Por Ellen Nemitz · ECO - 18 de dezembro de 2024 - Câmara ressuscitou “jabutis” da…
Reduzindo a pegada de carbono em um edifício
A caminho da energia zero: o DaVita Medical Group Sunport Healthcare Center, em Albuquerque, Novo México (EUA), é um exemplo de projeto de alto desempenho e baixo consumo de energia.
Segundo o World Green Building Council, quase 40% das emissões de efeito estufa vêm dos edifícios. Felizmente, abastecer essas estruturas com energia renovável pode representar 43% de redução das emissões mundiais até 2030.
A questão é: será possível construir edifícios com certificação de energia zero – energia 100% renovável e zero emissão de carbono – até 2030, conforme proposta da iniciativa global Architecture 2030?
De acordo com dois especialistas em energia da Dekker/Perich/Sabatini (D/P/S), uma empresa de arquitetura de Albuquerque, no Novo México (EUA), especializada em projetos ecológicos, a resposta é um categórico “sim”. E o que está em jogo é algo da máxima relevância.
“Nossa esperança é que, quanto mais cedo começarmos a mudar, mais cedo poderemos desacelerar as mudanças climáticas, em vez de piorar a situação”, comenta Aaron Ketner, especialista em energia da D/P/S. “Quando demoramos para fazer uma mudança, a situação piora, e rápido. É como um grande navio que está sempre acelerando enquanto tentamos desacelerá-lo.”
Para aqueles que atuam nas áreas de arquitetura, engenharia e construção civil e que possam estar resistentes a essas mudanças, demonstrar o impacto em seus resultados finais ajudaria na mudança de ideia.“ Quando comprovamos os benefícios financeiros, tudo fica muito claro”, comenta Luc Wing, analista de construção civil da D/P/S.
Para dar prioridade aos edifícios de energia zero até 2030, são necessários alguns elementos fundamentais. Segundo Wing e Ketner, o bom é que todos esses elementos já estão disponíveis.
1. Conscientização educacional
Cada vez mais, os locatários e compradores de imóveis estão percebendo a importância das construções de alto desempenho. “Estamos vendo muito mais pessoas buscando espaços eficientes e contas mais baixas de serviços públicos”, revela Ketner. “Antes, as pessoas simplesmente mudavam de residência e depois comentavam: ‘puxa, como essas contas são altas’. Agregamos valor ao torná-los cientes do que é possível obter com economia de energia e projetos inteligentes, e isso aumenta ainda mais a procura por edifícios de energia zero.”
Por exemplo, em um projeto recente de um complexo habitacional multifamiliar da D/P/S, instalamos um estacionamento coberto com telhado de painéis solares. Essa estratégia ajudou a tornar os serviços públicos mais acessíveis para os locatários de baixa renda do complexo. Além disso, como a água do complexo agora é aquecida pelo telhado de painéis solares, o consumo de energia é menos oneroso para a rede, os residentes e os contribuintes. Como benefício adicional, Ketner comenta que o edifício “se integra ao bairro e está eliminando muitas ideias ultrapassadas que as pessoas têm sobre os imóveis de baixa renda”.
2. Planejamento de referência
A D/P/S projetou um sistema solar fotovoltaico, bem como um sistema de aquecimento de água por energia solar no telhado, para um complexo habitacional multifamiliar em Albuquerque. Cortesia da D/P/S.
À medida que os compradores se tornam mais bem informados, a eficiência energética passa a ser prioridade em uma fase anterior do planejamento inicial da construção. Isso é bom, comenta Wing, porque, com a ajuda da Autodesk, do Revit e do Insight, a equipe pode analisar as condições de um local com tamanhos e formatos de construção que podem maximizar a eficiência energética nos ambientes imediatos e adjacentes. “Quando os compradores ou os tomadores de decisão nos informam suas prioridades, podemos mostrar o custo e o impacto que elas podem ter nos serviços públicos recorrentes e outras questões relacionadas à construção”, afirma Wing. Em resumo, essa etapa coloca um edifício de alto desempenho no caminho certo e pode revelar outras oportunidades de economia por meio de análises mais específicas.
