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O que pensar sobre o aviso científico que mostra a rapidez do aquecimento dos oceanos

O aquecimento dos oceanos é um indicador muito importante da mudança climática — Foto: Unplash

“Se você quer ver onde o aquecimento global está realmente acontecendo, procure em nossos oceanos. O aquecimento dos oceanos é um indicador muito importante da mudança climática, e temos fortes evidências de que eles estão aquecendo mais rapidamente do que pensávamos”. A declaração é de Zeke Hausfather, um estudante de pós-graduação do Grupo de Energia e Recursos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e co-autor do artigo largamente publicado ontem dando conta do fenômeno preocupante. É preciso lidar com rapidez para um evento climático que também está vindo rápido, muito mais do que os próprios cientistas foram capazes de prever.

Isto implica diretamente no modo de vida do cidadão comum. Quem mora em cidades costeiras já sofre um grave risco, com o aumento do nível do mar e com tempestades mais chuvosas e mais poderosas.

A vida marinha também está sofrendo, e como consequência temos uma mortandade de vidas marinhas que não conseguem se adaptar a um novo status em seu habitat natural. Até mesmo o encalhe de baleias, que vem acontecendo também muito mais vezes do que antes, é consequência direta do fato de elas não encontrarem comida onde costumavam encontrar. Acabam nadando para águas mais rasas em busca de alimento, o que é fatal para elas.

Animais marinhos não conseguem se adaptar a um novo status em seu habitat natural — Foto: Pexels

Animais marinhos não conseguem se adaptar a um novo status em seu habitat natural — Foto: Pexels

Os avisos de que estamos vivendo uma situação de risco não param de cair em nossas caixas de correio, o que mostra a gravidade da situação e a necessidade de se tomar medidas cautelosas. Em várias partes do mundo, tais medidas já estão em curso.

Aqui no Brasil, onde vínhamos vivendo um protagonismo na área do meio ambiente desde a Rio-92, as coisas estão num outro ritmo. O tema das mudanças climáticas foi retirado da estrutura do Ministério das Relações Exteriores e pulverizado em outras secretarias. Segundo nota publicada no site do Observatório do Clima (OC), “a extinção da Divisão de Clima permite antever que o tema climático perderá peso no Itamaraty – apenas dois anos e meio depois de o então chanceler José Serra promovê-lo a prioridade – ficando prejudicada a participação que o Brasil tem nas negociações do clima e que traz recursos, investimentos e soft power ao país”.

O pano de fundo disso é que o atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assumiu a pasta alardeando seu negacionismo com relação às mudanças climáticas. Na verdade, acima dele, o próprio presidente Jair Bolsonaro, na mesma linha de Donald Trump, também não concorda em que se dê tanta atenção à ciência neste sentido. A ponto de a Organização Meteorológica Mundial, agência ligada às Nações Unidas, ter feito publicamente um pedido a Bolsonaro para que ele não pare de se engajar em temas relacionados às mudanças do clima, segundo reportagem publicada há pouco no site do “Estadão”.

São tempos difíceis, que exigem menos pulverizações e mais concentração de forças para poder superar o que já está acontecendo. E o que vem por aí. Autor do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”, o professor de história da Unicamp Luiz Marques escreveu um artigo no último domingo publicado no suplemento Ilustríssima, do jornal Folha de São Paulo, em que lembra uma citação de escritor de ficção científica Philip K. Dick: “a realidade é isto que não vai embora quando você para de acreditar nela”.

“Os que contestam a capacidade dos modelos científicos de predizer quando o aquecimento médio global atingirá níveis catastróficos não percebem o simples fato de que o atual aquecimento médio global, de cerca de 1º C, já é catastrófico. Basta atentar para a proliferação de ondas mortíferas de calor, as extinções em massa, o aumento da fome, as maiores secas, os furacões e os incêndios florestas que varrem o planeta”, escreve Marques.

O aquecimento dos oceanos é, portanto, a mais nova catástrofe anunciada. No livro “Seis graus” (Ed. Zahar), o jornalista Mark Lynas traça uma visão, com base nos estudos científicos publicados, do que pode ser um mundo mais aquecido. Ele começa com 1 grau a mais e descreve os sintomas que acompanharemos um por um grau a mais, até chegar aos seis graus. Neste cenário, com o planeta seis graus mais quente, quando Lynas foca nos oceanos, ele conta que “catastróficas liberações de hidrato de metano podem aquecer de tal forma o clima que os oceanos deixaram de circular adequadamente”.

“Na atmosfera, o aquecimento leva à convecção, porque ela acontece de baixo para cima: o ar mais quente se expande, torna-se mais leve e sobe, e consequentemente o ar circula. No oceano, o aquecimento se faz de cima para baixo. Assim, as camadas de calor, mais leves, ficam como uma tampa sobre as mais frias, embaixo, cortando o suprimento de oxigênio e levando potencialmente a extinções em massa”.

Não é ficção, como já dito. Dados coletados de estudos feitos por cientistas levaram a esta conclusão que o jornalista tão bem compilou. “Uma advertência que diz respeito ao nosso futuro imediato”, escreve Lynas.

Não dá mais para fingir que não estamos vivendo já as consequências de um caos climático provocado pelas atividades humanas. E é preciso fazer mudanças para enfrentar estes efeitos. Se os governos começam a tender para uma postura diferente, negando tais comprovações, os cidadãos têm que ficar alertas porque, no fim das contas, as ameaças são a toda a espécie.

Fonte – Amelia Gonzalez, G1 de 

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