Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
O que é Ressurgência
O afloramento ou ressurgência é um fenômeno oceanográfico raro e ocorre em poucos pontos dos oceanos e que consiste na subida de águas subsuperficiais, mais finas, muitas vezes ricas em nutrientes, para camadas superficiais no oceano. A maior disponibilidade em regiões de afloramento resulta em altos níveis de produtividade primária e produção pesqueira.
25% das capturas globais de peixes acontecem onde há ressurgência
Aproximadamente 25% das capturas globais de peixes são provenientes de cinco locais que ocupam apenas 5% da área oceânica total. As ressurgências que são conduzidas por correntes costeiras, ou divergentes nos oceanos abertos, têm grande impacto sobre as águas enriquecidas em nutrientes aumentando os rendimentos da pesca.
A primeira expedição do Mar Sem Fim e a ressurgência
Ela aconteceu entre 2005-2007 quando o Mar Sem Fim navegou do rio Oiapoque até o Chuí. Em nossa passagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro tivemos uma bela aula sobre o mar ministrada pelo professor francês Jean Louis Valentim.
Jean Louis veio ao Brasil para trabalhar justamente em Cabo Frio quando o almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, pioneiro da oceanografia, idealizou e implantou o Projeto Cabo Frio (anos 60) com esta finalidade: estudar a ressurgência.
O fenômeno da ressurgência
Para entender é preciso saber qual a função de cada uma das peças deste enorme quebra-cabeça: o ecossistema marinho. Talvez o passo número um seja ter em mente que na superfície da água do mar vivem os organismos do plâncton, que flutuam ao sabor das correntes e são formados por algas microscópicas. São ínfimos crustáceos, medusas e larvas de peixes. Os vegetais desta massa de organismos vivos, invisíveis a olho nu, são conhecidos pelos cientistas como fitoplâncton (existem milhares deles numa gota d’água). Os animais, como zooplâncton. Estes seres dão início a cadeia alimentar. E nos mares tropicais, frisou Valentin, a quantidade de fitoplâncton é pequena, só isto já justifica a pouca densidade de biomassa pesqueira.
Ressurgência: o nome dado pelos oceanógrafos para designar um movimento ascendente das águas marinhas
Segundo ele, “este foi o nome dado pelos oceanógrafos para designar um movimento ascendente das águas marinhas”. Para compreendê-lo em toda sua plenitude é importante ter algumas noções sobre oceanografia física.
Ressurgência e a força Coriolis, causada pela rotação da Terra
Com a palavra o professor: “O vento que sopra na superfície do mar provoca além de ondas, uma corrente de deriva de águas superficiais. A direção desta corrente sofre a influência da chamada força Coriolis, causada pela rotação da Terra. O movimento de conjunto desta massa deslocada apresenta um ângulo de 90 graus em relação à direção do vento. Para a direita no hemisfério norte, e para a esquerda no hemisfério sul. Assim, um vento de direção norte norte-sul soprando paralelamente à costa brasileira provocará um deslocamento de águas superficiais para o largo. Esta corrente de deriva será compensada por uma corrente de água profunda em direção à costa”. Ou seja, “o volume de água empurrado para fora da costa é substituído por volume semelhante carregado do fundo para a superfície. O cálculo disso representa o índice de ressurgência que estima a amplitude do fenômeno”.
Ressurgência em Cabo Frio, e as maiores do mundo
Tão simples como isto. Em nosso caso, Cabo Frio, a amplitude é de pequenas proporções. As maiores ocorrem no oceano Pacífico, na costa do Peru e da Califórnia. E no Atlântico, nas costas da África do Norte, do Marrocos ao Senegal, e no Atlântico Sul, na região do Cabo. No Índico ela está presente na costa da Somália. O professor explica que também existem casos de ressurgência no meio dos oceanos “causadas pela divergência de corrente de deriva”.
Ressurgência, qual a importância ?
Bem, segundo Jean Luis Valentin, “entre todos os fenômenos oceânicos, o de maior impacto sobre a situação socioeconômica do homem é justamente a subida, para a superfície de uma massa de águas profundas. Elas não se caracterizam apenas pelas baixas temperaturas, mas também – e sobretudo- por seu elevado teor em sais minerais oriundos da remineralização dos detritos orgânicos pelas bactérias”.
A cadeia alimentar inicia-se pelos vegetais
Ele arremata: “No mar, assim como na terra, a cadeia alimentar inicia-se pelos vegetais que sintetizam sua matéria orgânica a partir de energia solar e assimilação de nutrientes. Está neste caso o fitoplâncton. Os animais herbívoros, que se alimentam destas algas representam o segundo nível da cadeia. Nos níveis superiores eles são predados por peixes numa sucessão que pode chegar ao homem”. Em resumo, “com o afloramento das águas profundas, ricas em nutrientes, são preenchidas as condições para que haja a produção biológica que se traduz por uma maior biomassa pesqueira”. Não é por outro motivo que o pequeno Peru está entre os três maiores países produtores de pescado do mundo.
Em Cabo Frio
E é justamente por este motivo que no verão (época do vento nordeste) os turistas que vêm para esta região se espantam, por vezes, com a temperatura da água, que ao invés dos tradicionais 24°C, varia entre 15° E 18°C.
Finalmente, Jean Valentin explica que no Brasil a ressurgência é mais forte em Cabo Frio (mas ocorre com menor intensidade do Rio de Janeiro até Vitória, ES), em função da topografia (mudança da linha da costa que vinha no sentido norte-sul para leste-oeste), e também pela profundidade da plataforma na região.
Produção de pescado, turbinada pela ressurgência
Perguntamos como anda hoje a produção de pescado, turbinada pela ressurgência. Um tanto preocupado, o professor explica: “a cadeia alimentar nascida do enriquecimento das águas em nutrientes leva a uma intensa produção de sardinhas (sardinella brasiliensis), que vem declinando de forma significativa, sem sinais de recuperação, não se sabe se por causa da pesca excessiva, da poluição, do enfraquecimento do fenômeno, ou da combinação de todos estes fatores”.
Eis aí, mais uma vez, a ação do homem prejudicando o curso natural.
Nossa pegada no planeta
Nossa “mão” tem sido tão perniciosa que não se contenta em só ameaçar ecossistemas, ou introduzir animais exóticos. Agora impede ou enfraquece fenômenos físicos. E você, o que tem feito para contribuir ou preservar? Pense na importância dos oceanos e nas aflições por que ele passa, e faça sua parte. Não jogue nada no mar. Modifique seus hábitos, e denuncie a destruição de áreas de preservação, ou ajude a difundir estas informações.
Só conhecendo e respeitando os brasileiros terão o domínio de seu imenso mar territorial.
Assista a animação sobre a ressurgência
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afloramento_(oceanografia);
http://geografando-1k.blogspot.com.br/2012/05/ressurgencia.html;
https://en.wikipedia.org/wiki/Upwelling; www.marsemfim.com.br;
Este Post tem 0 Comentários