Esta é uma história da qual não me canso de escrever.
Este já é meu terceiro artigo sobre a recuperação do rio Tâmisa, o mais famoso da Inglaterra, que corta a capital Londres.
E a razão pela qual acho tão importante divulgar o que aconteceu e vem acontecendo com ele é porque o que foi feito por lá deve servir de exemplo para o mundo todo.
Faz quase 65 anos que o Tâmisa foi despoluído.
Relatos históricos revelam que no passado o rio chegou a ser chamado de “Grande Fedor”.
A poluição era tanta e seu cheiro tão insuportável, que sessões no Parlamento, que fica em suas margens, eram canceladas tal o seu odor.
Declarado biologicamente morto em 1957, já que não possuía mais oxigenação em suas águas e com isso não havia possibilidade de ter vida marinha alguma nele, o Tâmisa passou por um longo processo de descontaminação.
Um eficiente sistema de captação de esgoto foi implantado e leis rígidas foram adotadas para evitar que dejetos fossem despejados nele.
Diversas organizações ambientais também participaram e ainda trabalham ativamente para que esse estuário se mantenha saudável.
Em levantamentos anteriores, sinais já traziam evidências que o Tâmisa voltava a abrigar diversas espécies, como golfinhos, toninhas e até, pequenas baleias, que mostravam através do aumento de suas populações que a qualidade do rio tinha melhorado.
Só em 2019, foi registrado o nascimento de mais de 100 focas em suas águas.
Agora, um novo monitoramento realizado pela Zoological Society of London (ZSL) traz mais boas notícias.
O relatório State of the Thames Report aponta um aumento na presença de uma variedade de espécies de pássaros, mamíferos marinhos e habitats naturais.
Entre algumas das “descobertas” surpreendentes que vivem no Tâmisa estão cavalos-marinhos, enguias e até três espécies de tubarão (mas que são inofensivos para os seres humanos).
Uma delas, inclusive, o tubarão Tope (Galeorhinus galeus), que aparece na imagem abaixo, foi reclassificado em 2020 de vulnerável a criticamente em perigo de extinção.
As análises feitas na água indicam que uma melhora em sua qualidade, com concentrações de oxigênio dissolvido (OD) mostrando um aumento positivo entre 2007 a 2020.
Especialistas explicam que baixas concentrações de OD podem matar peixes e causar impacto em espécies-chave que vivem no rio.
Também foi notada uma redução de fósforo, resultado das obras de tratamento de esgoto.
“Este relatório nos permitiu realmente observar o quão longe o Tâmisa chegou em sua jornada de recuperação desde que foi declarado biologicamente morto e, em alguns casos, definir estratégias para o futuro”, diz Alison Debney, responsável pelo Programa de Conservação da ZSL.
Focas na margem do Tâmisa
Todavia, infelizmente, não há apenas boas novas.
O aquecimento global já mostra seus efeitos sobre o Tâmisa.
As mudanças climáticas aumentaram a temperatura dos cursos de água em Londres em 0,2⁰C, por ano, em média.
Além disso, o nível do rio tem subido 4,26 mm anualmente desde 1990.
“Se vamos enfrentar a emergência climática, a natureza precisa estar no centro de nossa solução, tanto para desacelerar o ritmo das mudanças futuras quanto para se adaptar àquelas que já estamos presenciando”, alerta Alison.
Com 346 km, o Tâmisa é o rio mais longo da Inglaterra e o segundo mais longo do Reino Unido, depois do Severn.
Nele vivem 115 espécies de peixes e 92 de aves.
Ao longo de suas água estão também quase 600 hectares de zonas húmidas costeiras, que são inundadas e drenadas pela água salgada trazida pelas marés. habitat crucial para uma variedade de vida selvagem.
O rio inglês faz parte ainda da vida de 9 milhões de pessoas, que dependem dele para ter acesso a água potável, alimentos, meios de subsistência e proteção contra inundações costeiras.
“Um futuro resiliente tanto para as pessoas quanto para a vida selvagem dependerá da proteção dos habitats naturais remanescentes, reconectando e restaurando e inovando em novas formas de maximizar as oportunidades para a vida selvagem no ambiente urbano”, ressalta a representante da ZSL.
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