Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
O reencontro
O homem é só um animal transitório habitando um planeta perdido na vastidão do universo.
Charles Robert Darwin não disse isso. Quis falar exatamente isso, mas em sua época era preciso pegar mais leve. Portanto, foi mais sutil quando, em seu livro A Origem das Espécies, afirmou que humanos e macacos descendem de um ancestral comum.
Em 1859, num inverno pra inglês nenhum botar defeito, sua conclusão foi uma tijolada no orgulho da espécie e descortinou uma das maiores tragédias do pensamento humano: somos tão somente uma das criaturas da Criação. Não somos a espécie eleita. Não somos especiais.
Ora, para uma sociedade que sustenta seus valores na competição e na dominação da natureza, ser igual a ela acarreta sérios problemas morais. Ter semelhança com os macacos não é drama estético e sim tragédia ética.
Apenas sendo diferente do resto da natureza, podemos ferí-la sem culpa. Só sendo desigual, podemos subjugá-la sem complexos. Tão somente apartando-se dela, adquirimos a chancela para dominá-la. Caso contrário, teríamos que aceitar que ferimos, subjugamos e dominamos um igual.
Nossa moral, se hipócrita ou não, não vem ao caso, não admite ferir, subjugar e dominar um outro ser humano. Entretanto, quando ele é bicho ou planta, nossos códigos de conduta silenciam.
Por isso, ser mais um animal, ser semelhante ao resto da criação é um sério problema moral para quem quer moldar o mundo natural aos seus caprichos. Este foi o pecado capital daquele barbudo: esmagar na unha o confesso antropocentrismo de nossa egocêntrica espécie. Apenas por este fato, romanos e troianos, gregorianos e baianos, bolivianos e corintianos não o perdoam.
Eu, de minha parte, só comemoro.
O navio em que Darwin viajava, da Inglaterra para o Equador, aportou na Bahia e, seis meses depois, no Rio de Janeiro. Entre maravilhar-se com uma chuva tropical na densa Floresta da Tijuca e recolher mais de 70 espécies de besouro em um único dia, ele escreveu em seu diário, sobre o Brasil varonil.
– “Se um crime, não importa quão grave seja, é cometido por um homem rico, ele logo estará em liberdade. Todo mundo pode ser subornado.
Ele tinha 22 anos e o Brasil, 332.
Mês passado, ele voltou ao país, agora em uma exposição sobre sua vida, no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Neste reencontro, pouco a comemorar. Há menos besouros na Tijuca e muita gente continua sendo subornada.
Darwin continua atual.
Luiz Eduardo Cheida
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