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Paulistanos pegam frutas direto do pé sem deixar a cidade

O marceneiro Antonio Carlos Anias, 64, usa pedaço de madeira para pegar romã de árvore no Bom Retiro, na região central da capital; pedestres costumam pedir-lhe objeto emprestado para catar frutas O marceneiro Antonio Carlos Anias usa pedaço de madeira para pegar romã de árvore no Bom Retiro, na região central da capital paulista; os pedestres costumam pedir-lhe objeto emprestado para catar frutas

Quem anda pelas ruas de São Paulo apressadamente pode não reparar, mas as árvores frutíferas estão por toda parte. São abacateiros, amoreiras, pitangueiras, romãzeiras, jabuticabeiras, goiabeiras, entre outras espécies, espalhadas por ruas, canteiros centrais de avenidas ou nas praças e parques.

Segundo especialistas, não há um censo oficial que mostre quantas são nem onde estão essas árvores frutíferas na cidade. Mas com um pouco mais de atenção é possível encontrá-las. A reportagem encontrou algumas espécies da época, como abacate, jaca e romã, além de outras que devem dar frutos ao longo do ano. Mas, comê-los é uma polêmica à parte. Especialistas divergem sobre o assunto.

Na praça Panamericana, no Alto de Pinheiros (zona oeste) há pelo menos 40 pés de jabuticaba espalhados pelo local. Em outubro, elas atraem visitantes. “As pessoas saem com sacolas cheias de jabuticaba”, afirmou o atendente Fabio Andrade Nunes, 24, que trabalha em frente à praça.

Na praça Senador Lineu Prestes, em Pinheiros (zona oeste), são vários pés de frutas. Por enquanto, apenas o abacateiro está fazendo a alegria de quem passa pelo local. A estagiária Nádia Camila dos Santos Belo, 24, disse que vê com frequência pessoas retirando os frutos. “Eu acho demais ter árvores frutíferas na rua. Isso quebra a rotina do dia. Se tivesse mais, seria incrível.”

Na esquina das ruas Anhaia e Barra do Tibagi, no Bom Retiro (região central), uma romãzeira agrada moradores e quem passa pela região. Segundo o marceneiro Antonio Carlos Anias, 64, é comum as pessoas pedirem a ele um pedaço de madeira emprestado para conseguir retirar os frutos da árvore, que tem a copa alta.

“Sábado é o dia que mais vem gente pedir um pedaço de madeira emprestado. Até já tirei para algumas pessoas. Mas eu mesmo nunca provei”, afirmou o marceneiro.

Jaqueira

A jaqueira que fica na esquina da rua Simão Álvares, em frente à praça Senador Lineu Prestes, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), chama a atenção de quem passa pelo local. Ela está cheia de jacas, algumas delas prontas para o consumo.

Segundo o zelador José Cícero Fidelis, 54, quase todos os dias cai uma jaca no chão –na rua ou dentro do prédio onde ele trabalha, onde parte da copa cobre o jardim. “Nunca machucou ninguém, ainda bem. Mas antes de cair, o pessoal passa aqui e pega a jaca.”

Fidelis contou que a árvore foi plantada há cerca de 50 anos pela filha da dona da casa que havia no terreno onde hoje há o prédio. “É muito antiga essa jaqueira. Eu até já provei, mas não gosto muito”, disse. A farmacêutica Rosa Jacobo, 56, não costuma pegar jacas. “Já as mexericas [da região] eu gosto e pego sempre que posso”. diz.

A estagiária Nádia Camila dos Santos Belo, 24, disse que a jaqueira chama a atenção de quem passa, principalmente de estrangeiros que visitam a cidade. “Um dia um gringo parou para me perguntar o que era aquilo na árvore. Ele ficou curioso ao ver a fruta”, disse.

Já o jardineiro Júlio Morais, 32, que presta serviço nos prédios da região, disse que não tem receio de parar seu carro embaixo da jaqueira. “Não vai cair, não.”

Viveiros

Quem mora em São Paulo pode retirar, de graça, até cinco mudas em um dos viveiros da prefeitura. Só o dono da casa pode pegá-las. Basta levar identidade com foto, boleto do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e fotos que comprovem área livre para plantio.

Para prédio, é preciso carta do síndico autorizando a retirada, cópia da ata que o elegeu, boleto do IPTU e fotos. Há mudas de jabuticaba, uvaia, pitanga e outras no viveiro Manequinho Lopes, no parque Ibirapuera –atendimento de segunda a sexta, das 8h às 15h.

A Prefeitura de São Paulo, sob gestão João Doria (PSDB), não recomenda o plantio de árvores frutíferas nas calçadas nem o consumo de seus frutos. Segundo a engenheira florestal Regina Marques Leite, da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, a principal preocupação é que o fruto provoque um acidente, seja caindo em cima de alguém ou de algo ou, se estiver no chão, fazendo com que alguém escorregue. (Sério, sério mesmo? Ninguém vai plantar jaca, manga coração de boi ou alguma fruta gigante. Pitanga, amora, goiaba, romã, jabuticaba, nêspera… tem mais é que plantar e comer!)

“O plantio só é indicado em praças, parques ou casas com área verde”, disse Regina. A engenheira disse que não é recomendado o consumo porque não se sabe o que havia no solo quando a árvore foi plantada nem o que foi depositado depois, além da poluição que fica no fruto. “Se lavar bem, até pode consumir, mas tem que levar em consideração o risco de contaminação”, disse. (E nos quintais não vai ter poluição. Os poluentes dos carros vão somente até a calçada e não entram nos quintais. Então tá…)

O botânico Ricardo Cardim discorda. Ele disse que a árvore é um “filtro natural” do solo, e não carrega metais pesados para os frutos. Só veta comer de locais onde já se sabe que foi um lixão ou de árvores às margens de rios poluídos. Ele cita estudo que diz que comer fruta de local poluído não faz mal, desde que não seja constante e a fruta seja bem lavada.

O marceneiro, Antonio Carlos Anias, 64 anos, cuida de um pé de romã

A jaqueira que fica na esquina da rua Simão Álvares, em frente à praça Senador Lineu Prestes, em Pinheiros (zona oeste), chama a atenção de quem passa pelo local

A farmacêutica Rosa Jacobo, 56, segura jaca de árvore plantada diante depraça em Pinheiros (zona oeste)

A farmacêutica Rosa Jacobo, 56, diz que sempre costuma ver gente pegando fruta

Árvores em praças e ruas de São Paulo já têm frutas de época

Quem mora em São Paulo pode retirar, de graça, até cinco mudas em um dos viveiros da prefeitura

A Prefeitura de São Paulo, sob gestão João Doria (PSDB), não recomenda o plantio de árvores frutíferas nas calçadas nem o consumo de seus frutos

Fonte – Regiane Soares, Folha de S. Paulo de 02 de abril de 2017

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