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Os mares estão ficando sem alimento, aponta estudo

O fitoplâncton – alimento para toda a vida marinha – está morrendo lentamente. Um estudo apresenta os resultados de um século recolhendo amostras da espécie

O fitoplâncton vem diminuindo 1% a cada ano nos últimos 110 anos e, embora a quantidade pareça ínfima, na atualidade há 40% menos que em 1950

Uma equipe de cientistas marinhos realizou a compilação de dados recolhidos durante um século com o objetivo de conhecer a saúde dos mares. A equipe, composta pelos cientistas Daniel Boyce, da Dalhousie University (Canadá), Marlon R. Lewis e Boris Word, iniciou o trabalho em 1899 e, na época, o realizava por meio de um método simples: um disco do tamanho de um prato de mesa, pintado com um padrão de cores branco e preto alternadas.

Preso por um cabo, o prato era deixado cair no mar, onde se observava o tempo até que a turvação da água impedisse que ele fosse visto. A profundidade à qual o evento acontecia era proporcional à quantidade de algas microscópicas presentes que compõem o fitoplâncton.

Fotografia microscópica que mostra um grupo de plâncton

Desde o ano que o método começou a ser utilizado para determinar a transparência das águas oceânicas e a evolução dos níveis de fitoplâncton, foram realizadas meio milhão de observações em um período de tempo de mais de cem anos.

Segundo as conclusões alcançadas pela equipe científica de Daniel Boyce, o fitoplâncton vem diminuindo 1% a cada ano nos últimos 110 anos e, embora esta quantidade pareça ínfima, na atualidade há 40% menos que em 1950.

O primeiro elo da cadeia alimentar

O fitoplâncton é composto por pequenas algas fotossintéticas e é o primeiro elo da cadeia alimentar, por isso, o nível de sua presença representa o estado de saúde dos mares. Enrique Pardo, cientista da organização internacional Oceana, explica que “o fitoplâncton compõe entre 50% e 90% da biomassa no oceano, o que dá a ideia da relevância que pode ter a presença ou ausência destes microorganismos no meio marinho.

É a parte do plâncton que é fotossintética. Seria como a parte vegetal, que é a que tem clorofila. Segundo os censos da vida marinha, o fitoplâncton corresponde a 95% da respiração dos oceanos, é o principal motor na captação de CO2 da atmosfera e na produção de oxigênio no meio marinho.

Ao se extinguir a vida marinha, se está destruindo o pilar principal da estrutura das espécies do mar, que não são independentes das terrestres, afirmam os pesquisadores

O estudo indica que a mudança climática afeta de duas formas a perda do organismo. Uma é que ao aumentar a temperatura da água se impede a mistura de águas profundas, ricas em nutrientes, com as partes superficiais, que é onde se encontram as maiores concentrações de fitoplâncton, atrapalhando sua reprodução.

Por outro lado, está o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. O meio marinho capta em torno de 30% do CO2 emitido na atmosfera e absorve 80% do calor atmosférico. À medida que o CO2 aumenta, o meio marinho o absorve mais. Em princípio, isto pode parecer positivo, pois o fitoplâncton requer esse CO2 para realizar a fotossíntese. No entanto, em concentrações altas acontecem processos de acidificação.

Acidificação das águas

O processo de acidificação das águas marinhas traz consequências desastrosas para muitas das espécies marinhas, porque as coberturas calcárias dos animais que as requerem necessitam do carbono orgânico. Segundo Enrique Pardo “se esta acidificação chegar a um nível mais elevado, as estruturas calcárias poderiam dissolver. O que fica claro é que isso já está repercutindo em uma impossibilidade clara para formar essas estruturas ou para fechar os ciclos de respiração”.

O fitoplâncton é a base da cadeia trófica e serve de alimento ao zooplâncton, que compõe a outra parte dos micro-organismos, em muitos casos, formada por ovas de peixes e alimento fundamental das espécies superiores.

“Se há uma queda neste primeiro elo da cadeia, isto repercutirá negativamente em todos os seres superiores”, diz Pardo. Segundo o pesquisador, “o estudo tem uma base sólida e é muito crível. Na medida que vai aumentado a concentração de CO2 na atmosfera de forma exponencial – assim como o aquecimento global, como mostra a tendência – pode acontecer uma aceleração neste processo de perda de fitoplâncton e, em consequência, de todas as espécies marinhas, porque sem o fitoplâncton elas não prosperam”.

Na medida que a concentração de CO2 na atmosfera aumenta, o processo de perda de fitoplâncton também ocorre e, em consequência, de todas as espécies marinhas

Desde peixes a cetáceos, inclusive qualquer tipo de organismo marinho, podem desaparecer. E, de acordo com os pesquisadores, ao se extinguir a vida marinha, destrói-se o pilar principal da estrutura das espécies do mar, que não são independentes das terrestres. “O acontecimento terá uma repercussão direta no homem, pois somos consumidores de espécies marinhas e, além disso, afetará o próprio funcionamento do ciclo biológico em nível global. Só se diminuirmos a temperatura da atmosfera e preservando as emissões de CO2 poderíamos evitar esta catástrofe”, diz o Pardo.

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