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O lixo nosso de cada dia

Pesquisadora pesa e analisa resíduos produzidos em uma semana por quatro famílias paulistanas

Poder aquisitivo – Em países ricos, a concentração de resíduos inorgânicos é maior do que a de orgânicos, pelo maior consumo de alimento embalado

Lixo per capita – 1 kg de lixo por habitante por dia é a média do brasileiro. Entre os americanos, esse volume é de 2,25 kg. Em São Paulo, é de 1,5 kg

São Paulo – 10% do lixo produzido por dia no Brasil é gerado na capital paulistana, o equivalente a 17 mil toneladas diárias de resíduos

Reciclagem – 21% apenas do plástico produzido no Brasil é reciclado. Porém, o material representa 22% do total coletado

Prejuízos – R$ 8 bi por ano é o que o País poderia lucrar com a reciclagem. Hoje, a coleta seletiva rende de R$ 1,4 bi a R$ 3,3 bi

Total – 8,14 total de lixo de 6 a 13 de maio

Hábitos – “As pessoas têm rotinas corridas e preferem consumir alimentos prontos.” Ivone Silva, Pesquisadora da UNIFESP

O material de trabalho da geóloga Ivone Silva, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é o que o resto das pessoas descarta. Munida de avental, luvas deborracha e uma balança de supermercado, ela gosta de sair a campo para analisar o lixo produzido nas cidades. Entre 2008 e 2009, Ivone separou e pesou 250 quilos de resíduos por dia. Contou apenas com o apoio de dois bolsistas e
de dois funcionários da prefeitura para fazer um raio X do lixo em Diadema, no ABC.

A pedido do Estado, Ivone e os universitários Carolina Theóphilo e Paul Fooster repetiram a experiência num universo muito menor. Analisaram o lixo inorgânico produzido durante uma semana em quatro apartamentos, com dois a cinco moradores, de um prédio na região da Consolação, em São Paulo. O resíduo orgânico, que no País responde por cerca de 50% do lixo doméstico, foi descartado para facilitar a estocagem.

O objetivo da iniciativa foi mostrar às pessoas o quanto elas produzem de resíduos. “Nunca tinha parado para refletir sobre isso”, diz Márcia Marino, de 50 anos. Márcia, o marido e os filhos, adultos jovens, foram os campeões na produção de lixo, com 3,58 quilos – total que inclui 20 garrafas PET de refrigerante. Ou seja, em um ano a família produziria pouco mais de 170 quilos – ou o dobro disso, considerando
o lixo orgânico. “Vou tentar produtos com embalagens diferentes, como vidro. Aqui em casa a gente manda para reciclagem, então esse lixo não está sendo jogado no ambiente.”

Ivone também analisou os itens que mais pesaram no volume de lixo produzido pelas famílias. Os vilões foram o papelão e o plástico duro ou PET. “São itens geralmente mais pesados”, explica.

A professora da Unifesp lembra que há diferenças gritantes de consumo em áreas pobres ou ricas, mas vê uma tendência clara da população em favor de alimentos prontos, embalados, em porções cada vez menores. “As pessoas têm rotinas corridas e preferem comprar o alho já picado, molho de tomate pronto. Até a água de coco vem em embalagem longa-vida”, afirma Ivone. “As embalagens representam
um avanço tecnológico para conservar alimentos, mas depois o consumidor não sabe o que fazer com elas.”

A experiência teve um adendo: analisar os resíduos secos produzidos pelos serviços de delivery de fast food. Os moradores de um dos apartamentos, pai, mãe, filho de 10 anos e empregada doméstica, concordaram em pedir durante quatro noites refeições das redes Habib’s, China in Box, McDonald’s e Pizza Hut. Os resíduos foram pesados e separados por material. “O pedido de pizza fica em primeiro
lugar, porque o papelão pesa mais, mas o lixo dos outros pedidos também foi relevante pelo grande número de unidades de embalagens”, analisou Ivone.

A Pizza Hut afirmou que as embalagens do delivery são recicláveis. “Nos últimos dois anos, a empresa investiu em novas tecnologias. Reduzimos em mais de 20% o material utilizado.”

O McDonald’s liderou em volume e em número de embalagens. A empresa afirma que tem um compromisso com o ambiente e adota condutas como o princípio dos três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. “Essa política norteia a logística de distribuição e a operação dos restaurantes.”

O Habib’s alegou que suas embalagens incentivam o cliente a reciclar. “Além disso, a rede sempre procura definir embalagens de materiais recicláveis, reduzindo sua variedade e tamanho.”

O China in Box afirmou que a embalagem de seu box padrão usa papel cartão certificado. “A empresa também está prestes a implantar o uso de sacolas biodegradáveis, possivelmente ainda no segundo semestre de 2010.”

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APTO 21 – 3,58 kg – Pai, mãe e dois filhos
Total: 3,58kg
papel+papelão: 29,6%
tetrapak: 5,5%
vidro: 4,4%
latas de alumínio: 1,6%
latas de metal ferroso: 5%
isopor: 3,3%
plástico mole: 6%
plástico duro + PET: 41%

