Durante séculos, os produtos industrializados tiveram um ciclo de vida muito parecido: extração da matéria-prima da natureza, manufatura, uso e descarte.
É o que os economistas chamam de economia linear, um modelo presente desde os primórdios da industrialização e que ajudou a moldar os hábitos dos consumidores em todo o mundo.
Esse método, no entanto, está com os dias contados. Diante do aumento da preocupação da sociedade com a preservação do meio ambiente e os desafios inerentes às mudanças climáticas, um novo modelo de produção vem ganhando força: a economia circular, no qual resíduos são utilizados como matéria-prima para a fabricação de novos produtos.
O conceito em si não é novo.
Ele foi cunhado nos anos 1970, mas começou a ser implementado, ainda que timidamente, a partir do final dos anos 1980.
Nos últimos tempos, porém, vem se tornando um diferencial competitivo para companhias dos mais variados setores, trazendo resultados altamente positivos, tanto ambientais quanto econômicos.
Um estudo recente divulgado pela Comissão Europeia estima que a migração para a economia circular possa gerar ganhos de até 0,5% no PIB do bloco e abrir mais de 700 mil postos de trabalho até 2030.
“A Economia Circular já é prioridade número um no pacote de diretrizes da União Europeia e base estruturante para o desenvolvimento da região. Além disso, o tema se torna relevante para o Brasil quando é anunciado que a União Europeia só será bem sucedida se a transição ocorrer em nível global e, para isso, promove o lançamento da Coalizão de Economia Circular para a América Latina e Caribe, que servirá como uma plataforma para o intercâmbio de melhores práticas e promoção dos benefícios da transição”,
afirma Beatriz Luz, autora do livro “Economia Circular Holanda-Brasil – Da teoria à prática”.
No Brasil não tem sido diferente.
Com a popularização da agenda ESG entre as empresas brasileiras, começam a surgir algumas ações inovadoras neste sentido, algumas com metas bem ousadas.
Líder global no setor de proteína animal e segunda maior empresa de alimentos do mundo, a JBS, por exemplo, já conseguiu reaproveitar em 50% o total de resíduos produzidos em suas operações em todo o mundo.
Somente em 2020, reaproveitou cerca de 1 milhão de toneladas de materiais que até então eram considerados lixo.
Diversas ações relacionadas à economia circular têm ajudado a melhorar os indicadores de sustentabilidade da companhia.
Entre as inovações está o “piso verde“, um material criado a partir da reciclagem de aparas de embalagens plásticas utilizadas em produtos in natura, de difícil reciclagem e que eram destinadas a aterros.
O desenvolvimento dessa tecnologia, conduzido pela JBS Ambiental, braço da companhia responsável pelas ações relacionadas à economia circular, levou cerca de dois anos, mas o resultado foi um produto com resistência equivalente ao concreto e que atende a todas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
As 20 toneladas de aparas de plástico multicamada geradas todos os meses nas unidades da empresa em Campo Grande (MS), Lins (SP) e Andradina (SP), que até então eram um problema, agora estão sendo utilizadas para a fabricação de pisos para as suas instalações.
O primeiro lote do piso verde foi instalado em uma área de 2,2 mil metros quadrados na sede da JBS Ambiental, em Lins, interior paulista.
“A sustentabilidade só é possível com inovação. Nosso objetivo é agregar valor a algo que seria destinado ao meio ambiente”, afirma Susana Carvalho, diretora-executiva da JBS Ambiental.
“Somente neste projeto inicial, foram utilizadas mais de cinco toneladas de plástico que iriam para o aterro. A ideia é que esse material se transforme em um produto comercial para a indústria de construção.”
Outra atividade interessante, esta já plenamente consolidada, é a produção de biodiesel a partir de resíduos da cadeia de produção de proteína, um insumo abundante nas plantas da empresa.
Atualmente, são produzidos mais de 265 milhões de litros do biocombustível, o que torna a JBS maior produtora mundial verticalizada deste tipo de combustível, fundamental para a redução de emissões nos veículos de carga.
Outro insumo utilizado na produção do biodiesel pela JBS é o óleo de cozinha recuperado, coletado em mais de 40 cidades brasileiras, o que já ajudou a dar uma destinação ambientalmente correta a cerca de 13 milhões de litros de óleo usado.
Levando-se em consideração que cada litro de óleo pode poluir até 20 mil litros de água potável, o volume coletado pela JBS já contribuiu para evitar a contaminação de mais de 270 bilhões de litros de água.
Já a nova empreitada da empresa na área da economia circular, uma fábrica de fertilizantes orgânicos e organominerais, deve beneficiar diretamente os produtores rurais brasileiros.
Neste caso, a JBS pretende utilizar resíduos orgânicos gerados tanto em confinamentos quanto em suas plantas industriais para a produção de adubo, insumo do qual o Brasil é hoje altamente dependente de importações.
Será a primeira empresa brasileira do setor de alimentos a atuar neste segmento.
“Essas são algumas das ações do compromisso Net Zero 2040 da JBS, que tem como objetivo zerar o balanço das nossas emissões e compensar toda a emissão residual de carbono até 2040”, completa Susana Carvalho, reforçando que novas iniciativas relacionadas à economia circular serão lançadas. “Nosso compromisso com a sustentabilidade não é apenas com o que estamos fazendo hoje, mas sim sobre o que nós ainda vamos fazer.”
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