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Pesquisa de Opinião

As exigências de ações sustentáveis para a indústria plástica mundial não param de aumentar. Ao mesmo tempo, continuam a crescer, nos EUA e Ásia, os investimentos de petroquímicas em mais capacidades de PE e PP, as resinas virgens mais consumidas nos criticados produtos de uso único. Este quadro é ou não coerente?


Eduardo Van Roost

Eduardo Van Roost

Diretor da Res Brasil, agente dos materiais auxiliares da inglesa Symphony

“Abro a minha resposta com outras perguntas: onde foi parar o discurso das petroquímicas sobre reciclagem e plásticos de origem renovável? Descobriram que é muito difícil reciclar todos os plásticos pós-consumo e que, por ora, é impossível reciclar todos os plásticos que escapam da coleta e vazam para o meio ambiente? Ainda não conseguiram descobrir e colonizar um planeta com condições de cultivar plantas para produzir biopolímeros de forma suficiente para substituir plásticos de origem fóssil?

Ninguém, em sã consciência, pode ser contrário à reciclagem. mas é elevada a quantidade de PE e PP que hoje não ingressa nela. Se não é coletado, não tem como ser reciclado. É para estes casos, por sinal, que nosso (oxibio) aditivo d2w™, de acelerada biodegradabilidade, desponta como solução alternativa necessária e não eliminadora dos méritos da reciclagem.

Se, por um lado, o aumento da produção mundial de PE e PP soa incoerente aos plastifóbicos, distraídos pela incessante overdose de repúdio do material divorciada da realidade, pelo outro o crescimento da produção de poliolefinas  é coerente com o aumento das necessidades ditadas pela qualidade de vida das pessoas. A isso costuma-se chamar de realidade.

Investidores não rasgam dinheiro e sabem que o plástico, sendo mais econômico e de características superiores a outros materiais, sempre terá a preferência nas aplicações. A ciência mostra que plásticos, em muitos casos, são mais sustentáveis que materiais concorrentes, como evidenciam as análises de ciclo de vida (ACV), uma plataforma de pesquisa que muita gentes não faz ideia do que é. O que não se sustenta por muito tempo no mundo real é o comportamento de pagar mais caro por materiais substitutos e causadores de mais danos que o bem para o meio ambiente. É assim que aquela parcela desavisada da população se sente agradada na sua ignorância sobre materiais.”


Marcos Curti

Marcos Curti

Presidente da Mcurti Consultoria e Negócios

“O bloqueio governamental a novos investimentos seria a demonstração da existência de coerência entre a pressão pela redução do consumo desenfreado de plásticos e a preservação ambiental. Afinal de contas, a capacidade instalada no mundo e sua combinação com investimentos maciços em reciclagem atenderiam a demanda per capita que, por sinal,  deveria diminuir aos poucos com a sustentável conscientização da redução do consumo de produtos plásticos de uso único.

Bom, tudo isso é utopia. Até hoje, nenhum governo no mundo  bloqueou realmente investimentos industriais. No máximo exigiu contrapartidas, medidas que baixem a emissão de poluentes ou que gerem impactos sócio-ambientais positivos na comunidade. Assim, aumentos de capacidade industrial ainda são vistos como sinal de progresso econômico e geração de riqueza. E isso atende ao anseio do mercado de capitais e merece destaque nas mídias tradicionais e sociais de economia e negócios o anúncio de investimentos vultosos e geradores de empregos.

Ações sustentáveis são hoje, portanto, boas peças de marketing. A realidade mundial mostra que a reciclagem ainda é atividade pequena, cara e complexa e se limita aos resíduos visíveis e à cultura do politicamente correto. Difícil convencer um cliente a pagar mais caro por um produto reciclado e ainda dá para contar nas mãos o número de empresas de produtos finais que já soltaram peças publicitárias relevantes pedindo às pessoas para baixar o consumo de plásticos e poluir menos. Duro atirar no próprio pé. Gráficos demonstrando aumento de consumo per capita e mais vendas são muito mais agradáveis. E se a rentabilidade melhorar, também ajuda a materializar o bônus acrescido aos salários no final do ano.

