Por Jean Silva* - Jornal da USP - 1 de novembro de 2024 - Tucuruvi,…
Peixes migram para o norte fugindo da mudança climática
O carapau está entre as espécies que mais se deslocarão. ADAM BAZA/NOAA.GOV
Centenas de espécies se deslocam para latitudes mais elevadas em busca de águas mais frias
Centenas de espécies marinhas estão escapando da mudança climática. Um estudo, que analisou dados de migração deste os anos 60, mostra que muitos peixes estão estabelecendo seu habitat cada vez ao norte. A busca por águas mais frias fará com que alguns se desloquem mais de 1.000 quilômetros até o final do século. Os impactos ecológicos e econômicos desta grande migração ainda não estão claros.
O aumento das temperaturas associado ao aquecimento global está provocando a antecipação das primaveras e o reposicionamento de muitas espécies, também vegetais, em regiões de maior altitude ou latitude, buscando a temperatura à qual estão mais habituadas. O fenômeno, muito estudado na vida terrestre, também estaria acontecendo nos oceanos, segundo um estudo recém-publicado.
A pesquisa, publicada na revista científica PLoS ONE, baseia-se em dados de quase 700 espécies de peixes, crustáceos, cefalópodes moluscos e outros invertebrados distribuídos pela plataforma continental e águas próximas dos EUA, México e Canadá. Desde pelo menos 1963 vêm sendo colhidas amostras com 136.000 pequenas redes de arrasto para capturar um flagrante da riqueza marinha dessa área.
Algumas espécies deslocarão sua abrangência até 1.500 quilômetros mais ao norte
Sobre esses dados históricos, os investigadores projetaram a evolução da presença das diferentes espécies no final deste século. E fizeram isso usando até 16 modelos climáticos diferentes e com dois cenários finais: o benigno, com um aumento de 2º C na temperatura média do planeta, e o mais temido, com mais de 4º C de aumento. Em cada cenário, modelaram as temperaturas máxima, mínima e média da superfície da água e no fundo do mar. Procuravam saber o aumento ou redução do habitat térmico para cada espécie.
“Os dados históricos mostram que muitas espécies compensaram a elevação da temperatura oceânica indo para águas mais profundas”, diz o ecologista James Morley, do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Carolina do Norte (EUA), principal autor do estudo. O que eles viram é que, além disso, a maioria está deslocando seu habitat para outras latitudes. “Em particular, as espécies de regiões como o nordeste dos EUA, onde a temperatura aumentou muito rapidamente, estão se deslocando para o norte. Ao passo que em outras zonas, como o golfo do México, se deslocaram para águas mais profundas”, acrescenta o pesquisador, que realizou o estudo enquanto estava na Universidade Rutgers.
Essas tendências continuarão ao longo deste século. Concretamente, os modelos usados para imaginar o futuro são unânimes quanto a 446 das 686 espécies estudadas (383 do Atlântico e 303 do Pacífico): todas elas se moverão de seu local habitual. Quanto ao resto, embora não haja unanimidade, a maioria dos ensaios também indica um deslocamento. As distâncias variam muito segundo a zona, a espécie e o cenário climático. Alguns peixes alterarão sua distribuição em algumas poucas dezenas de quilômetros, em especial no cenário mais benigno. Mas outras, particularmente nas costas canadense e norte-americana do Pacífico, “se deslocarão até 900 milhas (1.448 quilômetros) ao norte de seus atuais habitats”, comenta Malin Pinsky, professor de ecologia, evolução e recursos naturais de Rutgers e coautor do estudo.
A outra tendência entre a vida marinha está sendo descer a águas mais profundas e frias
Peixes como o carapau do Pacífico e o colorido Sebastes pinniger se deslocarão mais de 1.300 quilômetros, do norte do Canadá até o estreito de Bering. Outras espécies próprias de águas mais quentes, como o pargo mulato, terão sua amplitude aumentada graças à elevação das temperaturas. E outros, como o cação, perderam no sul a mesma área (quente demais) que ganharão no norte. Entre as espécies que deverão procurar águas mais frias há algumas vitais para a indústria pesqueira, como o já mencionado carapau, a cavala, o caranguejo-real e o bacalhau atlântico.
Se o aumento da temperatura global se limitar a menos de 2º C, a maior parte das espécies não irá muito longe. Mas, como diz Morley, “num futuro de altas emissões de CO2 podemos antever que muitas das espécies com relevância econômica se transferirão para outras regiões e reduzirão sua presença em suas zonas históricas”.
Fonte – Miguel Ángel, El País de 30 de maio de 2018
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