3. Análise condicional
Quando uma empresa ou proprietário de edifício dá prioridade à eficiência energética, os analistas de construção civil podem se concentrar em economias específicas. Por exemplo, como é possível usar a sombra em determinado ambiente, ou de que forma certos fatores, como a iluminação interior ou a orientação do edifício, influenciam o uso da energia?
Em um caso, um cliente de Wing queria fazer economia removendo todos os sistemas de sombreamento do edifício. Com a ajuda da análise do isolamento solar e da iluminação natural feita pelo Revit, Wing comenta que sua equipe pôde estimar o impacto nos custos. “Muitas vezes os clientes dizem: ‘ah, não podemos comprar sistemas de sombreamento para as janelas’. Mas, com a ajuda dessas ferramentas, podemos mostrar a quantia que sobra para instalar sistemas de sombreamento de alta prioridade a um custo mínimo e com máxima economia nos serviços públicos”, afirma.
Quando os compradores de edifícios dão prioridade à eficiência energética, os construtores podem analisar fatores como a iluminação natural (mostrada aqui) para prever como os recursos do edifício contribuem para a economia com serviços públicos. Cortesia da D/P/S.
A análise condicional abrange radiação solar e planejamento de painéis, referências de energia renovável, questões relacionadas à iluminação interior, transferência de calor e até mesmo análise de vento, que pode demonstrar como o gelo e a neve se acumulam em alguns túneis de vento.
4. Auditorias energéticas constantes
Você pode construir o edifício de menor consumo de energia do mundo, mas as pessoas que o utilizam podem, por descuido, sabotá-lo. “Os ocupantes podem deixar as janelas ou persianas abertas ou os computadores ligados a noite toda quando vão para casa”, comenta Ketner. “Coisas simples assim.”
Vazamentos de ar, aparelhos eletrônicos ligados quando não estão sendo utilizados e outros vampiros de energia podem prejudicar a eficiência de um edifício que deveria ser de energia zero. “É preciso mostrar aos ocupantes como usar o prédio corretamente”, recomenda Ketner. “Há muitas variáveis desconhecidas que não temos como controlar depois que o edifício está pronto. Mas podemos entrar e dizer: ‘ei, pessoal, somos da equipe de desempenho do edifício – projetamos o seu prédio e hoje vamos mostrar alguns dos principais recursos.’” É necessário dar orientação após a instalação do último painel solar, e os proprietários precisam fazer auditorias energéticas para que o edifício continue a ser considerado de energia zero.
5. Gaste agora para economizar depois
A maioria das pessoas está demorando muito para adotar o projeto de edifício de energia zero. Talvez o principal motivo seja o custo. No entanto, com a queda do preço das tecnologias de baixo consumo de energia, os compradores estão, finalmente, percebendo os benefícios.
“Recentemente fiz um cálculo de energia de referência para um cliente”, comenta Ketner. “Fiz tudo com base nas tarifas atuais dos serviços públicos. Isso é importante porque as tarifas do ano que vem serão mais altas. No entanto, de acordo com os meus cálculos, em comparação com a média nacional do tipo de edifício, o cliente deve economizar pelo menos US$ 2,5 milhões em custos com serviços públicos nos próximos 30 anos – ou até mais, caso as tarifas aumentem. Isso possivelmente daria para construir outro edifício.”
“Nos Estados Unidos, os edifícios representam cerca de 75% da necessidade de eletricidade do país”, explica. “Imagine o impacto que teria um ambiente construído com energia zero.”
Além de reduzir a pegada de carbono, um projeto sustentável “cria um edifício de que as pessoas querem cuidar, e esse é o trabalho mais sustentável que podemos fazer”, comenta Ketner. “Não se trata de um único edifício que salva o mundo. É toda uma coletividade. Acredito que todos nós poderemos alcançar essa meta nos próximos 10 anos.”
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