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Reflorestar não é bom só para o meio ambiente
Por Carlos Madeiro – Colaboração para Ecoa, de Maceió (AL) – UOL – 25 novembro de 2020
Reflorestar não é bom só para o meio ambiente: Pode ser um bom negócio.
A WRI (World Resources Institute) Brasil realizou uma campanha para mostrar bons exemplos em vários locais do Brasil a partir de cinco vídeos.
Segundo ele, o modelo de agroflorestas pode ser adotado em todas as regiões do país. “Hoje temos milhões de áreas degradadas que não são apropriadas para produção de alimentos ou de energia, mas com certeza são apropriadas para serem restauradas com espécies nativas”, alega.
“E elas podem servir para produtos madeireiros e não madeireiros; podem ser frutíferas; há uma variedade enorme que pode servir para venda, mas também para alimentação”, completa.
Calmon afirma ainda que o Brasil é hoje um dos países com mais conhecimento agroflorestais, com espécies arbóreas, culturas anuais e florestas para produção madeireira —ou não. “Ou seja, temos uma gama de experiências. O Brasil pode ser líder no mundo porque já temos conhecimento, know-how e muitas pessoas que acreditam. Sem contar toda essa cadeia que gera emprego, desde a coleta de semente, passando pelo plantio, monitoramento, colheita. É uma bela alternativa, além de tirar a área da degradação e torná-la mais produtivas para futuras gerações”, diz.
Mandioca e o sustento de família no Pará
No meio da Amazônia, a técnica agropecuária Marliane das Chagas Soares faz um verdadeiro cardápio de variedades com o que é produzido da mandioca em Juruti (PA), à beira do rio Amazonas. Mas nem sempre foi assim.
Ela conta que, inicialmente, atuava apenas com a farinha da mandioca. No começo de 2019, porém, ela começou a trabalhar com agrofloresta. “Com o passar dos tempos, fomos crescendo e surgiu a necessidade de diversificar a mandioca. Hoje nós trabalhamos com mais de 23 itens derivados dela. E temos também espécies florestais e frutíferas, além da horta, que é um projeto meu que fiz para o TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]”, explica.
Além dela, a família de Marliane também utiliza o modelo. “Esse trabalho que eu faço fica na propriedade da nossa família. Nós temos um outro terreno que também já começamos a replicar a agrofloresta nas áreas que foram desmatadas. E na minha propriedade particular também já estamos fazendo esse mesmo processo”, diz.
Para ter um melhor resultado e aproveitar os períodos de safra, ele conta que diversificou a plantação. “A gente tenta consorciar de tudo um pouco para que a gente possa trabalhar de forma unida. Todo mundo participa dos processos”, explica.
Para o próximo ano, ela espera crescer mais com uma parceria com a ONG Saúde e Alegria. “Já estamos vendo mudas para ajudar a fazer o reflorestamento dessas áreas, e possivelmente a gente tá querendo chamar outras pessoas pra começar a desenvolver esse mesmo trabalho que nós fazemos em nossas propriedades”, diz.
As mulheres e o umbu no sertão
Há 12 anos, no sertão baiano, uma perguntar ajudaria a mudar o destino de mulheres do município de Pintadas. “Em um evento aqui, uma delas perguntou: ‘o que fazer com umbu?’; porque a gente só chupava, e o resto da fruta os animais comiam. Aquilo despertou interesse, e a gente começou a pesquisar que, além de consumir o umbu, a gente poderia fazer geleia, polpa. A gente, então, criou uma associação de mulheres, comprou a máquina e começou a produzir a polpa”, conta a agricultora Silvany Lima.
A cooperativa Ser do Sertão existe desde 2008, comercializando produtos da agricultura familiar. “Desde então, na época da colheita do umbu — que ocorre entre janeiro e fevereiro — não se perdeu mais nada. As pessoas começaram a vender o umbu para fábrica. Além de ter uma renda extra da família, ainda começaram a preservar a natureza”, explica.
O umbu é uma fruta tradicional do sertão —e uma espécie nativa do município de Pintadas. “Antes, como a gente não tinha essa experiência, nascia os pezinhos de umbu e a gente arrancava. E a associação começou ter esse compromisso de conversar com os produtores para que não matasse, não fizesse queimada, cuidasse dos pés de umbu, das frutas nativas da nossa região, que é um sustento a mais para nossas famílias. Deu certo, e hoje as pessoas não fazem mais queimadas, nem arrancam os pé de umbu”, diz Lima, que ainda planta palma, milho e feijão nas suas terras.
Resgate histórico para biodiversidade
A Fazenda Nova Coruputuba, em Pindamonhangaba (SP), na região do Vale do Paraíba, tem história. Hoje, o produtor e silvicultor Patrick Assumpção é quem está à frente do local, mas a tradição vem do seu bisavô, Cícero da Silva Prado, que em 1911 adquiriu a propriedade de 200 hectares.
