Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Os Ftalatos Estão por Toda Parte e os Riscos sobre a Saúde Preocupantes. Quanto São Eles Realmente Prejudiciais?
Os ftalatos são usados como conexão e plastificantes em itens do nosso cotidiano, incluindo cosméticos. Quão seguros são eles? Fotógrafo: Tom Jenkins/the Guardian
Nos últimos tempos, parece que a cada semana está sendo publicado um novo trabalho dos impactos sobre a saúde provocados pelos ftalatos. As substâncias químicas sintéticas estão por toda parte: estão sendo usadas em todos os produtos, indo dos produtos de limpeza doméstica, às embalagens de alimentos passando por cosméticos, perfumes e artigos de cuidado pessoal.
Em 2003, os pesquisadores do US Center for Disease Control/CDC (nt.: Centro de Controle de Doenças nos EUA – órgão do Ministério da Saúde) documentaram a ampla contaminação, de maneira geral, do público norte americano por altos níveis de um grupo de substâncias químicas sintéticas chamadas ftalatos (widespread exposure to a high level of a group of chemicals called phthalates) (nt.: para se conhecer mais sobre este plastificante ver o link. Eles atuam como plastificantes e também empregados como amaciantes de resinas plásticas (nt.: os filmes plásticos que embalam os produtos de consumo destacando-se os considerados orgânicos, são riquíssimos em ftalatos!).
O CDC recomenda de que estes químicos e seus efeitos sobre os seres humanos devem ser estudados muito mais. Esta recomendação auxiliou para que destravasse dezenas de estudos focados nos ftalatos, resultando numa enxurrada de relatórios recentemente publicados que indicam largamente de que a preocupação do CDC se justificava.
A advertência do CDC quanto aos ftalatos também chamou a atenção dos senadores Barbara Boxer e do antigo representante norte americano Henry Waxman que incluíram esta classe de substâncias químicas em sua lei sobre segurança de produtos de consumo que passou em 2008 (Consumer Product Safety bill, passed in 2008). A lei baniu o uso de algumas substâncias da família dos ftalatos em produtos de consumo infantil e com banimento provisório sobre outros, exigindo que a Comissão de Segurança sobre Produtos de Consumo colocasse um olhar mais atento aos químicos.
O relatório resultante sobre ftalatos (Chronic Hazard Advisory Panel (Chap) on Phthalates (pdf)) – do Painel Consultivo sobre Riscos Crônicos dos Ftalatos foi finalizado no final de 2014 e apesar dos esforços da indústria química em querer suavizar as recomendações da comissão, os defensores da saúde pública estão amplamente satisfeitos com o esforço, uma raridade quando ele vem de relatórios escritos pelo governo sobre segurança química.
Com os estudos acadêmicos e relatórios políticos expressando consistentemente preocupação sobre os impactos dos ftalatos sobre a saúde e os consumidores começando a se interessarem, a regulamentação sobre eles não pode estar muito longe.
“O relatório do Painel é o primeiro documento regulatório importante no governo federal que está destacando a extensão de uma nova ciência sobre os riscos dos ftalatos”, diz Erik Olson, diretor estratégico sênior nos programas sobre alimento, agricultura e saúde do Natural Resources Defense Council. “O fato de o painel estar olhando os ftalatos tanto como um grupo como a toxicologia individual de cada um, é realmente importante”, diz ele.
Olson era diretor adjunto da equipe para o comitê do meio ambiente e de obras públicas do senado dos EUA quando a lei sobre segurança dos produtos de consumo foi escrita e aprovada. Entre este relatório citado acima, a Academia Nacional de Ciências emite um relatório (National Academy of Sciences report) que analisa os ftalatos como uma classe. Ele trata deles como uma “onda de uma alta maré de pesquisa que tem vindo rápida e ruidosa” no ano passado. E expressa-se dizendo que “estamos ultrapassado a fase de negação completa da indústria – ela já não pode alegar que não há riscos de todos nós provocados pelos ftalatos”.
Qual é o mal?
Tida como a maior preocupação de saúde pública ao longo das duas últimas décadas por estar havendo possivelmente alguma conexão com a contaminação aos ftalatos.
