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Por que as formigas desapareceram de região no sul da Argentina

Cientistas descobrem efeito colateral ‘indesejado’ do plantio de árvores em zona árida na Patagônia.

Um dos inúmeros benefícios que as árvores prestam à humanidade é o de absorver parte do dióxido de carbono da atmosfera.

E, com a ameaça do aquecimento global causado pelo homem com a emissão em grandes quantidades de gases do efeito estufa, plantar árvores parece ser a “estratégia perfeita”: mais árvores significam mais absorção de CO2 que, por sua vez, geram menos aquecimento.

Mas alguns pesquisadores alertam para a importância de se observar o ecossistema de cada região antes de optar pelo plantio desenfreado de árvores. Em uma região da Patagônia, no Sul da Argentina, por exemplo, as formigas desapareceram justamente por causa de um desequilíbrio no sistema causado pelo florestamento (plantio de árvores em região em que não havia floresta).

“Nas zonas áridas, onde substituíram a vegetação de estepe pelo plantio de árvores, observamos que os artrópodes do solo diminuíram”, disse Adelia González Arzac, bióloga e doutora em Ciência Agropecuária.

No sul da Argentina, a poucos quilômetros de San Martín de los Andes, na província de Neuquén, foram plantadas árvores tanto em lugares áridos, como em úmidos. Esse tipo de florestamento não planejado permitiu a Amy Austin, pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Universidade de Buenos Aires, e a sua equipe estudar o impacto disso em ecossistemas a longo prazo.

“O que vimos é que plantar espécies exóticas tem um efeito sobre todos os aspectos do funcionamento dos ecossistemas”, disse a pesquisadora.

“Vimos mudanças na produtividade primária (isto é, no crescimento das plantas nativas), alterações na abundância da fauna do solo, nas cadeias alimentares, na decomposição e reciclagem do carbono, e não sabemos quais serão as consequências dessas mudanças”, completou.

O que Austin e Arzac conseguiram observar nesse tempo foi uma diminuição considerável da presença de formigas nesta região da Patagônia.

“Diminuiu abruptamente a abundância desses organismos (artrópodes) nessas regiões de reflorestamento e quase desapareceram alguns grupos específicos como os solifugae, que são artrópodes predadores, e as formigas”, explicou Arzac.

“Esse tipo de plantações geralmente traz formigas mais exóticas que vivem com essas espécies e acabam invadindo e dominando a biodiversidade natural.”

“Mas aqui aconteceu o contrário e não sabemos por quê. Pode ser que tenha sido por causa da sombra que as árvores criam ou pelas mudanças na química do solo. Isso é algo que ainda vamos estudar”, diz.

Importância

O desaparecimento das formigas pode parecer algo pouco relevante, mas elas cumprem funções essenciais nos ecossistemas – como a reciclagem de nutrientes, segundo as pesquisadoras. “Além disso, elas afetam a dinâmica da vegetação, dispersando as sementes e ainda ajudam a regular outras populações de insetos”, diz Arzac.

Fazendo uma análise mais cautelosa, Austin classifica esses efeitos como indesejados – em vez de negativos – já que ainda não houve estudo mais profundo sobre o verdadeiro impacto dessa florestamento.

O caso da Patagônia argentina, os programas de florestamento foram iniciados nos anos 1970. Naquele momento, o Estado estimulava essa atividade para aumentar a produção de celulose e papel.

E ainda que as árvores analisadas pelo grupo de Austin não tenham sido plantadas com a intenção de captar CO2, elas representam um bom caso de estudo, justamente por sua idade de quase quatro décadas. Nesse período, elas passaram por diferentes experiências de precipitações, já que algumas foram plantadas em zonas áridas, tais como pastagens, e outras em lugares de floresta nativa.

Cautela

Nesse sentido, Austin põe em xeque a estratégia do plantio de árvores com o objetivo de reduzir o CO2 da atmosfera. Ao menos no caso da Patagônia, onde houve florestamento com pinheiros espaçados por onde não havia árvores.

“Como estratégia para diminuir o carbono, a ação não teve muito sucesso, pelo menos nesse ecossistema local”, explica a cientista.

O problema dos pinheiros é que eles soltam muitas pinhas e essas folhas secas têm muitos compostos que não se dão com os organismos que vivem no solo. Assim, as folhas demoram mais para se decompor na terra.

Isso significa que esse acabou não sendo o mecanismo mais eficiente na hora de tirar o carbono da atmosfera. Por isso, no caso da implementação dessa estratégia na Patagônia, “os custos superam os benefícios.”

Mas o que aconteceria se essas árvores fossem cortadas? “Ainda não sabemos se os ecossistemas poderiam voltar ao que eram antes”, disseram as pesquisadoras.

“Não quero dizer categoricamente que reflorestar é bom ou ruim, mas a minha mensagem é que quando o foco disso é centrado unicamente em diminuir a quantidade de carbono no ecossistema, perde-se a perspectiva sobre os efeitos colaterais disso”, diz Austin.

Se a ideia é plantar árvores com esse fim, é uma estratégia que precisa ser implementada com cuidado, alerta a pesquisadora.

Fonte – Laura Plitt, BBC Mundo / G1 de 25 de outubro de 2015

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