Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
O efeito bumerangue
Uma capivara banhava-se em um rio de águas revoltas. Tendo defecado, as fezes levadas pelo redemoinho foram parar em seu focinho. Indignada, ela
exclamou:
– Que cheiro horrível tem este rio nojento! Já não existem por aqui as puras águas de antigamente…
Não é tão fácil as pessoas perceberem que boa parte dos desequilíbrios ambientais é conseqüência de um comportamento fora de sintonia com as mais elementares leis da natureza.
Um povo que despeja esgoto em um rio que corta sua cidade, adoece mais facilmente, como se houvesse uma tentativa da natureza de eliminar o agente agressor. É o chamado efeito bumerangue, em referência à arma dos aborígenes australianos que, uma vez atirada, descreve uma circunferência no ar e, se o atirador não apanhá-la a tempo, ela lhe atingirá a nuca.
Isso parece óbvio.
Porém, o que parece óbvio para você, pode ser chinês em braile para seu vizinho. Veja, entre milhares, um exemplo banal:
Muita fumaça no ar, aumento estatístico de enfisema pulmonar.
O insensato logo argumenta:
– Mas, nem todos que respiram o mesmo ar têm enfisema pulmonar!
A lógica do pensamento comum é: para cada causa há um efeito correspondente. Ou: a toda ação há uma reação (de mesma intensidade e em efeito contrário, diria a Física). Dessa forma, se é verdade que fumaça no ar causa enfisema pulmonar, todos que respirarem deste ar terão o mal. Como nem todos desenvolvem a doença, não é verdade que muita fumaça no ar cause enfisema pulmonar. Este é o pensamento unicausal.
Contudo, as relações no mundo natural não são unicausais. Para cada ação há um sem-número de reações. A lógica do mundo natural é multicausal.
Entretanto, como isso não é perceptível, as conseqüências das agressões ambientais não são percebidas enquanto tal. Dentre outras razões, também por isso, é tão difícil as pessoas crerem que os ecologistas têm razão. De um lado, faltam informações; de outro lado, é outra a lógica de seu pensamento. O que faz com que muitos ajam como a capivara: não tenho nada com isso.
Um amigo meu, já começando a acreditar que as coisas são diferentes, mesmo achando que ainda não entende nada de ecologia, de vez em quando solta:
– O ‘poblema’ é que estão mexendo muito na natureza.
Augurando que, um dia, mexamos menos na natureza, um forte abraço e até sexta que vem.
Fonte – Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
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