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Pesquisa identifica fatores de desperdício de alimentos em famílias de baixa renda

Estudo da Embrapa, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, identificou que a preferência das famílias brasileiras pela abundância de comida aliada à aversão pelo consumo das sobras das refeições gera desperdício de alimento e impacta negativamente nas tentativas de economizar nos gastos com alimentação. A pesquisa, publicada na edição de maio do International Journal of Consumer Studies , mostra que o hábito de comprar alimento em excesso e a conservação inapropriada são geradores de desperdício de comida em populações de baixa renda.

A pesquisa, liderada pelo analista da Embrapa Gustavo Porpino, doutorando pela FGV e pesquisador visitante do Cornell Food and Brand Lab, envolveu 20 famílias de baixa renda da zona Leste de São Paulo e fez parte de um projeto maior com coleta de dados também nos Estados Unidos. Porpino e os coautores Juracy Parente, da FGV, e Brian Wansink, professor da Universidade de Cornell, mostram evidências de que o desperdício de alimento também é um problema bastante presente em residências com orçamento familiar restrito. “Alguns fatores que levam ao desperdício de alimento nas famílias brasileiras são culturais, como gostar de preparar e servir comida em abundância e não desejar reaproveitar as sobras das refeições”, explica Porpino.

Uma tendência identificada na pesquisa é guardar sobras na geladeira, mas sem serem consumidas mais tarde. Às vezes, é simplesmente um mecanismo para mitigar a culpa imediata associada com o desperdício de alimentos.

Até recentemente, associava-se o desperdício de alimentos a famílias com mais recursos. No entanto, os estudos encontraram evidências, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, de que as famílias de baixa renda também desperdiçam quantidade considerável de alimentos.

No contexto de baixa renda, os autores salientam que estratégias tomadas pelas mães para economizar no orçamento com alimentação, como a preferência por embalagens de 5 kg, compra no atacado, a compra mensal abundante após receber o salário e o preparo diário da comida em casa, terminam por aumentar o desperdício sem economizar o que se pretendia. É o que o autor do estudo chamou de “paradoxo do desperdício de alimentos”, por causa das limitações financeiras enfrentadas por essas famílias mais carentes.

Em geral, os cinco principais comportamentos que levam ao desperdício de alimentos foram identificados na pesquisa: compra excessiva, preparo abundante, vontade de alimentar um animal de estimação, sobras não aproveitadas e conservação de alimentos inadequada.

Muitos dos fatores que ocasionam o desperdício de alimentos podem facilmente ser evitados com simples mudanças na compra de alimentos, preparação e armazenagem. “Do ponto de vista do comportamento do consumidor, faltam no Brasil iniciativas nacionais de educação nutricional. Os programas de enfrentamento da insegurança alimentar, como o Bolsa Família, que têm obtido bons resultados no combate à fome, podem alinhar-se mais à educação nutricional. Ainda nos falta essa capacidade de integrar políticas públicas para alcançarmos resultados melhores. Por fim, e para alcançar a sociedade, podemos usar campanhas educativas.”, explica Porpino.

Especialistas se reúnem para reduzir perdas e desperdícios de alimentos no Brasil e América Latina

A redução das perdas e desperdícios de alimentos é uma das frentes de atuação do Plano de Ação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) 2025 para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome. O Plano, desenvolvido e executado com o apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), está sendo estruturado em torno dos pilares da Segurança Alimentar e Nutricional. Visa contribuir para a obtenção de resultados que garantam melhorias significativas na qualidade de vida das populações, proporcionando o direito à alimentação aos setores em situação de fome e vulnerabilidade.

Recentemente, a FAO publicou o Segundo Boletim de Perdas e Desperdícios de Alimentos da América Latina , a partir das contribuições de especialistas do grupo de trabalho do qual Murillo Freire, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, é integrante. O documento apresenta ações desenvolvidas na América Latina e Caribe para a redução de perdas e desperdícios de alimentos na região.

Um esforço complementar tem sido realizado pela Embrapa com a implantação do observatório de tendências sobre “Redução de perdas pós-colheita de frutas e hortaliças no Brasil”, ligado ao Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa). O instrumento vai reunir especialistas internos e externos para prospectar desafios tecnológicos e mercadológicos, além de qualificar e quantificar as demandas por novos conhecimentos e tecnologias. Deve capturar e prospectar tendências, identificar futuros possíveis e elaborar cenários que permitam à agropecuária brasileira melhor se preparar diante de potenciais desafios e oportunidades ligadas à redução de perdas na pós-colheita de alimentos.

A Embrapa Agroindústria de Alimentos também vem conduzindo uma série de eventos sobre Segurança Alimentar e Nutricional. A Oficina “Redução de Perdas e Desperdícios e Segurança Alimentar e Nutricional”, que ocorreu no final de abril, aprofundou o debate sobre esse tema. O evento contou com a presença de mais de 60 pessoas de instituições públicas, privadas e do terceiro setor interessadas em abordar possíveis soluções para reduzir perdas e desperdícios de alimentos no Brasil.

Pela complexidade e múltiplos atores envolvidos, foi consenso entre os participantes que a abordagem para a solução dessa questão deve ser multidisciplinar e interinstitucional.

O primeiro passo seria a elaboração de um diagnóstico mais recente sobre a questão de perdas e desperdício de alimentos no Brasil a ser realizado por instituições governamentais para a proposição de novas políticas públicas. Outra solução levantada foi o aproveitamento integral dos alimentos, inclusive daqueles fora do padrão de consumo, com a integração das práticas de pós-colheita, de processamento de alimentos e de aproveitamento de coprodutos, para geração de renda e agregação de valor à produção. A capacitação do produtor em boas práticas de manipulação e de transporte e a utilização de restos de comida para compostagem de hortas em áreas públicas e privadas também foram apontados pelos participantes.

Fonte – Aline Bastos, Embrapa de 17 de junho de 2016

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