Por José Tadeu Arantes - Agência FAPESP - 31 de outubro de 2024 - Estratégia…
Qual é a origem do plástico que polui os oceanos?
Antes de tudo é preciso saber de onde a poluição vem para evitá-la
Os oceanos do mundo estão se afogando em plástico. A Ellen MacArthur Foundation estima que, até 2050, os mares terão mais peso em plástico do que em peixes.
Isso se confirmando ou não, sabemos que a vida selvagem marinha está sofrendo muito com os efeitos da poluição plástica atual. Os animais frequentemente se sufocam com o lixo flutuante e muitos ingerem esses resíduos, confundindo-os com alimentos. O plástico entra na cadeia alimentar e estima-se que quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano. O microplástico está presente na água da torneira do mundo inteiro, no sal, nos alimentos, na cerveja e no ar.
Mas de onde é que todo esse plástico vem? Um artigo de Louisa Casson, do Greenpeace do Reino Unido, explica que existem três fontes principais de poluição plástica oceânica. São elas:
1. Nosso lixo
Você pode ter boas intenções ao jogar uma garrafa de água de plástico na lixeira de recicláveis, mas é bem provável que ela nunca seja reciclada. Dos 480 bilhões de garrafas de bebidas plásticas vendidas, apenas em 2016, menos de metade foi coletada para reciclagem e, desse montante, apenas 7% foi transformado em plástico novamente.
O resto permanece na terra indefinidamente. Uma parte fica em aterros sanitários ou em lixões, mas é comum o vento carregar o resíduo leve desses locais até rios ou mares ou a redes de drenagem urbana, o que faz com que o plástico eventualmente chegue ao mar. O mesmo acontece com o lixo deixado nas praias, nos parques e nas ruas das cidades.
“Os principais rios ao redor do mundo carregam aproximadamente 1,15 milhão a 2,41 milhões de toneladas de plástico para o mar todos os anos – isso é equivalente a até 100 mil caminhões de lixo”, diz Casson.
2. Esfoliantes
Muitos cosméticos e produtos para cuidados com a pele contêm pequenos pedacinhos de plástico. Boa parte dos esfoliantes e até mesmo alguns cremes dentais podem conter microesferas de plástico. Após o uso, essas bolinhas vão pelo ralo e, mesmo em locais com tratamento de esgoto, não podem ser filtradas por serem muito pequenas. Essa água chega a rios e mares e os resíduos plásticos acabam comidos por pequenos peixes ou incorporados pelo plâncton.
Outro grande problema que está apenas começando a chamar atenção pública é o das microfibras – tecidos sintéticos liberam minúsculas fibras de plástico a cada lavagem.
3. Vazamento industrial
Você já ouviu falar em nurdles? Eles são pequenas bolinhas plásticas utilizadas na manufatura de vários itens plásticos. Ao contrário dos resíduos plásticos que se decompõe até se tornarem microplásticos, os nurdles são feitos já com um tamanho reduzido (cerca de 5 mm de diâmetro). Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo. Os Estados Unidos produzem cerca de 27 bilhões de quilos de nurdles por ano.
O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas plásticas em estradas ou no mar; ou a parte que sobra da produção não é tratada adequadamente. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou numa rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza. Em uma pesquisa realizada no início de 2017, foram encontrados nurdles em 75% das praias do Reino Unido.
Mas além dessas fontes apontadas no artigo da Louissa Casson, a ONG OrbMediaainda aponta outras fontes inusitadas:
4. Lavagem das roupas
Você sabia que as fibras têxteis sintéticas, assim como o exemplo do poliéster, são feitas de plástico? O problema é que durante a lavagem dessas roupas de fibras sintéticas, por meio do choque mecânico, o microplástico se desprende e acaba sendo enviado para esgotos, indo parar em no ambiente e em corpos hídricos, como, por exemplo, o próprio oceano.
5. Ar
As fibras têxteis de tecido sintético plástico também vão parar no ar. Um estudo de 2015, realizado em Paris, na França, mostrou que, a cada ano, cerca de três a dez toneladas de fibras plásticas atingem a superfícies das cidades. Uma das explicações é que apenas o atrito de um membro com o outro vestido por roupas de fibras têxteis sintéticas plásticas já seria o suficiente para dispersar o microplástico na atmosfera. Essa poeira de microplástico pode ser inalada, ir parar no mar, juntar-se ao vapor e ir se depositar na sua xícara de café e no seu prato de comida, por exemplo.
6. Atrito dos pneus
Os pneus de carros, caminhões e outros veículos são feitos de um tipo de plástico chamado estireno butadieno. Ao passarem pelas ruas, o atrito desses pneus com o asfalto gera emissão de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilômetros percorridos. Para se ter uma ideia, na Noruega, é emitido um quilo de microplástico de pneu por ano por pessoa.
7. Tintas látex e acrílicas
A tinta utilizada em casas, veículos terrestres e navios desprende-se destes por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada bloqueadora de microplástico na superfície oceânica.
A isto, podemos acrescentar as tintas látex e acrílicas utilizadas em artesanatos e os pincéis lavados nas pias.
8. E a solução?
A poluição plástica do oceano é o resultado de um sistema profundamente distorcido, em que a fabricação de um produto não biodegradável pode continuar sendo feita sem controle, mesmo não havendo métodos de processamento dos resíduos efetivos ou seguros (não se pode contar com a reciclagem neste caso, uma vez que apenas 9% de todo o plástico produzido desde a década de 1950 foi reciclado).
Encontrar uma solução, escreve Casson, exige chegar à origem do problema. Precisamos que os governos levem isso em conta isso. A Costa Rica, por exemplo, prometeu eliminar todos os plásticos de uso único em 2021. As empresas precisam ser responsáveis pelo ciclo de vida completo de seus produtos, incluindo a coleta e a reutilização. Segundo The Guardian, marcas são hostis ao uso de plástico reciclado por questões estéticas – outro tipo de barreira que precisa ser quebrada.
É necessário que haja campanhas contínuas sobre consumo que eduquem as pessoas sobre o impacto de plásticos de uso único em todas as partes do mundo. É preciso evitar produtos com embalagens desnecessárias, cobrar para que empresas mudem suas posturas e apostar na reutilização. Lojas e mercados devem receber incentivos governamentais para oferecerem opções de reabastecimento sem novos pacotes, e por aí vai… Existem ideias e é importante que elas sejam colocadas em prática antes que os mares sejam cada vez mais engolidos por plásticos.
Se você quer saber como pode reduzir o seu uso de plástico confira a matéria “Como reduzir o uso de plástico? Confira dicas imperdíveis“.
E para descartar seus resíduos corretamente, consulte quais são os postos de coleta mais próximos de sua residência.
Fontes – Treehugger / Orbmedia / eCycle
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