Há alguns anos, os pesquisadores vêm relacionado os ftalatos à asma (linked phthalates to asthma), ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, câncer de mama, obesidade e diabetes tipo II, baixa do QI (low IQ), fatos ligados ao neurodesenvolvimento, aspectos comportamentais, desordens no espectro do autismo, desenvolvimento reprodutivo alterado e aspectos ligados à fertilidade masculina.
Enquanto os ftalatos são uma imensa classe de substâncias químicas sintéticas, em nenhum lugar eles vinham, cada um desta família, sendo estudado e que vários têm demonstrado impactos negativos sobre a saúde. A famiglia (nt.: termo acrescido pela tradução para caracterizar a presença destas moléculas às ‘famiglias’ da Máfia. Porque só assim se entende a permanência delas entre nós!) dos ftalatos é formada por: butil benzil ftalato (BBzP), dibutilftalato (DNBP), di-2-etil-ftalato (DEHP), ftalato de dietilo (DEP), ftalato de di-butilo (DBP), ftalato de benzil butilo (BBP), ftalato de diisobutilo (DIBP), ftalato de diisononilo (DINP), ftalato de di-n-octilo (DNOP), ftalato de dipentilo (DPP ), di-isobutil ftalato (DIBP), ftalato de di-isononilo (DINP), ftalato de di-n-octilo (DNOP), di-iso-hexilo, ftalato de diciclo-hexilo (DEHP), e di-iso-heptilo ftalato.
Ftalatos bastante distintos vêm sendo estudados para indicar que as empresas devem proceder com cautela ao utilizarem qualquer produto químico da família dos ftalatos, particularmente em produtos dirigidos a mulheres grávidas ou crianças pequenas, a quem a pesquisa identificou como sendo os mais vulneráveis em relação aos seus efeitos.
Um dos primeiros ftalatos a levantar a bandeira vermelha, o DEHP, foi trocado em centenas de produtos de consumo pelo DiNP, somente alguns anos depois os pesquisadores descobrem que a contaminação com o DiNP está relacionada (is correlated) a defeito de nascimento de crianças e animais machos e também prejuízos na função reprodutiva em machos adultos.
Os defensores da saúde pública esperam aprender dos erros feitos na regulamentação do Bisfenol A (BPA) e ganham impulso indo em busca da regulamentação dos ftalatos, assegurando que um ftalato prejudicial não seja substituído por um outro e assim por diante.
O BPA foi apontado como sendo o único componente químico da ‘famiglia‘ (nt.: liberdade da tradução de em vez de tratar como ‘grupo’, chamar de ‘famiglia’ invocando a Máfia) dos Bisfenóis que gerava preocupação e regulamentado como tal. Os fabricantes então, em grande parte, substituíram o BPA pelo outro da famiglia chamado Bisfenol S (BPS) que a pesquisa descobriu agora ser tão problemático (nt.: para alguns pesquisadores é muito mais perigoso e devastador) como é o BPA.
Com os ftalatos, a pesquisa veio antes de qualquer tipo de regulamentação – as corporações não estão ainda obrigadas a listá-los como ingrediente nos rótulos dos produtos de consumo – e os legisladores já estão olhando para toda a ‘famiglia destes produtos químicos, como também quaisquer outros particularmente perigosos.
‘As ordenhadeiras usam um bom volume de plástico e o ftalato DEHP é livre para isso. Sendo muito lipofílico (solúvel em gordura) e o leite rico em lipídios, o DEHP é então sugado do tubo de plástico e indo direto para o leite’, explica Robin Whyatt, professor de ciências da saúde ambiental do Centro Médico da Universidade de Columbia. Fotógrafo: Gary Roebuck/Alamy
Sem escapatória
Em razão de sua ubiquidade e de não estarem listados nos rótulos dos produtos, os ftalatos são quase impossíveis de serem evitados. Eles estão nos produtos de uso doméstico (pisos com vinil/PVC), artigos de cuidado pessoal (produtos para cabelos, cremes para o corpo, alguns cosméticos), perfumes e fragrâncias, produtos de limpeza e alimentos. Mesmo para aqueles que evitam estes produtos ou compram variações livres de ftalatos, eles se imiscuem em produtos e locais totalmente inusitados.
