Por Ana Flávia Pilar - O Globo - 11 de novembro de 2024 - Com modelo…
Por um Brasil livre de transgênicos
Greenpeace de 28 de maio de 2007
O Greenpeace conduziu estudos de campo sobre o milho transgênico na Alemanha e na Espanha e chegou a conclusões que colocam em xeque não só os dados apresentados pela indústria, como também a segurança ambiental e a própria eficiência agronômica do milho inseticida Bt da Monsanto, o MON810.
O milho Bt teoricamente produz uma toxina idêntica à das bactérias Bacillus thuringiensis (Bt), que ocorrem naturalmente em solos. Segundo a Monsanto, sua tecnologia é “eficiente” no controle de lagartas, “protege a cultura durante todo o seu ciclo”, é “altamente confiável” e “garante o controle de pragas sem a manifestação de efeitos negativos em espécies benéficas à produção agrícola e também ao homem”.
Mais de 600 amostras de folhas de milho foram coletas em 12 diferentes localidades entre maio e outubro de 2006 e enviadas para análises de laboratório. Os resultados mostram que há uma enorme variação na concentração da toxina Bt nas plantas. Variações de até 100 vezes foram observadas em plantas de uma mesma área e coletadas no mesmo dia. Uma outra pesquisa publicada pouco antes mostrou resultados semelhantes, apontando grande variação dos níveis de Bt entre plantas de uma mesma área e entre locais estudados.
O Greenpeace concluiu que as concentrações de Bt verificadas a campo não conferem com os dados que a Monsanto apresenta quando solicita a liberação comercial da variedade. As evidências coletadas também sugerem que as plantas de MON810 não apresentam características biológicas estáveis.
Esses dados são importantes por dois principais motivos. Primeiro porque ajudam a preencher o vácuo deixado pela ausência de estudos semelhantes e que acaba por criar a falsa impressão de que o MON810 produz níveis estáveis e constantes da proteína inseticida. Segundo porque essa variação tem implicações ambientais e agronômicas. Altas doses do Bt podem afetar insetos benéficos e não-alvo que contribuem para o controle biológico e o equilíbrio do agroecossistema como um todo. E doses baixas podem não ser suficientes para controlar as lagartas do milho e acabarão por acelerar o desenvolvimento de resistência das pragas ao Bt.
Uma ampla revisão da literatura científica publicada recentemente mostra que as proteínas do grupo Cry, como a do MON810, afetam insetos não-alvo e conclui que seus mecanismos de ação devem ser melhor examinados.
Para a Monsanto, “A linhagem de milho MON810 foi criteriosamente avaliada quanto à segurança ambiental por diversos cientistas independentes da Monsanto” (sic).
A liberação comercial desta variedade pelo governo brasileiro está engatilhada para a reunião de junho da CTNBio. Tempo há para que essas novas evidências sejam consideradas. Mas a se repetir o caso do milho da Bayer, o bloco majoritário pró-transgênicos da Comissão não as incluirá dentro das evidências que eles próprios consideram válidas. Afinal, acreditam que os benefícios dos transgênicos vão sempre superar (ou justificar) seus riscos.
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