Por José Tadeu Arantes - Agência FAPESP - 31 de outubro de 2024 - Estratégia…
O mundo vai permitir a mineração submarina?
Por Sérgio Teixeira Jr. – Reset – 12 de julho de 2023 – Negociação decisiva busca o difícil equilíbrio entre a urgência da transição energética e a preservação dos ecossistemas marinhos
Representantes de 168 países estão reunidos desde segunda-feira na Jamaica para decidir se o fundo do mar pode ser explorado em busca de minérios.
O tema, controverso há décadas, ganhou urgência com a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis.
Os defensores da mineração submarina dizem que ela é crucial para garantir acesso a elementos críticos da eletrificação, como o níquel, o cobre e o cobalto usados nas baterias.
Os ambientalistas argumentam que os impactos negativos nos ecossistemas são incalculáveis, literalmente: mais de 75% do fundo do oceano não foi nem sequer mapeado.
Os países também estão divididos. Rússia e China lideram o movimento a favor da liberação. França e Alemanha são os expoentes da resistência.
As negociações acontecem no âmbito da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês), um obscuro órgão da ONU que governa tudo abaixo de 200 metros de profundidade em águas internacionais.
Durante as próximas três semanas, os negociadores terão de decidir se o fundo do mar, definido como uma “herança comum da humanidade”, poderá ser explorado comercialmente, e como.
Uma resolução terá de ser encontrada neste mês por uma questão técnica.
Nauru, uma pequena ilha do Pacífico, apresentou em 2021 uma demanda à ISA que na prática obriga o órgão a se manifestar em no máximo dois anos sobre a mineração no fundo do mar.
O prazo está para vencer, mas ainda não se chegou a um acordo sobre as regras para esse novo tipo de atividade.
O temor é que, caso a entidade aprove o pedido de Nauru sem consenso sobre diretrizes mínimas de governança, abram-se as portas para a exploração indiscriminada.
Um aspirador submarino
A mineração no fundo do oceano é diferente da realizada em terra firme.
Submergíveis equipados com uma espécie de aspirador sugam pelotas metálicas que se formaram ao longo de milhões de anos.
Essas rochas são submetidas a um processo inicial de separação na superfície, e o que não tem valor é devolvido ao mar.
Cientistas e ativistas ambientais apontam vários riscos potenciais. Um deles está relacionado ao próprio clima: cerca de 40% do CO2 emitido pela humanidade está sedimentado em águas profundas.
Remexer o solo marinho poderia causar a liberação de dióxido de carbono na atmosfera, como alertou um estudo recém-publicado pela entidade Fauna & Flora International.
E outras partículas suspensas no mar podem se dispersar por vastas áreas, representando um problema potencial para ecossistemas distantes.
Uma alternativa ‘menos pior’
Os defensores da mineração nas profundezas do oceano dizem que escavar em terra é uma alternativa ainda pior.
A Indonésia domina a produção global de níquel e tem um quinto das reservas conhecidas do metal.
Ao mesmo tempo, o país detém uma das maiores florestas tropicais do mundo.
Se todo o metal presente no solo indonésio fosse explorado, haveria enorme pressão socioambiental, pois um dos métodos de exploração gera resíduos tóxicos num país sujeito a terremotos e chuvas torrenciais.
A The Metals Company, empresa canadense que pretende inaugurar a era da mineração submarina em Nauru, diz que a exploração no mar faz mais sentido.
“Precisamos de um quarto ou menos de minérios para obter a mesma quantidade de metais. Diante de uma demanda crescente, é importante suplementar a oferta com o menos impacto possível para o planeta e para as pessoas”, diz um comunicado publicado no site da companhia.
Hora da verdade
Um grupo diverso de países, incluindo Chile, Holanda e pequenas ilhas do Pacífico como Vanuatu e Palau, defendem na ISA um adiamento de qualquer decisão até que haja consenso sobre um conjunto de regras e uma maneira de garantir sua aplicação.
A entidade é acusada por alguns de ser “pró-mineração”.
O britânico Michael Lodge, secretário-geral da organização, caracterizou no passado os pedidos de cautela como “anticiência, anticonhecimento e antileis internacionais”.
Uma representante do governo alemão afirmou que o país pode recorrer a tribunais internacionais caso a decisão seja acelerar a liberação da atividade.
Os diplomatas terão de encontrar um delicado equilíbrio entre a conservação e a necessidade de manter o ritmo da transição energética.
A Agência Internacional de Energia publicou esta semana seu primeiro relatório sobre os minerais críticos para a eletrificação.
Entre 2017 e 2022, a demanda global de lítio triplicou, a de cobalto cresceu 70% e a de níquel, 40%.
O crescimento vai continuar acelerado para que se atinja o net zero na metade do século, segundo as projeções da agência.
Um dos grandes desafios da descarbonização global, segundo o estudo, é a diversificação da oferta — desde que ela venha de “fontes limpas e responsáveis”.
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