Assumpção conta que a fazenda fica numa área de várzea, e que hoje produz arroz irrigado e uma série de outras culturas.
“Eu passei a minha vida inteira vendo aqui a produção de celulose, andando no meio de floresta, de madeira, de eucalipto”, diz.
Ele conta que em 2007, após três anos de pesquisa, iniciou o plantio de uma madeira nobre chamada Guanandi. “É uma madeira boa para a indústria naval, para pisos, para movelaria, para uma série de coisas. O tempo de espera dessa madeira é de aproximadamente 20 anos”, diz.
Nessa espera, ele diz que conheceu melhor as agroflorestas. “Em 2009, eu comecei a fomentar plantio de Eucalipto. Montei um site de vendas e divulgação da espécie, até que um apareceu um pesquisador da Secretaria da Agricultura do Estado. Ele foi me procurar porque viu que tinha um cara que estava plantando espécie nativa em várzea. Ele estava no planejamento profissional dele e ia fazer um doutorado, e acabou fazendo a pesquisa na fazenda. E eu participei desse doutorado, de conversão do sistema produtivo: monocultura para sistema produtivo biodiverso agroflorestal”, explica.
Para saber o que seriam as espécies nativas, o pesquisador buscou quais as culturas existentes um, dois, séculos atrás. “A gente plantou mandioca, banana, palmito, e agora entramos muito forte em frutas nativas da Mata Atlântica”, diz, citando que hoje apoia pessoas interessadas em terem suas agroflorestas.
“Hoje etamos preconizando esse tipo de manejo, de plantio agroflorestal para públicos interessados, desde produtores rurais, agrônomos, a toda cadeia produtiva de donos de terra. Eles também podem produzir sistemas mais biodiversos dentro das suas propriedades”, conta.
Do surf ao resgate da Juçara no ES
O casal Emerson Miranda e Viviane Vieira Lopes vivem em Santa Teresa (ES) cultivam um sonho: tirar a juçara — também conhecida como palmito-doce — da lista de espécie ameaçada de extinção no Espírito Santo.
Mas tudo começou no início da década de 1990. “O sonho do meu pai era ter um sítio em Santa Teresa, e ele comprou nessa época. Eu demorei um ano para vir porque a minha vida era pegar a prancha e surfar'”, conta. “Sei que chegamos aqui no sítio e me deparei com a juçara. Eram palmeiras imensas, lindas. Foi paixão à primeira vista”, completa.
Mas a vida de agricultor não animou Emerson. “A gente foi tocando o sítio, mas não éramos agricultores — nossa família é de surfistas. Então um dia disse ao meu pai: ‘a gente não é agricultor, não vamos ficar carregando saco de café nas costas. Vamos devolver o sítio à natureza”, conta.
A partir daí a natureza foi agindo e em duas décadas se consolidou quase que espontaneamente a juçara nas terras. Com as árvores, o casal notou que poderia fazer um bom proveito.
“Através dos antigos da roça aqui, descobrimos que a juçara era o palmito da floresta, e que esse palmito era muito bom. Então teve uma restauração do nosso sítio, e no ano passado foi a primeira vez que ela soltou o fruto”, conta.
O desejo do casal agora é ver a juçara ganhar corpo. “Estamos lançando um projeto muito importante, e já estamos começando as reuniões; porque o nosso sonho, desde sempre, foi salvar a Juçara. A ideia é promover a maior cobertura vegetal possível que pudermos. A gente abriu a visão e hoje sabe que, além de tentar salvar a Juçara da extinção no Espírito Santo, podemos gerar renda para agricultura familiar capixaba. A gente buscou se profissionalizar desde então”, conta Viviane.
Variedade no sul da Bahia
Bruno Mariani passou 20 anos no mercado financeiro até descobrir, em 2005, o potencial das agroflorestas. Ele diz a Ecoa que começou a pesquisar sobre investimento florestal com o uso de espécies madeireiras da Mata Atlântica em consórcio e viu que era um bom negócio.
“Os plantios mistos se desenvolvem melhor e têm impacto positivo no sequestro de carbono, infiltração de água no solo e no aumento da fauna”, diz, citando ainda que “o maior desafio foi a falta de pesquisas de longo prazo para determinar a velocidade de crescimento das nossas espécies.”
Em 2010, começaram as pesquisas com 56 espécies. “Ao longo desses 10 anos, medimos todas as informações de crescimento das árvores e auditamos todas as informações financeiras e custos. Com isso, hoje conseguimos projetar as colheitas em cortes seletivos e consequentemente calcular o fluxo de caixa da empresa”, explica.
Bruno hoje mantém uma agrofloresta em Trancoso, distrito de Porto Seguro (BA). Ele conta que investiu em espécies que mais se destacaram nas pesquisas. “Temos aqui Jacarandá da Bahia, Ipê Amarelo, Jequitibá-Rosa, Angico Vermelho, Louro Pardo Ipê Felpudo, Vinhático, Aderne, entre outros”, diz.
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