e Parabéns

  7. Não conheço nenhuma padaria aqui em Joinville que faça o que foi mencionado no artigo.

    Se não usarmos as sacolas plásticas pra colocar lixo. E voltarmos a comprar sacos de lixo… qual o fim dos sacos de lixo?

  8. sou da paraiba campina grande esijo uma capanha com o tema reciclagem a cidade esta em calamidade onde passo vejo sacolas de todo o tipo vamos fazer diferente!!!!!!!!!!

  9. a soluçao não e parar de usar sacolas de plastico por que a
    sempre um espirito de porco que em vez de reciclar/ceparar simplesmente joga no lixo comun reciclaveis se o brasil obrigasssse
    todos a reciclar ficaria muito mais facil para catadores de reciclaveis vcs não achão?
    e as sacolas de plasticos e so obricarem e faze-las biodegradaveis ai meio caminho andado…
    mais nossos politicos são us… deixa pra la

  10. eu tenho uma resposta para todos voces ,eu consigo transformar sacolas plasticas em areia e argamassa para ser usada na construçao civil ;da areia eu faço tijolos concreto para laje etc. da argamassa eu uso cimento ou terra para fixar pisos ;se eu consguir trabalhar com a areia em grande quantidade nos deixariamos de tirar areia dos rios preservando nossos rios e matas.agadeço sua atençao.

  11. eu tenho uma resposta para todos voces ,eu consigo transformar sacolas plasticas em areia e argamassa para ser usada na construçao civil ;da areia eu faço tijolos concreto para laje etc. da argamassa eu uso cimento ou terra para fixar pisos ;se eu consguir trabalhar com a areia em grande quantidade nos deixariamos de tirar areia dos rios preservando nossos rios e matas.agadeço sua atençao.

  12. eu tenho uma resposta para todos voces ,eu consigo transformar sacolas plasticas em areia e argamassa para ser usada na construçao civil ;da areia eu faço tijolos concreto para laje etc. da argamassa eu uso cimento ou terra para fixar pisos ;se eu consguir trabalhar com a areia em grande quantidade nos deixariamos de tirar areia dos rios preservando nossos rios e matas.agadeço sua atençao.

  13. Estava procurando na internet por um artigo que falasse um pouco sobre o problema das sacolas plásticas e acabei caindo nesta pagina.

    Vcs realmente estao de parabéns. Artigo muito bem escrito, com várias informacoes práticas e links.

    Continuem assim e vamos tentar conscientizar!!!

    Abracos,
    Matheus

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