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O drama do Ártico não deixa dúvida de nossa ação

Por João Lara Mesquita – Mar Sem Fim –

O drama do Ártico é real e pode ser visto ou acompanhado por qualquer pessoa curiosa em saber para onde vai o planeta.

O Ártico é uma espécie de trailer do filme de terror que virá a seguir, se continuarmos omissos com o maior problema da humanidade: o aquecimento global promovido sobretudo pela superpopulação mundial, extremamente desigual, mas ainda assim uma superpopulação.

Os dados são  conhecidos, e os avisos vêm de todas as instituições engajadas.

Para citar apenas um, vamos ao alerta do Banco Mundial para quem, se a população mundial chegar ao número estimado de 9,6 bilhões em 2050, serão necessários o equivalente a três planetas Terra para que continuemos a consumir recursos naturais com a intensidade atual.

Hoje propomos uma reflexão sobre nossa ação, enquanto a ilustramos com  o drama do Ártico.

A desigualdade e o consumo atual

Houve melhoras no nível de vida nos últimos tempos? Sem dúvida. Mas também houve uma absurda e inédita concentração de riqueza.

Hoje, o 1% mais rico do mundo acumula  mais do que o dobro da riqueza de 6,9 bilhões de pessoas.

E quase metade da humanidade vive com US$ 5,5 dólares por dia (Banco Mundial, 2018).

Acontece que a outra metade é gulosa, esbanja, e já consome o dobro do que a Terra pode suportar.

Foi por este motivo que o consumo foi incluído pelas Nações Unidas em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para o ano de 2030.

A meta Nº 12 impõe  como mudanças essenciais a diminuição do desperdício de alimentos; mudança radical no uso de combustíveis fósseis; e redução de resíduos lançados sem tratamento no meio ambiente.

Como retaliação, o planeta mais quente semeia secas dramáticas em todos os continentes, e chuvas torrenciais que matam e destroem cidades; vírus desconhecidos escapam das florestas destruídas, atacam, e amedrontam o mundo com a febre amarela, o Ebola, o Hantavírus e muito provavelmente agora, o coronavírus SARS-CoV-2.

Mas a ‘retaliação do planeta’ não se resume a doenças. Zoonoses  são  a parte menor.

Entre algumas das maiores, está o drama do Ártico.

Não é de agora que a situação passou a ser dramática.

O problema foi apontado faz tempo.

Cientistas passaram a estudar mais a região.

Em 2019 este site repercutiu um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, cujo título era Greenland’s Melting Ice Nears a ‘Tipping Point,’ Scientists Sayem tradução livre, O derretimento do gelo na Groenlândia se aproxima de um ‘ponto crítico’.

O texto de abertura dizia…

“O Ártico está esquentando ao dobro da taxa média do resto do planeta, e a nova pesquisa acrescenta evidências de que a perda de gelo na Groenlândia está se acelerando conforme o aquecimento aumenta”.

Cientistas especulavam se havia chegado o ‘ponto de inflexão’.

De 2019 para 2021, a resposta parece ser, sim, atingimos o ponto de inflexão.

O Ártico ‘perdendo sua alma’

Este é o título da matéria do Atlas Obscura, de agosto de 2021, escrito por Gemma Tarlach. O título diz tudo: Ghostly Satellite Image Captures the Arctic ‘Losing Its Soul’, ou, Imagem fantasmagórica de satélite captura o Ártico ‘perdendo sua alma.’

 

Imagem do manto de gelo da Groenlândia

Imagem de satélite da Groenlândia. Imagem, Atlas Obscura.

Tudo começou depois que uma onda de calor em meados de agosto levou à primeira chuva registrada em Summit Camp, o ponto mais alto do manto de gelo.

Enxurradas de água derretida correram por sua superfície. Os climatologistas registraram taxas de derretimento diárias sete vezes maiores do que o normal.

O tamanho do manto de gelo

É bom saber o tamanho do manto de gelo da Groenlândia, afinal é o que está em jogo:  são mais de 650.000 milhas quadradas com até 3 quilômetros de espessura; ele só perde em tamanho, e espessura, para o manto da Antártica que também sofre os efeitos do aquecimento produzindo cada vez maiores icebergs.