Retomando a argumentação, continuamos em busca de coerência entre o discurso político por mais sustentabilidade e os interesses econômicos por mais investimentos. Como se fossem coisas desconectadas. O cenário descrito explica o suficiente; nem precisamos aprofundar a análise entrando no mérito das brigas entre países pelos investimentos.”


Davide Botton

Davide Botton

Presidente da consultoria WinStar

O aumento das exigências de ações sustentáveis é fato. Mas elas não vêm sendo, necessariamente, seguidas de planos realistas ou sequer responsáveis por parte de alguns players. A preocupação com algo que representa menos do que 1% do volume de material indevidamente descartado na natureza e a falta de justificativas fundamentadas sobre a sustentabilidade do plástico, através de estudos de Análise de Ciclo de Vida (ACV), apenas intensificam ações de greenwashing para atender falsos compromissos de ESG (governança corporativa e sócio-ambiental) e ficar bonito na fita de ONGs patrocinadas por falsos profetas do apocalipse ou movidas pelo poder econômico.

  Compromissos de ESG definidos com falsos propósitos podem representar perigos para a sociedade, como demonstrado pela recente crise bancária nos EUA, aberta pela quebra do Silicon Valley Bank. A crise resultou da governança de empoderados comitês sem o devido preparo. A mesma carência de conhecimentos pode ser transposta às empresas adeptas da cultura ESG e apoiadoras da substituição do plástico por materiais mais prejudiciais ao ecossistema e de maior pegada de carbono, a exemplo de uma notória e irresponsável rede mundial de fast food.

O plástico tem demonstrado que, além da menor pegada de carbono, é o material mais indicado para corresponder a todo e qualquer processo de economia circular. Ou seja, na recuperação biologica (através da biodegradação de produtos aditivados que escapam da coleta seletiva para o meio ambiente); da reciclagem mecânica (geradora de plástico reciclado pós-consumo/ PCR de alta qualidade); da reciclagem energética e química e até na potencial mineração de materiais armazenados em aterros sem danos ambientais.

A necessidade global de investimentos em resinas de PP e PE surge, de um lado, da disponibilidade de novas tecnologias e matérias primas abundantes com baixa pegada de carbono. Do outro, pesa o esforço da indústria  para suprir um cenário demandado, devido aos usos e beneficios (desnecessário enumerá-los aqui) de PP e PE. Trata-se de um mercado com taxas de crescimento acima do balanço entre circularidade e consumo.

A grande preocupação deve ser: como transmitir os benefícios do plástico a toda a sociedade. É preciso ir além do círculo fechado do nosso setor. Ele tem pregado suas virtudes para si mesmo, sem conseguir conquistar, objetivamente, os verdadeiros formadores de opinião, brand owners e até legisladores chegados ao fácil discurso anti-plástico, ainda que esta rejeição seja super maléfica para a natureza”.


Paulo Francisco da Silva

Paulo Francisco da Silva

CEO da consultoria Agora Brasil Soluções em Plásticos

“A pergunta embute uma aparente contradição que, na verdade, é totalmente coerente. Nos últimos três anos, o  mundo entrou de súbito num redemoinho de novas situações e até parou, no sentido literal, por força da pandemia sem controle. Foi quando as restrições sanitárias provocaram o efeito colateral de jogar nas alturas o consumo de produtos plásticos de uso único. Por exemplo, embalagens de delivery, descartáveis em geral, máscaras e  vestuário de nãotecido, artefatos esterilizáveis etc. Este período sem similar pavimentou a expansão global, em 2021/2022, dos produtos plásticos de uso único dominados por PP e PE. Ambas as poliolefinas são as resinas virgens mais versáteis, em termos de aplicação, e de maior flexibilidade no desempenho. Substituem vários tipos de materiais com vantagens em quesitos como  pegada de carbono, shelf life, custos de produção e transportes.

