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Patrimônio da cidade passa a receber tratamento especial
Revista ACIM, edição 469 de setembro de 2007
Por Murilo Gatti
Cresce o número de ações da sociedade voltadas à manutenção e à preservação da arborização de Maringá. Com base no Censo da Árvore, realizado entre 2004 e 2006, projetos têm como objetivo comum manter a qualidade de vida na “cidade verde”
O patrimônio que fez Maringá ser conhecida como a “cidade verde” passou a receber um tratamento diferenciado nos últimos anos e, aos poucos, mais pessoas e empresas têm se envolvido num grande trabalho em defesa da arborização. O desafio da preservação é grandioso, pois, das cerca de 130 mil árvores espalhadas pelas ruas e avenidas da cidade, mais de 40% estão comprometidas, à espera de substituição.
O alerta veio com o Censo da Árvore, executado na Universidade Estadual de Maringá (UEM) pelo engenheiro florestal André Furlanetto Sampaio, entre 2004 e 2006, em parceria com o Cesumar e com as empresas Gelita do Brasil, TCCC e Copel. O estudo, que analisou 93.261 árvores, algo próximo de 90% da arborização viária da cidade, também mostrou que 85% das árvores plantadas são de apenas dez espécies.
A predominante é a sibipiruna, com quase 40% do total, seguida pelo ipê roxo, com pouco mais de 10%, e pela tipuana, com quase 7%. O restante das espécies, nenhuma atinge 3% do total. Mas, além de mostrar que o verde das ruas de Maringá precisa de manutenção e planejamento, a mais importante colaboração do Censo da Árvore foi ter motivado a sociedade organizada a criar o Instituto da Árvore.
Fundado há pouco mais de um ano, atualmente com 100 associados, o Instituto trabalha em três frentes principais. A primeira e, talvez mais importante para o futuro de Maringá, é a confecção do Plano Diretor da Árvore, que vai definir como será realizado o trabalho de manejo e as formas de substituição, com a definição de quais espécies serão plantadas em cada rua e avenida.
“Temos como diretriz o projeto pioneiro do paisagista Luiz Teixeira Mendes, que foi implantado pelo engenheiro agrônomo Aníbal Bianchini da Rocha, conhecido como “o jardineiro de Maringá”, ressalta o presidente do Instituto da Árvore, Marcos Capellazzi. Um primeiro resultado do desenvolvimento do Plano Diretor da Árvore é o plantio de 208 mudas no centro da cidade, o que foi viabilizado através de uma parceria com a ACIM.
Nova lei
Outro projeto desenvolvido pelo Instituto da Árvore é o “Associado Patrocinador”, em que empresas se comprometem com uma quota de colaboração para a manutenção da arborização e da jardinagem de determinados espaços. “Iniciamos o projeto pela avenida Tiradentes e pretendemos dar seqüência ao trabalho nas avenidas Duque de Caxias, Herval e São Paulo, continuando pela Morangueira”, explica Capellazzi.
O projeto conta com apoio institucional do Mc Donalds, Viapar, Alisul Alimentos S/A, Unimed, Supermercado São Francisco, G10 Transportes, Cocamar e Cesumar. A terceira frente trabalhada pelo Instituto da Árvore é direcionada à educação ambiental, com foco no espaço urbano. “E o primeiro projeto específico de educação e será voltado à conscientização para o uso de calçadas ecológicas, frisando a necessidade e a importância delas”, afirma.
Em paralelo, por intercessão do Instituto da Árvore, foi alterada a lei municipal que determina a área mínima de espaço ao redor de uma árvore plantada em uma avenida comercial. Antes da mudança, o espaço mínimo exigido era de 1,20 metro por 1,20 metro. Agora, a legislação municipal determina que o espaço reservado seja de pelo menos de 1,20 metro por 2,40 metros e que as bordas tenham declive para facilitar o escoamento da água.
“Temos que conscientizar a pessoas. O Instituto, sozinho, não é solução. O que podemos fazer é direcionar e incentivar as pessoas a cumprirem a lei. Com isso, todos passarão, por exemplo, a construir calçadas ecológicas de acordo com o estabelecido e adotarão outras atitudes voltadas à melhoria do meio ambiente.”
O Instituto da Árvore também firmou uma parceria com a Aero Business, responsável pela organização da Brazil Air Fair, feira aeronáutica realizada em Maringá no final de agosto. A empresa se comprometeu a compensar o carbono emitido em todos os vôos feitos na cidade durante evento, com o plantio de árvores no Parque do Japão.
A céu aberto
“Quando morava em São Paulo, eu abria a porta de casa e não via uma árvore sequer. Aqui em Maringá, quando saímos de casa, andamos dentro de um túnel verde. O benefício da arborização é tremendo: vai do bem-estar psicológico a um microclima diferenciado”, considera o professor doutor do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Bruno Domingos De Angelis.