No outro extremo do planeta os efeitos nefastos de nosso modo de vida demonstram sua capacidade destrutiva.

Enquanto o polo Norte derrete, o polo Sul aos poucos segue o mesmo destino.

Chover no Ártico é inimaginável

Chover no Ártico é inimaginável.

A repercussão foi mundial.

New York Times abriu a manchete: It Rained at the Summit of Greenland. That’s Never Happened Before, em tradução livre, Choveu no cume da Groenlândia.

Isso nunca aconteceu antes.

Vale a pena conhecer o parágrafo de abertura do texto. Como todos, no caso em questão, o tom pode ser em maior ou menor escala, mas o drama está sempre presente.

Algo extraordinário aconteceu no último sábado no ponto mais alto da camada de gelo da Groenlândia, a mais de 500 quilômetros acima do Círculo Polar Ártico: choveu pela primeira vez.

A foto de satélite acima, descrita pelo Atlas Obscura

A foto acima é descrita pelo Atlas Obscura:

“Na imagem de satélite acima, capturada em 21 de agosto, do canto sudoeste do manto de gelo, a água azul-claro esculpe extensos canais ao redor de ilhas de gelo branco brilhante ou se acumula em depressões lamacentas.”

“O lado esquerdo da imagem está mais escuro e, com nuvens de tempestade no horizonte, é um aviso do que está por vir. A camada de gelo da Groenlândia, como o resto do Ártico, está presa em um truque do aquecimento global: conforme mais gelo derrete, ele cria condições para eventos de derretimento ainda mais rápidos e extremos.”

O que seria isso se não mais uma evidência do ‘ponto de inflexão’?

“O Ártico está perdendo sua alma”, diz Mark Serreze, diretor do National Snow and Ice Data Center.

“O Ártico de muitas maneiras é definido por sua neve e gelo, em todas as suas formas.”

“O que a imagem realmente transmite é como esse processo de degelo no verão está ficando cada vez maior e maior”.

Finalmente, diz a matéria do Atlas Obscura, o cientista climático da Universidade de Lincoln, Edward Hanna, diz que o degelo superficial “bastante dramático” mostrado na imagem é uma cena que provavelmente se repetirá porque “a Groenlândia está rompendo um ponto de inflexão crucial impulsionado pela mudança climática induzida pelo homem”.

Para Serreze, que estuda o Ártico desde 1982, os dramáticos acontecimentos na Groenlândia não são uma surpresa.

“Há muito tempo sabemos que o Ártico seria o primeiro lugar para levantar a bandeira vermelha, e foi exatamente isso o que aconteceu.”

Uma ilha surge debaixo da calota de gelo

O processo de degelo no Ártico é tão violento que uma ilha foi descoberta quando o manto de gelo se foi.

Aconteceu por acaso, em julho de 2021, quando cientistas foram coletar amostrar da ilha Oodaaq, conhecida desde 1978.

Quando checaram sua posição perceberam estar a 800 metros mais ao norte. A ilha que descobriram na costa da Groenlândia tem 60X30 metros, e é o ponto de terra mais próximo do Polo Norte.

 

Imagem da ilha Qeqertaq Avannarleq

Imagem da ilha Qeqertaq Avannarleq.

Os cientistas agora querem que a ilha se chame Qeqertaq Avannarleq, que significa “a ilha mais ao norte” na Groenlândia.

Assista ao vídeo e saiba mais 

Imagem de abertura: Atlas Obscura

Fontes: https://www.atlasobscura.com/articles/greenland-ice-sheet-melt?utm_medium=atlas-page&utm_source=facebook&fbclid=IwAR3YXlN25o7PI7ctoph8GiA8so0g_SOefv1_xLW6D7PQjZ-i-HJjWh3_h1g; https://www.nytimes.com/2021/08/20/climate/greenland-rain-ice-sheet.html; https://www.bbc.com/news/world-europe-58362752.

 

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