Uma planta petroquímica exige, em regra, cerca de 1.000 dias para cumprir o percurso entre projeto, construção, testes e partida efetiva. Seu planejamento é norteado por estudos como os de expectativa de vida, natalidade e crescimento econômico dos mercados  e regiões em vista etc.

Volta e meia me perguntam como o uso de reciclados poderá crescer diante da contínua expansão mundial da oferta de PP e PE virgem. Respondo: vai crescer, sim, de forma aritmética. Claro que o material virgem vai sempre imperar em produtos químicos, para alimentação (embalagem primária) e áreas como a médico-hospitalar. Mas o mundo vai conseguir se equilibrar entre o direcionamento correto de um tipo (reciclado) e do outro (virgem).

Trata-se até uma questão de sobrevivência. Afinal, precisamos tanto de plásticos virgens como de reciclados para fazer frente a situações repentinas de risco, lição deixada pela pandemia e a explosão de conflitos armados como a invasão da Ucrânia pela Rússia que ainda atormenta a economia e indústria da Europa. Desse ponto de vista, a maior disponibilidade de PP e PE, virgem e reciclado, é um movimento coerente com a atualidade. Ele convém, em especial, por ajudar a preparar a sociedade para reagir com rapidez na hipótese dessas eventualidades”.


Simone de Faria

Simone de Faria

Diretoria da consultoria Townsend Solutions para a América Latina

“Enquanto houver crescimento da demanda, a oferta vai aumentar. As grandes petroquímicas mundiais, produtoras de PP e PE, têm se reinventado para conseguir dar a volta por cima, driblando essa chuva de manifestações das grandes ONGs e entidades ambientalistas contra o plástico. Os novos projetos vêm com alicerces de modernidade e propagandeando atributos sustentáveis, a exemplo de tecnologias recém-chegadas ou veteranas  que ressurgem como solução para reduzir a pegada de carbono.

De acordo com pesquisa mundial da publicação Chemical Week, 76 das 100 maiores empresas químicas em receita têm metas de alcançar até 2050 a neutralidade de carbono ou serem net zero. Devemos reconhecer o enorme esforço (e gastos) que essas indústrias têm feito no rumo à sustentabilidade, tanto por vocação como pela imposição dos bancos financiadores dos projetos. O problema é que a indústria ainda está muito longe da opinião pública. Pior ainda, ela não tem conseguido, de forma geral, dialogar com a ponta do consumidor final, o mesmo público que instiga governos a tomar medidas legais contra o plástico, caso do banimento de descartáveis. Quantas das indústrias finais que se proclamam sustentáveis de nascença têm sido efetivas para promover alguma  redução da poluição plástica ? Nesse quadro, tudo é incoerente. A começar, porque há muito interesse econômico por trás dessas ações antiplástico. O foco ainda é muito maior no descarte que no ciclo produtivo. Isso vem mudando lentamente e estou convicta de que a indústria do plástico ainda vai conseguir reverter o cenário, passando de vilã à mocinha”.


Amarildo Bazan

Amarildo Bazan

Presidente da A Bazan Consultoria

“O quadro apresentado na pergunta pode, numa análise rasa, soar incoerente. Afinal, anda em alta a demanda por ações sustentáveis na indústria plástica e, ao mesmo tempo, as petroquímicas estão investindo em mais produção de resinas virgens, em especial PE e PP, as mais consumidas em produtos de uso único. No entanto, pode-se explicar essa aparente incoerência através de alguns fatores. De saída, vale notar que a demanda mundial por plásticos não cai tão cedo. Projeções asseguram crescimento consistente em torno de 5% para estes materiais pelas seguintes razões:
  • Versatilidade – plástico pode ser moldado em diferentes formas e tamanhos, tornando-o ideal para ampla gama de aplicações.
  • Segurança –  plástico promove saúde e esterilização. Impede contaminação e garante saneamento básico eficiente.
  • Durabilidade – plástico resiste a impactos, abrasão e produtos químicos.
  • Peso – plástico é leve face a materiais como metais e proporciona redução de peso (e custos) a uma infinidade de aplicações, entre bens essenciais a duráveis.
  • Custo – plástico é relativamente barato frente a  concorrentes como metal e vidro.
  • Reciclabilidade – plástico é reciclável e admite reúso, reduzindo assim a quantidade de resíduos potenciais poluentes.