O professor, que orientou o estudo que resultou no Censo da Árvore, agora orienta um trabalho mais específico, sobre a arborização da zona 7. “Temos um laboratório a céu aberto e a zona 7 foi escolhida porque possui um grande adensamento populacional e edifícios que confrontam com a vegetação arbórea.”
Entre outros aspectos, o trabalho vai avaliar como as árvores sobrevivem em uma região com predominância de asfalto, calçadas, construções e poucas áreas para infiltração da água. De maneira geral, De Angelis avalia que ainda há tempo de preservar as mais de 130 mil árvores das ruas e avenidas de Maringá – número que não inclui 60 quilômetros de fundos de vale, 17 bosques e 102 praças.
Ele explica que a arborização enfrenta problemas com cupins, cancros (feridas) e as conseqüências de podas aéreas e escavações mal-feitas. “Não é à toa que caem, em média, 30 árvores a cada temporal”, pondera. O professor ressalta que é preciso salvar os 40% da arborização que estão comprometidos. “Precisamos preservar este patrimônio.”
Em relação aos fundos de vale, ele lamenta que a cidade não tenha preservado os 30 metros de área verde em cada margem. “Imagine todos os córregos com vegetação. Teríamos 60 km multiplicados por 30 metros de cada lado de área natural. Imagine a quantidade de verde. Mas, hoje, vemos construções praticamente dentro de córregos.”
Em 1988, De Angelis iniciou um projeto para fazer da UEM o Parque Ecológico da Zona Norte. Neste longo período, várias árvores foram plantadas e o resultado da recuperação da arborização é percebido na fauna. “Quando começamos, tínhamos apenas duas espécies de pássaros no campus: o pardal e a rolinha. Hoje, são 13 espécies. Algumas fazem ninhos e outras estão de passagem. Vemos, por exemplo, corujas, pica-paus e bem-te-vis.”
Sábado é dia de plantar árvores
Desde 2004, quando foi iniciado pela FUNVERDE um trabalho de preservação da mata ciliar em córregos urbanos que cortam Maringá, para os participantes, estagiários e voluntários da ONG e para apenados encaminhados pela Justiça para colaborar com trabalhos na comunidade, sábado é dia de plantar árvores. Até hoje, já foram plantadas mais de 30 mil mudas, de diversas espécies, nos córregos Diamante, Mandacaru e Nazaré.
“Em setembro começamos no córrego Maringá”, relata o presidente da Funverde, Cláudio José Jorge. A instituidora da ONG, Ana Domingues, explica que o plantio é realizado apenas em áreas de fundo de vale pertencentes ao poder público. “São cerca de 500 árvores plantadas por final de semana. Em média, cerca de 60 pessoas participam do trabalho, que toma um pequeno período do dia, das 14 horas às 16 horas, permitindo a colaboração de todos”, conta.
Ana ressalta que são plantadas apenas árvores da floresta nativa e espécies frutíferas também nativas. “Só utilizamos mudas com mais de 1,5 metro de altura, o que evita a concorrência com o mato.”
O trabalho é desenvolvido em parceria com a Prefeitura, que faz a limpeza do terreno e deixa as covas prontas para o plantio no sábado. Depois, a Viapar, que também firmou parceria com o projeto, realiza a roçada de manutenção.
Outras empresas, como a Unimed, a Nortevisual e a rede de Supermercados Cidade Canção, também apóiam a iniciativa.
“É um exemplo concreto, unindo primeiro, segundo e terceiro setor da sociedade, que trabalham juntos. É uma parceria que deveria acontecer sempre”, avalia Ana Domingues. Outro parceiro incentivador é o Ministério Público, que reverte valores de penas alternativas e multas em mudas para a Funverde. Para Cláudio Jorge, o que falta às pessoas é iniciativa para começar um trabalho. “Todos sabem que é preciso preservar, reciclar, mas sempre deixam para depois.”
Zerar a emissão de carbono
A empresa maringaense Produtec, que há 21 anos atua no desenvolvimento de softwares, pretende zerar, com o plantio de árvores, a emissão de carbono gerada em toda a história da empresa. “É um trabalho de médio e longo prazos, para neutralizar o CO² emitido pela empresa como um todo, que estamos começando com a troca de nossos monitores por outros mais econômicos em termos de consumo de energia”, conta o proprietário da Produtec, Artur Alberto Calefe.
Outro passo importante dado pela empresa foi produzir o primeiro software neutro em CO² do Brasil. O programa de computador, que recebeu no mês passado o certificado de “Produto Amigo do Planeta”, da Funverde, é voltado para a administração da produção em micro e pequenas empresas do ramo de confecção.
Para saber qual foi a emissão de carbono durante o processo de desenvolvimento do software e qual a quantidade necessária de árvores para zerar o CO², a empresa analisou, por exemplo, a energia elétrica utilizada e o deslocamento dos programadores até a empresa.
“O projeto consumiu o equivalente a apenas dez árvores, mas a empresa decidiu ajudar com mais. Foram doadas cem árvores”, relata a instituidora da Funverde, Ana Domingues.
