Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
O mundo entrou mesmo em uma nova época geológica?
Há pouca dúvida agora de que o mundo entrou em uma nova era geológica, diz o relatório de um painel científico internacional.
Os pesquisadores, que receberam a tarefa de definir o chamado “Antropoceno”, afirmam que os impactos do domínio dos seres humanos sobre a Terra será visível em sedimentos e rochas daqui a milhões de anos.
A escala de tempo geológico estabelece eones, eras, períodos, épocas e idades que permitem categorizar as diferentes fases que vão da formação da Terra ao presente.
Segundo a Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS, em inglês), responsável pela definição da escala de tempo da Terra, estamos, ainda, na época Holocena (iniciada há 11.500 anos).
Atualmente, os cientistas trabalham para elaborar uma classificação formal da nova época, que dá à presença humana uma posição mais central na história geológica do planeta.
Uma questão ainda em aberto é sobre qual seria sua data formal de início, que alguns membros do painel acreditam que deve ser a década de 1950.
A década marca o início da “Grande Aceleração”, quando a população humana e seu padrão de consumo acelerou subitamente.
Ela também coincide com a proliferação dos “tecnomateriais” como alumínio, concreto e plástico e cobre os anos em que testes de armas termonucleares dispersaram elementos radioativos por todo o planeta.
Mudanças significativas
O relatório, feito pelo Antropocene Working Group e publicado na revista Science, não é ainda um parecer final sobre o assunto. Ele representa uma posição preliminar sobre o assunto – uma espécie de atualização nas investigações do painel.
Mas a descoberta mais importante é a de que o impacto da humanidade na Terra deve ser considerado como dominante e suficientemente distinto para justificar uma classificação separada.
“O trabalho analisa a magnitude das mudanças que a humanidade provocou no planeta”, disse à BBC o geólogo britânico Colin Waters, que é porta-voz do grupo.
“Será que (estas mudanças) foram suficientes para alterar significativamente a natureza dos sedimentos sendo acumulados no presente, e será que são diferentes do que ocorreu na atual época Holocena, que começou no fim da última era do gelo? Os argumentos nesse sentido foram apresentados.”
“Dentro do grupo – e nós temos 37 membros – acho que a maioria das pessoas concorda que estamos vivendo um intervalo que deveríamos chamar de Antropoceno. Ainda há uma certa discussão sobre isso deveria ser uma unidade formal ou informal, mas gostaríamos de ter uma definição específica. E a maioria do grupo está inclinada a considerar o meio do século 20 como o começo dessa nova época.”
Depois que o grupo apresentar suas recomendações finais, caberá à Comissão Internacional sobre Estratigrafia (ramo da geologia que estuda os estratos ou camadas de rochas) aceitar ou não o “Antropoceno” como unidade adicional no esquema temporal usado para descrever os 4,6 bilhões de anos de história do planeta.
No entanto, ainda deve demorar um pouco para que a famosa tabela cronoestratigráfica, que aparece em livros e cartazes na escola mostrando os diferentes momentos da Terra, seja reformulada para a inclusão da nova época.
Se for decidido que a data inicial do Antropoceno foi o meio do século 20, será preciso justificar a decisão com amostras de solo, feitas com sondas, que mostram a “assinatura” do período.
Ela pode incluir, por exemplo, sedimentos de lagos ou oceanos contendo marcadores de poluição, como partículas de fuligem produzidas pela queima de combustíveis fósseis.
Estas amostras precisariam refletir uma marca global, e não apenas local, da atividade humana. Mas elas podem levar anos para serem coletadas.
Provas ‘óbvias’
“Há uma dificuldade conceitual de entender que no período de uma vida humana, nossa espécie – que existe há pouco tempo – mudou profundamente este planeta de bilhões de anos”, disse à BBC a jornalista e escritora britânica Gaia Vince, comentando o trabalho do grupo de cientistas.
Em 2015, ela tornou-se a primeira mulher em 30 anos a ganhar o prêmio Winton da Royal Society (a mais importante sociedade científica britânica) de melhor obra científica por seu livro Adventures in the Anthropocene (Aventuras no Antropoceno, em tradução livre), uma espécie de diário de viagem que tenta explicar as enormes mudanças que têm ocorrido na Terra.
“No entanto, as provas estão cada vez mais óbvias para todos nós, desde imagens de transformações globais feitas por satélites passando por extinções locais de borboletas até nossas experiências com eventos climáticos extremos. No entanto, essa é uma tarefa difícil e nova para os geologistas. Eles têm que determinar o início de uma época cuja paleontologia e geologia ainda estão sendo criadas. Ainda não há uma ‘listra’ nas camadas de rochas que simboliza o ‘Antropoceno’.”
“Isso é importante porque mostra que foi uma evolução na sociedade humana que criou esta mudança climática planetária – e é a forma como a sociedade humana se desenvolve que moldará esta nova era por muitas décadas e séculos.”
Fonte – Jonathan Amos, IHU de 11 de janeiro de 2016
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