Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Os cinco anos mais quentes do Antropoceno
O Antropoceno é uma época geológica marcada pelo domínio da influência do ser humano sobre a biosfera e tem como uma de suas caracterizadas (negativas) fundamentais o aquecimento global. O rápido crescimento econômico e o insustentável padrão de produção e consumo da humanidade está esquentando, literalmente, o Planeta.
Em relação à temperatura média do século XX, o ano de 1908 ficou com temperatura de -0,44º C., abaixo da média do século. O ano mais quente do século XX foi 1998, com 0,63º C acima da média. Porém, o século XXI apresenta recordes contínuos de aquecimento. Em 2010, a temperatura ficou 0,70º C acima da média, 2014 com 0,74º C, 2015 com 0,90º C e 2016 com o recorde absoluto de 0,94º C. O ano de 2016 ficou cerca de 1,4º C mais quente do que o ano de 1908. Dezesseis dos dezessete anos mais quentes ocorreram no século XXI.
Tudo indica que o ano de 2017 será um pouco menos quente do que 2016, mas poderá ser o segundo ou terceiro ano mais quente da série. Em 2017, as temperaturas ficaram acima da média do século XX em 0,89º C em janeiro, 0,98º C em fevereiro e 1,05º C em março. Estes números são espantosos para um período sem a presença do fenômeno El Niño.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) informou a temperatura do mês de março de 2017 é totalmente inesperada para um período considerado “normal”. O El Niño é “caracterizado por temperaturas oceânicas excepcionalmente quentes no Pacífico Equatorial”, o que faz aumentar a temperatura global, elevando o aquecimento global subjacente a longo prazo. Então, quando um mês vê temperaturas climáticas recordes na ausência de um El Niño, isso é um sinal de que a tendência do aquecimento global tem adquirido ritmo próprio e com redução das flutuações.
A temperatura tem subido 0,18º C., por década. Isto significa, que no ritmo atual, a temperatura pode ultrapassar 3º C, em 2100, em relação ao período pré-industrial. A última vez que a temperatura global chegou neste patamar o nível dos oceanos subiu mais de 6 metros. Tal fenômeno afetaria a vida de bilhões de pessoas que vivem nas áreas litorâneas e reduziria muito as áreas de cultivo de alimentos. Também haveria a perda de vida marinha devido à acidificação.
O aumento do degelo do Ártico, Antártica, Groenlândia e glaciares tem se acelerado conforme mostram inúmeras pesquisas e reportagens. Um evento dramático é o rompimento da Plataforma Larsen C, na Antártica. A figura abaixo mostra que uma enorme fenda está próxima de romper e liberar um iceberg quase do tamanho da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A figura também mostra que a fenda está crescendo de forma acelerada e já atinge o tamanho de 180 quilômetros. No final do ano passado, ela cresceu de repente em cerca de 18 quilômetros. Faltam apenas 20 quilômetros para deslocar o iceberg do restante da prateleira de gelo. Dados de satélite, de maio de 2017, revelaram um segundo ramo da fenda, de cerca de 15 quilômetros de comprimento, que está se movendo em direção à borda da plataforma. Este é um exemplo atual como o aquecimento global vai provocar um grande degelo dos polos e acelerar a elevação do nível do mar.
Aquecimento global acima de 2º C pode gerar enormes desastres, grande quantidade de refugiados do clima e uma epidemia de fome. Para evitar uma catástrofe de tal dimensão é preciso uma rápida redução das emissões de gases de efeito estufa e uma descarbonização crescente da economia.
Referências
Press Association. Antarctic iceberg the size of South Wales could break off at ANY TIME as new images reveal the rift has spread, Mailonline, 02/05/2017
http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-4465600/Giant-Antarctic-iceberg-hanging-thread.html
NOAA. Global Climate Report – March 2017
https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/global/201703
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.
Fonte – EcoDebate de 10 de maio de 2017
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