Além disso, a Produtec se comprometeu a plantar mais uma árvore para cada unidade do software vendida. “Temos que dar a contrapartida e nada melhor do que deixar um planeta saudável para os nossos filhos. Se cada um fizer a sua parte, vamos melhorar o mundo como um todo”, acredita Calefe.
Parceria fechará clareiras no centro
Uma parceria da ACIM e do Instituto da Árvore de Maringá vai possibilitar o plantio de 208 mudas, de 15 espécies diferentes, na zona 1, centro de Maringá. O trabalho foi iniciado no mês de agosto e deverá ser concluído até o final de setembro. “A distribuição das árvores levou em consideração determinações do que será o Plano Diretor da Árvore. A próxima etapa poderá contemplar a zona 2”, afirma o presidente do Instituto da Árvore, Marcos Capellazzi.
No final do ano passado, a ACIM havia se comprometido a doar as árvores e o Instituto se ofereceu para colaborar. “Constatamos a existência de várias “clareiras” no centro. A Prefeitura é obrigada a retirar árvores condenadas, mas, muitas vezes, não tem condições de repor. Por isso, resolvemos contribuir, pois a iniciativa vai trazer benefícios para a comunidade a até mesmo para o comércio”, relata o superintendente da ACIM, Dirceu Herrero Gomes.
Além das árvores, a entidade tem buscado outras ações ambientalmente corretas. Internamente, de acordo com o superintendente, a ACIM implantou a coleta seletiva do lixo e passou a utilizar papéis recicláveis. “Estamos adquirindo canecas e copos personalizados para cada funcionário. O objetivo é deixar de utilizar copos descartáveis internamente, visando produzir um volume menor de lixo. Temos que “fazer a lição de casa” para depois levar a idéia aos associados.”
No final do ano, dentro da campanha “Um shopping a céu aberto”, a ACIM vai, novamente, seguir todo o rigor técnico para não causar prejuízo ambiental com a iluminação das árvores. “A arborização é um sinônimo de qualidade de vida e a ACIM tem todo o interesse na preservação e na utilização correta das árvores, como um equipamento que possa trazer mais satisfação ao dia-a-dia das pessoas, como ocorre com as árvores iluminadas na época de Natal.”
Rotary vai implantar bosque em área degradada
A pedra fundamental do trabalho já foi lançada e o projeto final está quase concluído. Numa área de cinco alqueires, localizada próxima ao aterro municipal, na zona sul de Maringá, o Instituto Rotary de Meio Ambiente, do Distrito 4630, vai implantar o “Bosque Rotary da Amizade”. A área foi cedida pela Prefeitura.
“Talvez, no Dia da Árvore, consigamos fazer o primeiro plantio. O projeto está 90% pronto, mas ainda é preciso limpar a área, que está totalmente depredada. Vamos recuperá-la”, ressalta o presidente do Instituto, Shiguemassa Iamasaki. O bosque, explica, será executado com as técnicas mais atuais de reflorestamento. “Vamos utilizar o que há de mais completo do ponto de vista da preservação.”
O objetivo do Instituto é que o bosque venha a abrigar, no futuro, um centro de visitação e de educação ambiental, com estrutura composta por auditórios e salas de aula. Em paralelo, o Instituto desenvolveu um vídeo de educação ambiental que, segundo o Iamasaki, está rodando o mundo.
Para 2008 será criado o Prêmio Rotary de Meio Ambiente, que terá quatro categorias. “A finalidade é premiar os projetos que visam à preservação do meio ambiente, aliando idéias economicamente viáveis, socialmente responsáveis e ambientalmente corretas.”
Centenas de flores nas árvores
Um convênio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura (Semaa) com a Universidade Estadual de Maringá (UEM), com coordenação da professora do departamento de Biologia, Maria Auxiliadora Milaneze Gutierrez, resultou no plantio de 550 orquídeas da espécie dendróbio em árvores de ruas e praças da cidade.
“O plantio foi feito na praça da Catedral, ao redor do Parque do Ingá, na praça Napoleão Moreira da Silva e próximo ao Estádio Willie Davids. Por enquanto, no primeiro ano, elas não apresentam um aspecto muito vistoso, pois precisam se desenvolver.” No futuro, novas mudas serão plantadas em outros pontos da cidade.
A preparação das mudas será feita numa estufa que está sendo construída, em parceira com a Semaa, ao lado do Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi) na UEM, onde já existe uma pequena amostra do projeto denominado: “As orquídeas, bromélias e as plantas medicinais como ferramentas para a educação ambiental e a cidadania na cidade de Maringá”.
Maria Auxiliadora relata que, em breve, assim que a estufa estiver concluída, serão oferecidos cursos à comunidade sobre o cultivo de orquídeas, bromélias e plantas medicinais. “As pessoas precisam conhecer as plantas para preservar”, considera. O projeto se mantém com a venda de mudas e está aberto a novas parcerias e à visitação.
É porque eu queria que as pessoas não matarem os pássaros e nem destruir as florestas.Obrigado