Em alimentos, por exemplo, mesmo o leite envasado em garrafas de vidro podem ter ftalatos que lixiviaram dos tubos plásticos quando o leite passa vindo da vaca, via ordenhadeiras, direto para as garrafas, levando então a substância DEHP. “As máquinas usam bastante plástico e o DEHP está livre nos tubos e sendo muito lipofílicos (solúvel em gorduras) e sendo o leito rico em lipídios, o DEHP sai do plástico do tubo direto para o leite”, explana Robin Whyatt, professora de ciências ambientais do Centro Médico da Universidade de Columbia e autora líder de várias pesquisas irrefutáveis sobre os ftalatos. “Assim em meu entendimento pode ser o leite uma importante fonte de contaminação na cadeia alimentar com o DEHP.”
Especiarias são outra fonte surpreendente de exposição a ftalatos. Um estudo de 2013 (2013 study), publicado na revista Nature, compara os níveis de ftalato em dois grupos, um que se alimenta com uma dieta regular, mas munidos com uma apostila de recomendações como formas de reduzir a exposição ao BPA e aos ftalatos em sua dieta. Os outros comeram uma dieta que consistia exclusivamente de alimento local e orgânico, sendo que nenhum havia tocado em embalagens plásticas. Os autores do estudo ficaram chocados ao descobrirem que os níveis de DEHP no grupo com alimentação local orgânica saltou 2.377% ao longo do experimento. Determinados a descobrirem a razão, os pesquisadores testaram todos os alimentos consumidos pelo grupo e encontraram altos níveis de ftalato em produtos lácteos e em várias especiarias orgânicas importadas.
“O fato que é não se pode saber previamente se o alimento tem ftalatos nele – pode-se suspeitar, mas é quase impossível se saber”, diz Olson. “Assim fica difícil evitá-los, sendo por isso que se precisa uma medida regulatória”.
Os ftalatos são usados como ligantes e plastificantes em tudo, de produtos de limpeza domésticos a embalagens de alimentos, perfumes, cosméticos e artigos de cuidado pessoal.
E agora?
A regulamentação dos produtos de consumo se move lentamente nos EUA e isso vem sendo provado ser especialmente verdade quando se relaciona às substâncias químicas. Apesar do recente movimento sobre os ftalatos, Olson diz que é provável que seja um longo tempo antes de termos um tipo de medida regulatória de grande alcance que proteja adequadamente o público de uma exposição prejudicial.
Neste meio tempo não significa que tudo esteja perdido. Regulamentações estadual e federal já eliminaram estas substâncias químicas de alguns produtos e esta lista provavelmente crescerá. A proposição legal n° 65 da Califórnia agora inclui quatro ftalatos – DINP, DEHP, DBP e BBP – sob os seus requisitos de rotulagem. E o Gabinete do Estado de Avaliação de Risco de Saúde Ambiental (Office of Environmental Health Hazard Assessment/OEHHA) recentemente propôs mudanças para os requerimentos de alerta para a Proposição n° 65 (proposed changes) que exigiria dos fabricantes listarem os produtos químicos específicos em suas advertências e fazerem essas advertências mais detalhadas (atualmente os avisos são vagos, afirmando apenas “este produto contém substâncias conhecidas pelo estado da Califórnia como cancerígenas”).
“A proposição 65 será a força motriz quanto às mudanças em relação aos ftalatos”, diz Olson. “A corporações não gostam de colocar advertências nos rótulos quanto aos seus produtos”.
Os consumidores podem também tomar o tema em suas mãos ao evitarem produtos embalados em plástico por exemplo, com o código de reciclagem n° 3 (nt.: ver o link e verá que o n° 3 é o PVC) (nt.: ver no final da tradução cópia da notícia sobre este tema e esta polêmica agora comprovada na Inglaterra, depois de mais de dez anos!) ou produtos que incluam um vago ingrediente tratado como “fragrância” em seu rótulo e comprar produtos orgânicos embalados em vidros tanto quanto possível.
O dra. Whyatt também recomenda que os consumidores removam de sua embalagem quaisquer alimentos vendidos em plásticos e coloque-os em vidro. “A molécula DEHP continua a lixiviar ao longo do tempo, assim podemos na verdade reduzir sua contaminação pela troca do frasco ou recipiente que o produto esteve antes de comprarmos”, diz ela. “Todo o DEHP provavelmente ainda não se deslocou para o produto antes do tempo em que o levamos para casa. E se o DEHP ainda estiver, ele estará em processo de liberação podendo desta forma, pelo menos, reduzir de certa forma nossa contaminação”.