MATERIAL
20 GARRAFAS PET DE REFRIGERANTE, GARRAFA DE DETERGENTE, POTE DE FERMENTO, POTE DE MOLHO INGLÊS, 2 COPOS DE PLÁSTICO DE REQUEIJÃO, POTE DE SORVETE, GARRAFA DE PLÁSTICO DE LEITE, 5 CAIXAS TETRAPAK DE LEITE, 1 CAIXA TETRAPAK DE ÁGUA DE COCO, 2 MAÇOS DE CIGARRO, EMBALAGEM DE PAPELÃO DOS CORREIOS, 3 REVISTAS, MATERIAL PUBLICITÁRIO, COMPROVANTES bANCÁRIOS, CAIXAS DE OVO, CAIXA DE GELATINA, CAIXA DE CHOCOLATE, CAIXA DE SABÃO EM PÓ, 2 LATAS DE ALUMÍNIO DE REFRIGERANTE, 5 LATAS (SARDINHA, LEITE CONDENSADO, MILHO VERDE), EMBALAGEM DE ALUMÍNIO DE DESODORANTE, VIDRO DE REQUEIJÃO, CAIXAS DE ISOPOR, SACOLINHAS PLÁSTICAS, SACO DE ARROZ, SACOS DE SALGADINHO, SACO DE FARINHA, SAQUINHO DE QUEIJO RALADO, SACO DE BATATA PALHA, PACOTE DE MIOJO, PACOTE DE BIS E SAQUINHO DE GUARDANAPO

“Não tinha ideia do quanto produzo de lixo. Vou procurar reduzir.” Márcia Marino, dona de casa, 50 anos

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APTO 22 – 2,36 kg – República com 5 universitários
Total: 2,36 kg
papel + papelão: 17,7%
tetrapak: 11%
plástico mole: 11,8%
plástico duro + PET: 31,3%
latas de alumínio: 5%
latas de material ferroso: 3,3%
vidro: 19,5%

MATERIAL
8 GARRAFAS PET, POTE DE DANONE, POTE DE SORVETE, POTE DE IOGURTE, POTE DE TEMPERO, 2 GARRAFAS DE VIDRO DE CERVEJA, LATAS DE ALUMÍNIO DE CERVEJA, LATAS DE REFRIGERANTE, LATAS DE MILHO, CAIXA TETRAPAK DE SUCO E LEITE, EMBALAGEM DE PAPELÃO PARA PIZZA, McDONALD’S, EMBALAGEM DE COOKIES, MAÇOS DE CIGARRO, COMPROVANTES BANCÁRIOS E PAPEL DE CADERNO

“As empresas deveriam investir na produção de embalagens diferentes.” Júlio G., publicitário de 30 anos

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APTO 31 – 0,90 kg – Mãe e filho
Total: 0,90kg
papel + papelão: 43,3%
plástico mole: 12,2%
plástico duro + PET: 35,5%
isopor: 3,3%
tetrapak: 4,4%
embalagens contendo alumínio: 1,1%
restos de madeira: 1,1%

MATERIAL
EMBALAGENS DE SABÃO EM PÓ, CHOCOLATE, BOBINA DO ROLO DE PAPEL HIGIÊNICO, CAIXA DE REMÉDIO, JORNAL, COMPROVANTES BANCÁRIOS, ISOPOR, GARRAFA DE AMACIANTE, GARRAFA DE REFRIGERANTE, CAIXA DE SUCO, EMBALAGEM DE ARROZ, BISNAGAS, PÃO E SACOLINHAS

“Meu filho fica fora de casa o tempo todo e acabamos consumindo pouco.” Marina Ruocco, pedagoga de 52 anos

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APTO 32 – 1,30 kg – Pai, mãe, filho e doméstica
Total: 1,30kg
papel + papelão: 46,1%
plástico mole: 24,6%
plástico duro + PET: 16,9%
isopor: 4,6%
tetrapak: 7,7%

MATERIAL
ISOPOR, 3 GARRAFAS PET, 2 POTES DE TEMPERO, 6 POTES DE DANONINHO, MARGARINA, EMBALAGEM DE PAPELÃO DE CONGELADOS, CAIXAS DE OVOS, BOBINA DE ROLOS DE PAPEL HIGIÊNICO, EMBALAGEM DE PAPELÃO DE BATATA FRITA FAST FOOD, COPO DE PAPELÃO DE FAST FOOD, SACOLA DE PAPELÃO, PAPEL DE CADERNO, EMBALAGEM DE PAPELÃO DE SEDEX, EMBALAGEM DE PAPELÃO DE DOCE, EMBALAGEM DE CAFÉ, EMBALAGENS DE REMÉDIO, PANFLETOS PUBLICITÁRIOS, 3 CAIXAS DE LEITE E UMA CAIXA TETRAPAK DE ERVILHA, SACOLINHAS DE PLÁSTICO, SACO DE ARROZ, SAQUINHOS DE DOCE E
SALGADINHOS, PACOTE DE MIOJO, PACOTE DE CHOCOLATE, EMBALAGEM PLÁSTICA DE PAPEL HIGIÊNICO E SACO DE LENTILHA

“Sempre tento comprar produtos que geram menos lixo e evito as sacolinhas.” Paula Ruocco, empresária de 25 anos

O TESTE DO FAST FOOD – 1,52 KG

A mesa do delivery

Pizza Hut:
total: 580 g
papelão: 86,2%
papel: 1,7%
plástico duro +
PET: 10,3%
plástico mole: 1,7%

Mc Donald’s:
total: 370 g
papel+papelão: 81%
plástico duro
(copos): 16,2%
plástico mole: 2,7%

Habib’s:
total: 300 g
papelão: 73,3%
papel: 6,6%
plástico duro+
PET: 20%

China in Box:
total: 270 g
papel+papelão: 59,2%
plástico duro +
PET: 22,2%
plástico mole: 7,4%
madeira: 7,4%
embalagens de
alumínio: 3,7%

Fonte – Fernanda Fava e Karina Ninni Especial para O Estado de 19 de maio de 2010

 

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