Além do mais, a petroquímica moderna vem adotando práticas  sustentáveis como o investimento pesado em tecnologias de produção mais limpas. Poupam energia e água e baixam as emissões de gases de efeito estufa.

Por fim, é necessário pontuar a grande contribuição dos plásticos à economia circular, por  ser 100% reciclável e seu reciclado tem amplo leque de reúsos. O objetivo é manter os recursos em uso por mais tempo, eliminando o conceito de ‘fim de vida’ dos produtos. Isso significa abolir o descarte deles após o uso original, em prol de sua recuperação e reinserção no ciclo produtivo. Também há um crescente interesse por materiais alternativos, como bioplásticos e plásticos reciclados pós-consumo ambos de menor impacto ambiental que resinas virgens. A  poluição plástica integra a vida moderna, mas a causa  não decorre do material em si, mas do descarte incorreto. Plásticos representam menos de 0,5% de todos os materiais que consumimos e reitero aqui o trunfo de sua reciclagem facilitada..

O problema do descarte incorreto de plásticos é complexo e não existe uma solução única para resolvê-lo. Mas aqui vão várias ações que podem ser tomadas.

  • Conscientização  Educar as pessoas sobre a importância do gerenciamento adequado de resíduos e os impactos negativos da poluição gerada pelo descarte irresponsável, incentivando assim um comportamento responsável.
  • Reciclagem – Melhorar a infraestrutura para reciclagem pode ajudar a reduzir a quantidade de resíduos plásticos em aterros ou no meio ambiente. Isso inclui melhora na coleta e triagem, desenvolver tecnologias de reciclagem e subsidiar empresas e indivíduos que reciclem.
  • Criatividade -Desenvolver produtos acabados tendo seu fim de vida útil em mente ajuda a reduzir o desperdício e promover a reciclagem..
  • Poder Público – Governos podem implementando políticas como a responsabilidade estendida do produtor, que responsabiliza os fabricantes pelo descarte de seus produtos no fim da vida útil. Na mesma trilha, cabem proibições ou taxas sobre plásticos descartáveis e normas incentivadoras do uso de materiais mais sustentáveis.
  • Tecnologia  Selecionar materiais, na fase de concepção de produtos de consumo diário, com base em dados científicos sobre sustentabilidade como os das plataformas de Análise de Ciclo de Vida”.

 


José Ricardo Roriz Coelho

José Ricardo Roriz Coelho

Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)

“Os critérios de decisão de investimentos petroquímicos pressupõem uma série de variáveis. Entre as principais estão a evolução da demanda e fontes de matérias-primas (gás, petróleo, energia). As capacidades que partem no exterior no período atual tiveram maturação e decisão de investimentos efetuadas anos atrás, muitas delas estimuladas pela oferta de matérias-primas, em especial o gás de xisto (shale gas nos EUA), ou pelo robusto crescimento de economias como a China. Apesar das exigências ambientais cada vez mais fortes, o emprego de plásticos tende a crescer com o aumento populacional e a procura crescente por produtos e soluções que garantam segurança no consumo, no transporte, eficiência nas aplicações etc.

Soluções em plástico e embalagens continuarão demandadas pela sociedade. Haverá impacto na redução de consumo de alguns produtos, principalmente os que não conseguirem se reinventar e se tornar mais sustentáveis, firmando-se como elementos de uma estrutura circular, seja através do reúso ou por sistemas de logística reversa para reciclagem. Ao mesmo tempo, vai se intensificar a demanda por mais aplicações de plásticos”.

 

 

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