Entrevista concedida pela FUNVERDE para a revista HM! sobre as malditas sacolas plásticas de uso…
Qual é o limite?
Muitos de nós acredita que a natureza é infinita e de recursos inesgotáveis.
Além disso, à margem de qualquer evidência científica, a sociedade fundamenta seus valores na crença de que, ante a iminência de qualquer desastre ambiental de grandes proporções, a ciência vem, prontamente, em socorro.
E, tudo se acalma. Tudo se aplaca. Tudo se ajeita.
Paira no ar, e no coração das pessoas, sem nenhum fundamento, mas paira, a certeza de que uma tríade infalível, associando bom-senso, amor ao próximo e avanço tecnológico, cuida de tudo.
Este é o senso comum.
Afinal, que doidivanas admitiria a mínima perda de solos para dentro dos rios, sabendo que solos perdidos perdem-se para sempre?
Que louco manejaria um machado (moto-serra ou correntão) estando certo de que floresta cortada e destocada, jamais volta a ser o que foi?
Que desmiolado assentiria com a pesca predatória nos oceanos, tendo confirmado que pesca rapina ameaça, de verdade, seus estoques milenares?
Que insensato estimularia o consumo à exaustão, após certificar-se que tudo o que se vende, compra, veste e come, provém da natureza finita e esgotável?
Que lunático defenderia um modelo globalizado onde os 20% mais ricos consomem 80% da matéria e energia do planeta?
Alguém, em sã consciência, admitiria que comprovadas conseqüências continuassem seu curso macabro, sem serem interrompidas?
Isso não faria sentido!
As pessoas de mais influência deixariam o mundo acabar, sabendo que poderiam acabar junto com ele?
Até aqui, parece que sim.
A moderna civilização, com seu sistema de crenças no progresso sem limites, acelerou a tal ponto o tempo histórico da humanidade que acabou por dissociá-lo do tempo biológico que a espécie tem de forma inata. Esta dissociação é o epicentro de um terremoto de gigantescas proporções que está fazendo tremer as bases biológicas de nossa própria evolução.
Hoje, temos um modelo de desenvolvimento que tenta universalizar um estilo de vida. Mas, ao tentar fazê-lo, coloca em risco todo o planeta. Pior: distribui de forma desigual benefícios e prejuízos.
O pensamento reinante submete a humanidade à mesma lógica mercantil. Por ser mercantil, é competitiva. Por ser competitiva é excludente. Por ser excludente, não é solidária.
Qualquer humano, de mediana inteligência, sabe que, em um mundo finito, há um limite para o esgotamento dos recursos naturais.
Por isso, deve haver um limite também para este modelo.
Enquanto esse limite não for encontrado, a sociedade continua a correr riscos. Grande parte deles são devidos à própria intervenção da sociedade no planeta.
Mais do que nunca, é preciso definir os limites de crescimento (se é que crescer, destruindo, significa mesmo crescer).
Neste caso, por mais irônica que seja, nada mais atual que a pergunta de Mahatma Ghandi, feita há mais de meio século:
Para desenvolver a Inglaterra, foi necessário o planeta inteiro. O que seria necessário para desenvolver a Índia? (Recado do Cheida)
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