“Se começarmos por identificarmos aqueles produtos que sabemos que originam exposições significativas aos ftalatos (nt.: ver a tragédia brasileira com os filmes plásticos de PVC constatada pela Fiocruz há muito tempo e a resposta do lobby do PVC) (nt.: no final desta tradução além do fac-símile da notícia que gerou toda esta polêmica tratada na nota anterior também tem um link para um texto sobre celofane ao qual este PVC tenta imitar. Com este esclarecimento, poderemos rejeitar o PVC e buscar o verdadeiro celofane) e começarmos com as comunidades mais vulneráveis da sociedade – mulheres grávidas e crianças – principiaremos a fazer uma real diferença”, diz Olson. “Podemos cuidar de uma boa parte da nossa exposição aos alimentos através das regulamentações da FDA (nt.: agência norte americana que regula alimentos e fármacos) e os brinquedos infantis via a Comissão de Segurança sobre Produtos de Consumo e isso já é alguma coisa. Mas não é tudo, no entanto já é uma bela abocanhada”.
‘Podemos cuidar de muito dos alimentos através das normas da FDA e dos brinquedos via a Comissão de Segurança sobre os Produtos de Consumo, já sendo um bom passo. Não é tudo, mas já é uma boa caminhada’, diz Erik Olson do Natural Resources Defense Council. Os corpos da Barbie e do Ken são feitos de PVC (nota do tradutor).
Os varejistas também podem desempenhar um papel significativo, como eles demonstram com outros produtos químicos de seu interesse. As grandes corporações Target e Walmart lançaram iniciativas para reduzirem ou eliminarem, no ano passado, produtos químicos tóxicos (Target and Walmart both launched initiatives to reduce or eliminate toxic chemicals) de suas prateleiras. Disseram que vão tomar decisões de compra baseadas em evidências para protegerem a saúde de seus clientes. Com montanhas de evidências científicas se acumulando sobre os ftalatos, ele não pode permanecer por muito muito antes que os consumidores comecem a colocar pressão sobre os varejistas e estes, por sua vez, pressionarão seus fornecedores para encontrarem tanto alternativas para os ftalatos bem como formas de remover estes químicos de seus produtos por completo.
Os ftalatos podem, de forma bastante simples, ser removidos completamente dos produtos, sem uma substituição por outros, de acordo com o químico “verde” Bruce Akers. É quando eles são usados para tornar tubos ou embalagens mais de acordo com os requisitos dos comerciantes e eliminá-los torna-se mais difícil: “Se quisermos plásticos macios, maleáveis, estaremos usando ftalatos”, diz Akers.
Mas de acordo com a dra. Whyatt, as corporações poderiam usar polímeros flexíveis em vez disso. “Há polímeros flexíveis que não exigem plastificante – o importante é que eles existem”, diz ela. “Realmente, eles não vêm sendo estudados, assim precisamos saber mais. Provavelmente, eles não lixiviariam da maneira como os ftalatos fazem. O problema com os ftalatos como plastificantes é que eles se mantêm livres na conexão, eles não se fixam ao polímero, por isso eles lixiviam tão facilmente. Agora, se tivermos um polímero flexível esta situação não deve acontecer.”
Apesar do tamanho do problema, Olson permanece otimista. “Nós já viramos a esquina quanto à regulamentação dos ftalatos”, diz ele. “Seu emprego é extremamente vasto na economia da petroquímica e não vai ser na calada da noite que vamos ver generalizados os seus banimentos, mas está claro que já atravessamos o rio e estamos agora no ponto de debater exatamente que usos são necessários de serem eliminados e onde podemos empregar alternativas.”
Correction: Este artigo foi atualizado para informar que o sr. Henry Waxman é um ex-representante dos EUA e não um atual senador.
Cópia da matéria de jornal de Porto Alegre mostrando a ‘ousadia’ da Fiocruz em, somente, demonstrar a presença do ftalato.
Fonte – The Guardian / Tradução livre Luiz Jacques Saldanha, Nosso Futuro Roubado de abril de 2015.
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